8 de abril de 2014

The Sniper por BabySuhBR (Finalizada)

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Estava sentado no sofá depois de ter jogado todo o correio em cima da mesa de centro e pegado apenas na correspondência que me interessava. Aquela que sustentava minhas contas bancárias. Abri o envelope castanho claro, cheio de um saco de bolhas por dentro como se transportasse algo quebrável. Soltei uma risada com essa idéia. Retirei a pasta de dentro do envelope e depois de ver a primeira folha, que dizia CONFIDENCIAL, li a ficha com meu(s) próximo(s) alvo(s).



Sorri um largo sorriso quando fechei a pasta e a joguei sobre a mesa. Esse era um trabalho que há muito eu queria fazer. Acabar com aquele idiota do Félix que muito interferiu no início da minha carreira.


Será que seria pertinente fazer uma ficha sobre mim? Eu dispensaria o CONFIDENCIAL.
Bom, meu nome é Jacob Black e tenho 27 anos. Trabalho como Sniper há 11 anos.
Sou órfão de pai e mãe e não tenho qualquer família. Então, como todo o bandido que se preze, eu fui escolhido para ser treinado para esse tipo de serviço. Sem família, sem laços de amizade, um cara revoltado com a vida, sem um pingo de Fé ou credibilidade em qualquer tipo de Religião…o cara ideal para esses bandidos “acolherem”.
Me tiraram do orfanato com 11 anos e desde o primeiro dia fui treinado para todo o tipo de situações. Me ensinaram as mais variadas Artes Marciais, de todos os tipos de origem, desde artes chinesas, japonesas, tailandesas, coreanas a ocidentais. A maior parte envolve lutas corpo a corpo, mas há outras lutas que requerem armas. Aprendi estilos de artes marciais como Kong Fu, Karate, Jiu-Jitsu, Taekwondo, Krav Magá e Capoeira.
Se me perguntarem se eu sei diferenciar todos e cada um e dizer qual golpe é referente a qual estilo marcial…lamento desiludir mas não sei. Está tudo tão enraizado em meu corpo, em meus músculos, meus reflexos e em minha mente que se tornou automático. Basta alguém vir lutar comigo um desses estilos e eu saberei me defender e saberei como contra atacar.
Para além das artes marciais me ensinaram também a atirar, a fazer mira… E eu me tornei o melhor de todos, por isso fui escolhido para ser Sniper.


Nos meus primeiros anos trabalhei em uma Empresa, se é que se podia chamar aquela Organização Secreta e ilegal de empresa.
Eles “acolhiam” várias crianças órfãs, como eu, e as treinavam para trabalhar para eles.
As recompensas dos serviços…nós nunca víamos um cêntimo que fosse.
Os Mestres diziam que parte das recompensas iam para nossa conta bancária particular, mas era tudo mentira.
Foi por causa disso que quando eu completei 21 anos eu me vim embora. Nós não tínhamos quaisquer contratos. Eles apenas tinham nossas certidões de nascimento e nossas identidades. E bem, eles não facilitaram em nada minha saída. Ainda hoje sou meio que perseguido por eles, pelo simples fato que eles me querem de volta. Eu era o melhor de todos e para eles não foi fácil eu dizer ‘Adeus’. Principalmente para meu Mestre.
Agora eu estava por conta e serviço próprio. E com muito gosto. Era bem melhor trabalhar sozinho sem pressões e sem regras e com muito boas compensações.


Bom, deixando de falar de mim e voltando ao serviço em questão.
Tinha três dias para aniquilar Alice e Félix. A garota ia ser fácil. Apesar de ser ágil ela era muito distraída. Dificilmente iria notar minha presença.
Os meus métodos de trabalho eram dois. Corpo a corpo ou mira. Nesse caso eu iria usar corpo a corpo. Estava mortinho para acabar com Félix.
Minha história com ele era longa.
Félix trabalhou para a Empresa durante a época em que eu fui recrutado. Ele fornecia o armamento para os treinos e fazia a manutenção de todas as armas.
Logo nas minhas primeiras semanas de iniciação de manejamento de armas, ele estava presente, e bom, nossa empatia era nula. Eu não ia com a cara dele e ele não ia com a minha. Mas o único que saia prejudicado era eu.
A ‘nossa’ história não tem muito enredo, apenas ódio o suficiente para eu ter um prazer enorme em acabar com ele.


Não estava para perder tempo nesse serviço. Pelo contrário. Quanto mais rápido o realizasse, melhor seria para mim. Habitualmente eu pegava no tempo limite que tinha de serviço para estudar os alvos e para me certificar dos locais e horários que me eram indicados nas infos, mas dessa vez eu não iria verificar nada.
Se era uma atitude impensada. Podia ser, mas quem disse que eu gostava de pensar?


Faltavam quatro horas para as duas da madrugada e o clube “Astro” ficava a hora e meio do local de onde eu morava.
Morava em um estúdio grande e simples, em cima de uma cobertura de um prédio antigo. Era um local um pouco afastado do centro da cidade, em Buffalo, NY. A rua, apesar de extensa, era pouco movimentada com apenas três lojas de comércio. Um restaurante, bem em frente ao meu prédio, uma mercearia, numa ponta da rua, e uma farmácia, na outra ponta oposta da rua. O resto eram tudo casas e prédios, a maior parte desabitados.


Me encaminhei até o refrigerador e tirei uma refeição rápida da geladeira a colocando no microondas. No tempo em que a comida esquentava eu fui tomar uma ducha rápida e trocar de roupa. Vesti uma calça militar preta, umas botas de guerra verdes escuras e um pólo de gola alta de malha em cinza escuro. Comi a refeição, bem rápido, e em seguida me dirigi para o armário da entrada, que tinha uma parede falsa onde eu guardava um saco grande com todo os materiais que eu precisava para completar meus serviços. Coloquei a alça do saco no ombro depois de ter vestido meu casacão preto, pela altura dos joelhos.
Dei uma última olhada na pasta confidencial e sorri a jogando sobre a mesa da entrada.


~~*~~


Quarta – feira: 20.10.2010 - 01h48


Estacionara meu Audi53, preto, com vidros escurecidos, no final da rua onde ficava o clube. De onde eu estava dava para ver perfeitamente a entrada do clube e as traseiras.
Estava terminando de colocar ligaduras em volta das mãos e pulsos escutando uma ópera de Wagner. Música clássica nessas alturas me relaxava. Acho que se tornou um hábito. Sempre que meu Mestre me treinava ele colocava uma seleção de músicas clássicas tocando. A princípio me irritava e me tirava a concentração, mas logo fui aprendendo a canalizar todos os meus sentidos e a absorver e me focalizar apenas no meu treinamento.


Não foi preciso esperar muito mais para ver o casalzinho saindo. Eles estavam conversando com alguém que carregava uma maleta preta. Alice apertou a mão do cara depois que este lhe entregou a maleta. O cara se despediu entrando em um carro blindado, que fazia um carregamento de algumas caixas vindas no armazém do fundo do beco. Armas, muito provavelmente. Félix tornou a entrar com a maleta seguido por dois seguranças e Alice ficou ‘desprotegida’ no beco.


Saí do carro caminhando imperceptivelmente em direção ao beco. Alice estava de costas para mim, de braços cruzados, esperando seu marido voltar.
Meus passos eram silenciosos e quando eu coloquei uma mão no seu ombro, Alice deu um salto se apoiando na parede com o susto.
Assim que ela se virou, sua expressão foi de furiosa para maliciosa, arqueando uma das sobrancelhas e sorrindo torto. Colocou uma mão na cintura, mordendo o lábio ao tempo que me analisava de alto abaixo, e depois me sorriu.


-E você quem é? – Ela perguntou o mais sedutoramente possível.


Se ela não fosse um alvo a abater, bem que eu pegava ela de jeito. Apesar de baixinha, Alice tinha um corpo bem delineado e uns lábios totalmente apetecíveis. Eu devolvi o sorriso e percebi ela prendendo a respiração.
É, meu sorriso tinha esses efeitos nas mulheres. Mas pena que ela não percebeu minhas segundas intenções por detrás daquele sorriso. E elas não eram nada boas…mesmo.
Alice começou se incomodando com meu silêncio e quando ela olhou para as minhas mãos enfaixadas, ela estreitou os olhos.
Fingiu virar costas para voltar para dentro do clube, mas, pensando que me iria pegar desprevenido, Alice ergueu a perna o mais rápido possível a girando para trás, na minha direção, na altura do meu peito. Eu travei seu golpe com ambas as mãos, pegando em seu tornozelo e o acariciando, ao mesmo tempo que o apreciava. Alice bufou de irritação tentando se soltar de mim, mas foi inútil.
Então ela ganhou lanço para o ar com a outra perna, aproveitando que eu a segurava, servindo de apoio, e tentou me acertar com a outra perna no rosto.
Bem que tentei desviar o rosto do seu pé, mas o seu salto era bem comprido e acabou raspando em meu rosto, abrindo um corte bem superficial.
Com o golpe ela se soltou de mim tentando me atacar de novo com uma rasteira, que eu saltei em uma cambalhota para trás. De novo ela me atacou com um murro no estômago, outro no rosto e mais um pontapé no joelho. Desviei dos dois primeiros golpes, mas o último não consegui evitar, caindo sobre o joelho atingido.
Limpei o sangue que escorria da ferida que ela abrira com o salto fino dela e estalei o pescoço o girando para um lado e para o outro.
Cansara de brincar de luta e quando me tornei a erguer, Alice já vinha tentar outro golpe no meu rosto com o seu punho. Eu desviei para o lado esquerdo, pegando em seu braço e puxando seu corpo contra o meu, a mantendo de costas para mim. Rodeei seu delicado pescoço com meu braço malhado e o apertei, apertei, apertei…e continuei apertando. Ela bem que se tentava debater, mas seu físico e sua força não eram nada comparados comigo.


Félix apareceu bem na altura em que eu jogava o corpo inerte de sua esposa a um canto do beco. Seu rosto ferveu e seus olhos faiscaram de raiva. Eu podia jurar que ainda escutara meu nome saindo feito lava de vulcão pela boca dele, mas essa era apenas uma suposição, porque antes que eu tivesse tempo de sequer pensar em algo, tive amparar um golpe de Félix.
Ele veio para cima de mim com tudo, encaixando seus braços em torno da minha cintura e me empurrando com seus ombros e com toda a sua força de encontro à parede.
Agora sim ia ter luta. Minhas costas doeram, obviamente, mas eu já estava tão habituado à dor que tão rápido quanto eu a senti, eu deixei de a sentir. Em segundos dei uma cotovelada na espinha das costas dele e uma joelhada em seu peito, me soltando dele e esmurrando, em um último golpe daquela sequência, seu rosto. Félix cambaleou um pouco mas logo se recompôs, dando um salto no ar com ambas as pernas, as encaixando em meu pescoço e me atirando em uma cambalhota para trás dele. Golpeei suas pernas, na zona das articulações dos joelhos com as laterais das palmas das mãos, que estavam retesadas, tornando o golpe tão ou mais doloroso quanto um murro de punhos fechados. Félix logo cedeu, mas tão rápido ele se virou para mim que acertou um murro em meu estômago. Em um novo salto para trás eu me ergui, me afastando centímetros dele para poder contra atacar. Félix não descansou enquanto não me acertou de novo no estômago, mas eu fui mais rápido, arqueando as costas para trás e desferindo um golpe de palmas abertas em direção ao peito dele. Logo Félix perdeu todo o ar que precisava e ofegou durante o tempo suficiente para eu dar meu golpe final. Um pontapé letal no seu peito, que faria seu coração parar de bater. Um pontapé tão forte quanto a voltagem de um desfibrilhador.
Félix caiu no chão tão lentamente quanto eu podia captar o momento.


Eu conseguira acabar com ele. Félix estava acabado.
Só esse simples pensamento inflamava o meu peito de tal modo que se tornava difícil respirar. Um sorriso vitorioso e iluminado rasgou em meus lábios enquanto eu ficava olhando Félix nunca mais acordar.
Eu contava os segundos, como os juízes de uma luta de Wrestling, esperando ele tornar a se erguer para retomar o combate, ou dar por fim a vitória ao outro lutador. Mas ele não se reergueu. Sequer respirava, mas eu ainda tinha a esperança de um novo round.


Acabei perdendo a noção do tempo em que ficara ali, observando Félix apagado, quebrando assim a minha primeira regra: Sair a tempo.
Só percebi que era tarde demais quando vi os dois seguranças de Félix correndo atrás de mim.
Eu odiava matar pessoas que não estavam dentro da minha lista de alvos, mas nesse caso era matar ou morrer.
Retirei a minha GLOCK, com silenciador, tão rápido quanto possível, atirando dois tiros certeiros no meio da testa de cada um.
Depois disso voltei para casa. Logo estaria amanhecendo e eu iria querer comemorar em grande.



Acordei por volta das 10 horas. Havia pegado no sono ferrado. Não dormia assim tão bem fazia anos e essa minha disposição se devia ao serviço da madrugada anterior.
Tive de tornar a pegar na pasta para ter certeza que o serviço tinha sido feito. Era quase como um sonho de criança realizado.

Despi a única peça de roupa que eu dormia, minha calça pijama azul escura. Dependendo da época do ano e do calor que fazia, havia dias que eu dormia completamente nu. Eu era um cara quente. Vivia morrendo de calor e a justificativa para eu ter vestido ontem a calça era porque estavam 5º negativos e o meu amigo estava meio murcho de frio.
Me coloquei debaixo do chuveiro tomando uma ducha relaxante mas pouco demorada. Logo saí indo até meu roupeiro escolhendo a roupa que iria usar agora.
Escolhi uma calça jeans surrada, em azul-escuro e uma camisa cinza clara de manga curta com botões em preto. Calcei umas botas da Timberlake, em azul-escuro e vesti meu blusão de couro preto, estilo motoqueiro. Peguei apenas minha carteira, as chaves de casa e uns óculos de sol Ray Ban, estilo aviador, com lente preta e aro prateado e saí de casa.

Não era preciso pensar muito para escolher um local para comemorar. Sequer teria de andar muito. Apenas atravessei a rua e entrei no Wagner Happy Food, o restaurante em frente ao prédio que eu morava.
Os motivos? Era meio difícil de explicar. Talvez se eu detalhasse o que me levava a ir lá comer sempre…
Abri a porta e quase como que automaticamente, senti seu cheiro me atingir como um doce soco no rosto. Morangos, amêndoas e mel. Uma combinação apetitosa de fazer crescer água na boca.
Corri meus olhos pelo estabelecimento mas não a vi. Franzi a boca em descontentamento e escolhi um reservado, bem no fundo do restaurante. O mais oculto possível dos olhares alheios. Como se eu quisesse ser notado.

Peguei no cardápio e olhei meu relógio de pulso constatando que já havia passado a hora do café da manhã, mas ainda era cedo demais para um almoço. Então faria um brunch¹.
Edmund Wagner logo notou minha presença e bateu no balcão chamando a atenção de sua filha.

-Jane, vá atender a mesa 15. – Ordenou olhando para mim pelo canto do olho.

Jane veio prontamente, com seu típico sorriso amável e seu ar angelical impossível de se contestar.

-Bom dia Jacob. Hoje você veio mais tarde. O que você vai querer tomar? – Jane me cumprimentou, comentando casualmente meu atraso.

Com ela eu poderia ter toda a certeza que o comentário era realmente casual. Jane era a única atendente que eu deixava pegar meus pedidos. Talvez por seus olhos passarem uma total harmonia e alegria para mim.
Bem, há dois meses atrás ela era a única que eu deixava me atender, mas agora…eu meio que andava reconsiderando.
Apesar de nunca ter sido atendido por ela, e por diversas vezes ter ponderado dispensar os serviços de Jane e exigir os serviços dela, eu nunca chegava a ter coragem para chegar nos “finalmentes”.
Droga…acabei de admitir que eu não tenho coragem para enfrentar uma simples garota totalmente inofensiva…e delicada…e misteriosa…

-Cheguei tarde de um grande acontecimento. Mas ainda vim para comemorar. – Lhe dei um grande sorriso que a pegou desprevenida.

Era raro eu esboçar um sorriso. Era raro eu esboçar qualquer tipo de emoção que não uma enorme carranca.
Jane arqueou as sobrancelhas e entreabriu a boca me olhando admirada, mas logo se recompôs me tornando a dar aquele sorriso doce que quase sempre desamarrava minhas expressões duras.
Jane nada comentou pois ela me conhecia o suficientemente bem para perceber que eu não tinha certas “intimidades” com quem quer que fosse, mesmo com ela.

-Eu vou querer, para começar, ovos mexidos com tiras fritas de bacon e uma pequena porção de feijão vermelho, sem molho. Depois pode me trazer um misto quente com mortadela, em vez de fiambre e uma porção grande de batatas fritas sem sal e bem secas. Entretanto pode ir preparando um bife gordo, mal passado, com sangue, e uma porção de arroz branco, com pouco sal. Para beber eu gostaria de uma jarra de vinho branco, com pedaços de uvas, e uma garrafa pequena de água com gelo e uma rodela de limão. A sobremesa eu peço assim que eu estiver terminando de comer. – Fiz meu extenso e rigoroso pedido lhe entregando o cardápio.

Jane não se espantou com meu pedido. Era habitual eu pedir montanhas de comida como um sem abrigo esfomeado que não come há semanas. Meu apetite era voraz e insaciável. Mas as minhas exigências eram típicas de um prepotente novo-rico. Insensível e snobe. Apesar disso ela nunca se abalava ou se aborrecia.
Assim que Jane saiu do meu campo de visão, eu a vi. Esbelta, simples, com uma ténue auréola de sensualidade em torno de si, imperceptível a olhos comuns. Seus cabelos castanhos ondulados, com leves reflexos avermelhados, estavam presos em um coque alto. Vestia uma blusa desbotada, velha e larga e umas calças igualmente velhas e largas e por cima o usual avental vermelho, com o emblema do restaurante do lado direito e a pregadeira com o seu nome do lado esquerdo. Seu ar era cansado. Uma pequena mancha escura se formava em baixo de seus olhos, mas ela sempre tinha um sorriso estampado no rosto. Como se quisesse mostrar que o que quer que a cansava, lhe dava igual prazer.

Fiquei a admirando durante tempos infinitos. Mesmo quando meus pedidos vieram e eu estava comendo, eu não conseguia desviar os olhos dela. Ela era como um íman poderoso que me compelia a manter os olhos fixos nela, admirando e venerando sua beleza e sua graciosidade.

Todas as outras imagens eram como meros borrões em torno dela, e os sons se tornavam apenas sussurros quase inaudíveis.
Eu me concentrava ao máximo para escutar seus passos, sua respiração, seu coração…como se isso fosse realmente possível. Mas em meu imaginário…em meu mundo…tudo o que envolvesseela era possível.

-Estava tudo bom? – Jane perguntou me despertando para a realidade.

Tentei fazer uma carranca, mas era quase impossível quando eu olhava o sorriso de Jane. Ela não notou minha oscilação de humor e levantou os pratos da mesa cuidadosamente.

-Estava sim. Estava tudo perfeito. – Sorri curtamente.

-E o que você vai querer de sobremesa?

Pergunta pertinente.
Nesse momento eu queria algo com morangos, amêndoas e mel. Mas esse algo não seria bem comestível.
Olhei novamente e fixamente para ela ponderando – e controlando – minha resposta. Jane notou meu olhar e conteve um sorriso que me despertou novamente para a realidade.

-Eu não vou querer nada, afinal. Me traga apenas a conta. - Pedi

Perdera a vontade de comer sobremesa. Pedir algo para enganar o desejo por outra coisa, só alimentaria mais a vontade de a ter.

Porra, o que está acontecendo comigo? Que sensações são essas que meu corpo sente sempre que a vejo? Porque meu coração acelera, minha respiração descompassa e meu corpo amolece quando estou no mesmo ambiente que ela? Porque meus olhos e minha mente se focam somentenela como se mais nada no mundo, em meu redor e ao redor dela, existissem?

Apressado, cansei de esperar pela conta e coloquei duas notas de 20 dólares sobre a mesa, sequer me importando com o troco.
Sai do restaurante bem na altura que ela retornara à cozinha, evitando que a meio do caminho eu acarregasse no colo e a raptasse para minha casa usando e abusando de seu corpo, de seu amor ea tornando no meu mais saudável e prazeroso vício.

Assim que cheguei em meu prédio, Bernard, o porteiro, me entregou o correio daquele dia. Para meu total espanto havia mais um daqueles envelopes grandes, em castanho claro, com um revestimento de sacos de bolhas e uma pasta confidencial com um novo serviço.
Nem esperei para chegar em meu apartamento para abrir o envelope. Assim que as portas do elevador se fecharam rasguei a parte superior do envelope retirando a pasta e a abrindo, dando apenas uma examinada nas fotos dos alvos.

Tornei a fechar a pasta e a guardá-la dentro do envelope e quando o elevador se abriu para a cobertura eu saí, caminhando em frente e empurrando a porta das escadas de incêndio, subindo o último lance em direção ao Estúdio, que era a minha casa.
Retirei meu blusão de couro o jogando sobre a poltrona, do espaço que era a sala, e me sentei no sofá tornando a abrir a pasta e a lendo.


Estranhei terem mandado dois serviços em dias seguidos, mesmo que as datas do cumprimento fossem espaçadas. Ainda tinha dois dias para cumprir o prazo do outro serviço, mesmo que já o tivesse cumprido. E nunca era comum ele mandar dois serviços ao mesmo tempo, sem que um já tivesse passado o prazo limite.
Quem é ele? Poucas informações tenho do cara que me contrata, mas ao que pude apurar, ele é o braço direito de um Senador que vive com a mania que é um mafioso de alta estirpe e que Buffalo éa sua área.


Antes de Buffalo eu vivia em Boston, e antes em Baltimore, e antes em Detroit, Indianópolis, Memphis, Tulsa, Dallas, Albuquerque, Denver, Phoenix, San Diego, Sacramento, Tucson, Portland, Seattle e por fim, de onde eu sou originário, onde eu nasci e de onde meus pais eram,Forks, mais precisamente La Push, uma Reserva Indígena da zona de Washington.
Nunca fico mais de 5 meses numa mesma zona. Meu prazo aqui em Buffalo está terminando. Antes de Janeiro sou capaz de me mudar, para onde quer que o destino me leve. Talvez Massachusetts, Vermount, New Hampshire, Maine…quem sabe não tente meus horizontes no Canadá!


Mas apesar das questões que me assolaram pela surpresa do imediatismo com que ele me despachou os dois serviços, eu ainda tinha uns dias de ‘férias’ que iria aproveitar relaxadamente.


~~*~~


Sexta – feira: 29.10.2010 - 01h13 A.M.


Estava posicionado no telhado do prédio em frente ao restaurante “Chez Pablo”. Um restaurante Italiano de cinco estrelas, muito bem conceituado pelas críticas mas com uma péssima clientela.
Minha Sniper já estava posicionada em cima do apoio. Estava apenas dando umas últimas vistorias no silenciador, na recarga das balas e no regulador da lente da mira.
Examinei as horas no meu relógio digital esportivo da Swatch, à prova de água, com funções de cronómetro, temporizador, calendário e alarme, que eu havia comprado na Europa, uns anos atrás. Faltavam poucos minutos para a hora de fecho do restaurante.


Já havia visto mais de quatro dúzias de pessoas entrando e saindo daquele restaurante sem que em nenhum desses grupos os irmãos Volturi estivessem incluídos.
Chequei novamente as horas e depois olhei para a entrada do restaurante vendo mais um grupo de pessoas saindo. Três mulheres entre os 15 e os 35 anos, duas crianças, entre os 3 e os 8 anos e dois homens. Logo os reconheci como sendo os irmãos Volturi.
Aquela imagem de família tipicamente americana, feliz e reunida não se encaixava de todo naqueles vermes, mas a simples presença de crianças, sendo que uma delas estava no colo de Demetri Volturi, me fez hesitar durante vários minutos. Quase tantos que os perderia de vista. E assim estava quebrando minha segunda regra: Nunca hesitar.


Por pouco não perdia um dos meus alvos, que estava entrando no carro.
Olhei na mira, ajeitei a Sniper um pouco mais para a esquerda e atirei certeiramente na cabeça de Caius.
O alvoroço logo se instalou e as costas de Demetri estavam perfeitamente na minha mira, mas de novo hesitei.
Se eu atirasse nas costas dele, a bala perpassaria o peito dele e atingiria a criança. Tinha de arranjar outro modo.
Mas a minha nova hesitação tirou ele do meu alcance colocando a mulher na minha frente, mesmo que despropositadamente.
Bufei de irritação e retirei a Sniper do apoio, guardando meus materiais no saco e retirando a GLOCK da parte de trás das calças. Teria de atirar nele a uma curta distância.


Desci as escadas do prédio em pulos de lances de três a quatro degraus de uma vez e logo cheguei à rua. Demetri já embainhava uma arma em sua mão, apontando em todas as direções. Seus olhos estavam marejados e enraivecidos.
As crianças se encolhiam nos corpos das mulheres que choravam de medo e pela perda.
Lamentavelmente elas tinham feito péssimas escolhas em relação aos seus maridos. Não pelo trabalho que eles faziam, mas porque eles estavam na minha lista de alvos a abater.
Se fosse em outras circunstâncias, eu o deixaria viver, mas eu era pago para isso - muito bem pago - e não poderia colocar sentimentos na frente dos meus serviços.
Mas esperem um pouco. Desde quando eu tenho qualquer tipo de sentimentos em relação aos alvos que tenho a abater? Mas que diabos está acontecendo comigo?


Minhas divagações se desvaneceram com o som de um tiro saído da arma de Demetri. Por sorte meus reflexos agiam quase que automaticamente antes que eu pudesse pensar e perceber o que estava acontecendo.
Mais uma coisa que estava mudando em mim. Desde quando eu pensava tanto? Desde quando eu pensava durante meus serviços?
Trinquei os dentes, pressionando a mandíbula e apontei minha arma na direção de Demetri. Ele estava pronto a disparar novamente, não fosse seu filho mais novo ter corrido em sua direção o distraindo tempo suficiente para eu acertar um tiro em seu peito. Demetri desfaleceu no alcatrão da rua com o filho agarrado à sua perna. A criança me olhou com os olhos esbugalhados.


Aquela imagem simplesmente me deixou de rastos.
Comprimi os olhos, os impedindo de aguarem e corri em direção ao meu carro, dando partida o mais rápido possível. Os pneus chiaram no asfalto à medida que eu pisava mais fundo no acelerador. Esta tinha sido uma das piores noites da minha vida…incompreensivelmente.


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¹ Brunch é a junção das palavras breakfeast (café da manhã) e lunch (almoço).


Se haviam passado quase duas semanas desde meu último serviço e eu não saíra de casa nem para ir no WHF¹. Sentia como se minha vida não valesse mais a pena. Eu nunca pensava muito naquilo que fazia. Isto é, eu nunca pensava muito no meu trabalho ou nas consequências que isso poderia trazer. Não para mim mas para outros.
Para mim os alvos eram simplesmente isso. Alvos. Não eram pessoas, não eram amigos, filhos, pais de família, maridos ou namorados. Apenas alvos. Como se fossem pessoas sem alma, sem vida. Apenas alvos a abater que não fizessem qualquer diferença se estivessem vivos ou mortos.
Mas na outra noite eu percebi o quanto estava errado.


A imagem daquela criança sofrendo por seu pai. A imagem daquelas mulheres chorando por seus parceiros. A imagem de Demetri enraivecido pela morte de seu irmão… Era real. Eles eram pessoas. Pessoas com sentimentos. Pessoas com famílias. Pessoas que eram amadas. Por mais abominável que fossem seus erros e seus passados, eles eram pessoas.
Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos confusos. Um slide descontrolado de imagens deslocadas e sem sequência de todos os meus serviços, de todas as vidas que tirei…


Olhei para meu relógio constatando que era 00h08. O WHF fechava à 00h00, mas os funcionários só saiam de lá por volta da 00h15. Ainda teria tempo.
Pouco me importei com a roupa que vestia. Peguei apenas no meu casacão comprido preto e desci para a rua.
Minha cabeça estava a ponto de explodir e eu precisava de algum alívio. A bebida era o meu único alívio para momentos como esse. Não é que eu tivesse muitos. Como se eu tivesse consciência pesada para alguma coisa!
Diabos! Como eu fiquei tão lamechas desse jeito? Desde quando eu tinha consciência para essas coisas? Aah, droga! Minha cabeça está um lixo!


Atravessei a rua em passos largos e apressados e quando ergui o rosto a vi colocando a placa defechado na porta. Bati com as mãos no vidro a sobressaltando e girei a maçaneta insistentemente.
Antes de fechar a cara para mim ela me olhou meio abalada, meio assustada, para depois apontar insistentemente para a placa. Eu montei uma carranca furiosa e continuei batendo no vidro forçando a maçaneta.
Jane apareceu atrás dela e abriu a porta para mim.


-Jacob. Nós já fechamos. Você está bem? – Jane perguntou alertada olhando para o meu rosto preocupada.


-Não, não estou. – Falei sinceramente, mesmo que ao que ela se referisse não tivesse minimamente a ver com ao que eu me referia.


-Emmett. Me ajude aqui. – Ela chamou alguém.


Um cara grandalhão apareceu apressadamente olhando para mim com o cenho franzido.


-Quer que eu ponha o cara daqui para fora? – Perguntou ameaçadoramente e eu fechei os punhos.


O cara não era páreo para mim. Ela permaneceu olhando para mim ameaçadoramente e Jane apenas escancarou a porta para trás.


-Por favor amor, traga Jacob para dentro. – Ela pediu para espanto de todos, menos para o meu.


-Jane, vocês têm de sair e eu não posso ficar aqui para sempre. – Ela brigou com a amiga.


-Eu fico com ele e depois o levo para casa. Podem ir embora. – Jane avisou depois que o tal de Emmett me carregou para dentro do restaurante.


Como se eu precisasse realmente de ajuda. Ela olhou para mim de relance e bufou de irritação ao tempo que cruzava os braços.


-Tudo bem. Eu fico com…ele. – A palavra final saiu quase como um rosnado controlado. – Vocês merecem essa folga agora que o Emmett voltou da Força Aérea. – Sua voz se tornou doce o que me extasiou por completo.


-Você tem certeza? Eu posso ficar com ele. Até porque ele só gosta de ser atendido por mim. – Jane sussurrou a última frase para ela.


-Se você tem coisas combinadas, pode ir Jane. Não vou me importar de dessa vez ser atendido por…ela. – Tentei controlar o gemido de satisfação por pensar em ficar com ela a sós, mas a palavra se converteu em um rosnado furioso que ao invés de a assustar, a fez formar uma expressão furiosa de quem estava a segundos de estilhaçar alguém. Nomeadamente eu.


-Tem certeza? – Jane perguntou a nós dois, como se só se dirigisse a mim.


-Absoluta. – Lhe sorri curtamente.


Jane se despediu da amiga com um beijo e foi ter com o namorado olhando perscrutadoramente para mim.


-Até mais, Bellita! – O tal Emmett, namorado de Jane, se despediu dela com um enorme sorriso, com umas covas nas bochechas.


-Se precisar de alguma coisa me liga. – Jane alertou.


-Ok. – Sua voz suou falha.


Antes de se virar para mim ela suspirou profundamente, tornou a amarrar o avental na cintura e a amarrar seus belos fios no topo da cabeça.


-O que vai querer? – Ela tentou não soar rude e eu me culpei por estar atrasando mais seu descanso.


-Me desculpe por isso… - Eu nem sabia como falar e o que falar. – É melhor eu ir embora. Desculpe de novo. – Abanei a cabeça me erguendo do reservado e me encaminhando para a saída.


Ela me agarrou o braço e me parou. Não que ela tivesse força suficiente para isso, mas o toque de sua mão em meu braço me travou por completo. Lentamente olhei para ela. Sua expressão foi um pouco indescritível. Seu rosto demonstrava um espanto contido misturado com uma certa fúria, mas seus olhos brilhavam. Ela era um misto de contradições completamente envolventes. Me dava uma enorme vontade de a desvendar, de a conhecer melhor.


-Agora que você já perturbou, acabe com o serviço e peça aquilo que você tanto quer. – Elaacordou do transe cuspindo as palavras.


Seria pouco aconselhável se eu pedisse o que eu queria. Eu a queria.
Sorri automaticamente com esse pensamento o que a fez franzir o cenho e soltar sua mão do meu braço ao tempo que caminhava para trás do balcão.
Eu a segui me sentando em um dos bancos giratórios em frente ao balcão.


-Então. O que vai querer tomar?


-J.B. 25 anos. Tem?


Ela nada respondeu e apenas se virou para as prateleiras atrás dela, com uma seleção rigorosa de bebidas e pegou em uma das garrafas com o invólucro escondido.
Pegou em um copo de whisky e o encheu com a bebida.


-Duplo, por favor. Com três pedras de gelo. – Comecei com minhas exigências.


Ela me olhou de relance, como se quisesse me dardejar com seu mar de chocolate e eu não pude conter um sorriso, que ela supostamente não percebeu. Ou fingiu não perceber.


-Você costuma ser assim? – Perguntei quando ela praticamente me atirou com o copo para cima do balcão.


-Assim como? – Perguntou com uma mão na cintura.


Eu não lhe respondi de imediato. Peguei no copo e beberiquei da minha bebida tão lentamente quanto possível. Meus olhos permaneciam fixos nela e em seu rosto, que começava adquirindo uma leve tonalidade rosa.


-Arisca. – Por fim respondi passando a ponta da língua pela linha de líquido que a bebida tinha deixado em meus lábios.


Percebi sua bílis subindo e descendo em sua garganta enquanto ela engolia em seco.


-Só quando enchem muito minha paciência. – Murmurou apenas para si e eu apenas fingi que não havia escutado.


-Me fale de você. – Pedi e ela me olhou com as sobrancelhas arqueadas. – Preciso de me distrair. – Pedi quase que derrotadamente.


As imagens começavam surgindo novamente e eu queria ao máximo mantê-las fechadas, atrás de uma porta de aço, em minha mente.


-Qual é o seu drama? – Questionou debochadamente.


-Prefiro falar sobre você. – Desviei os olhos dos dela me acomodando no banco.


-Sabe. Eu pensei que quem ficava atrás do balcão é que costumava escutar as lamúrias dos clientes. E não o contrário. – Ela cruzou os braços se encostando ao armário atrás dela, se mantendo o máximo possível afastada de mim.


-Eu não tenho lamúrias. Você tem? – Provoquei botando abaixo de uma vez o resto da bebida que ainda restava no copo.


-Você vai mesmo me obrigar a falar da minha vida? – Quase choramingou.


-Eu não vou obrigar você a nada. Apenas vou insistir bastante para você falar, até…que você fale. – Sorri maliciosamente e ela também não conteve uma risada.


-E porque você quer saber de mim? – Perguntou com um sobrolho erguido.


-Eu não quero saber de você. – Menti. – Perguntaria a mesma coisa se fosse Jane que estivesse aqui…ou outra qualquer. – Continuei mentindo. – Apenas quero manter conversa. E como eu não sou muito de falar…


-Não é o que parece. Não parou de fazer perguntas e exigências desde que chegou aqui. – Me acusou sem um pingo de receio na voz.


Mais uma vez ela demonstrava ser totalmente diferente das outras. E isso me fascinava totalmente.
Eu fiz o gesto de um zípper se fechando em minha boca e a olhei furtivamente.
Ela se remexeu incomodada e soltou os cabelos. Eu tive de prender a respiração. Porque pura e simplesmente o ar sumiu de meus pulmões. Como ela conseguia ser tão linda, delicada, sensual e ao mesmo tempo tão simples e comum? …Completamente encantadora e irresistível.


-Meu nome é , mas todos me tratam por . Eu prefiro que me tratem por . – Se corrigiu. – Tenho 26 anos…eu não tenho muito jeito para isso. – Bufou batendo as mãos nas pernas e eu apenas estendi o copo para que ela me servisse de mais.


Ela pegou de novo na garrafa me servindo o copo quase cheio e depois colocou três pedras de gelo, me entregando o copo em seguida e me olhando inquisitiva.


-Não vai falar nada? – Perguntou.


-Você que reclamou que eu estava falando demais. – Provoquei e ela rolou os olhos.


-Melhor você fazer perguntas. – Pediu com uma mão, cruzando os braços em seguida.


-Família? – Perguntei e ela engoliu em seco abaixando os olhos.


-Órfã de pai e mãe. Sem irmãos. – Respondeu em um quase sussurro.


-Lamento imenso. Eu também só órfão. Sem irmãos. Nem ninguém. – Respondi no mesmo tom que o dela. – Namorado? – Perguntei em outro tom, mas a reação dela foi a mesma.


-Viúva. Com uma filha de 5 anos. – Respondeu mais cabisbaixa e eu engoli em seco quando senti um aperto enorme em meu peito, tão doloroso que meu coração ameaçou parar.


-Solteiro inveterado. Sem filhos. – Respondi no mesmo tom que o dela tentando compartilhar sua dor comigo. – Como ele morreu? – Não resisti a perguntar.


-Em um acidente aéreo. Edward tinha ido buscar meus pais. Eles estavam voltando de avião quando alguns pássaros entraram na turbina do avião parando os motores e o fazendo cair. – Contou.


-Isso foi há muito tempo? – Perguntei.


-Meio ano. – Vi uma lágrima solitária rolar por seu rosto me fazendo sentir um monstro por ter colocado minha curiosidade na frente dos sentimentos de .


-Me desculpe. Me desculpe. Eu sou um verdadeiro idiota. – Falei desconcertado.


-Isso eu não posso negar…mas você não teve culpa. – Ela fungou limpando as lágrimas e sorrindo forçosamente.


Eu puxei da minha carteira e paguei as bebidas saindo do restaurante o mais rápido que pude. Ainda pude escutar gritando meu nome e querendo ir atrás de mim. Mas eu fui mais rápido e entrei em meu prédio.
Henry, o porteiro que fazia o turno da noite, me entregou uma pilha de correio. Eu peguei a pilha sem sequer agradecer ou prestar qualquer atenção no correio e subi os seis andares pelas escadas de incêndio.
Assim que cheguei em casa bati a porta com força e caminhei até a sala me jogando sobre o sofá. Esfreguei as mãos no rosto sentindo uma vontade enorme de quebrar tudo à minha frente.
Como eu pude ser tão idiota, insensível…Minha linha de xingamentos foi interrompida pelo som do meu celular tocando.
O retirei do bolso das calças e encarei o visor com uma interrogação no rosto.


-Alô? – Atendi entediado.


-Sr. Black?


-Sim, quem fala? – Fui grosso.


-O seu contratador. – Meus músculos se tensionaram e minha mandíbula se cerrou. Me mantive em silêncio pensando porque razão eles estariam me contatando tão…diretamente. – Ouvi dizer que você não tem saído de casa e eu queria ter certeza que você ainda está em Buffallo e que vai realizar mais esse serviço que lhe enviei.


-Você anda me vigiando? – Rosnei pouco satisfeito.


-Apenas garantindo que você cumpre as regras. E então, vai cumprir o serviço que lhe enviei?


-Que serviço? – Perguntei vasculhando o correio e encontrando o maldito envelope castanho. – Só estou vendo agora. – Avisei colocando o celular em alta voz, o pousando em cima da mesa de centro e abrindo o envelope.


Assim que abri a pasta meus olhos saíram fora de órbita e meus punhos se cerraram de raiva.


-Mas que merda é essa!! – Bravejei colérico.


-Seu novo serviço. E espero que o cumpra direito. Estaremos de olho em você. – Terminou sua ameaça desligando o celular na minha cara.


-FILHA DA MÃE! – Gritei tacando o celular contra a parede e relendo pela segunda vez, agora atentamente, a encomenda.




Vocês se perguntam o porquê do meu ataque de raiva? Eu explico.
Porque eu conhecia Kate. Conhecia bem demais. Conhecia tão bem que até foi com ela que eu quebrei pela primeira vez uma das minhas regras. A terceira regra: Nunca se dar com ninguém fora do trabalho.


Eu estava sem tempo para pensar. Estava a um dia do prazo do serviço terminar e agora minha vida não vivia mais em função de minhas regras. E sim de minhas decisões. E a decisão mais difícil de se tomar nessa altura era: Matar ou não matar?
Minha cabeça tornou a fervilhar e eu só queria achar o botão de switch off ². Acabei pegando no sono no meio desse turbilhão de pensamentos. Acho que tinha finalmente achado o ditoso botão.


~~*~~


Sexta – feira: 12.11.2010 – 23h05 P.M.


Estava ali, na janela do prédio em frente ao escritório de Kate, sem ter certezas absolutas do que estava fazendo.
Eu nunca precisei de certezas. Eu apenas precisava das informações dos alvos a abater.


Um filme do tempo em que me relacionei com Kate passou pela minha frente. Kate foi a única que realmente se importou comigo. Ela me quis ajudar vezes sem conta a sair dessa vida que eu levava, mas eu devia tudo ao meu Mestre para o trair assim. E agora eu estava traindo a confiança e o amor que ela depositara em mim. Pela primeira vez eu estava com dúvidas sobre realizar ou não esse serviço.
Então eu a vi saindo do escritório e foi quando eu senti uma lágrima escorrendo por meu rosto. Abanei a cabeça em negação e retirei minha Sniper do apoio no mesmo instante em que a vi desfalecendo no chão. Olhei apressadamente pela mira e vi sangue jorrando de seu peito manchando sua gabardine bege. Alguém havia matado ela por mim!
Procurei insistentemente com a mira pelo segundo atirador e o vi no prédio do lado do dela guardando suas coisas apressadamente.
Eu fiz o mesmo e corri o mais rápido possível para fora do prédio a tempo de apanhar o outro atirador. Saquei da minha GLOCK e comecei disparando em sua direção. Ele se defendeu de meus tiros atrás de um carro e abriu fogo contra mim também.


Escutei ao fundo, ainda bastante longe de onde estávamos, o som das sirenes da polícia se aproximando.
Eu tinha duas opções. Caçar o filha da mãe até o ver morto, ou fugir. Optei pela primeira hipótese. Saltei por cima do carro o surpreendendo e antes que ele tivesse tempo de atirar contra mim eu já estava descarregando minha arma em seus miolos e peito.
As sirenes se aproximavam consideravelmente e eu não tive tempo para me despedir de Kate. Corri de volta para o meu carro e dei partida o mais rápido possível.
Só apenas dentro do carro eu percebi que meu braço tinha um raspão de bala. Mas isso era coisa para me preocupar mais tarde.


_______________________________________________________________
¹WHF – Wagner Happy Food
² Switch off: Tradução para desligar.


Era meia-noite e meia quando eu cheguei em casa. Retirei meu casacão sentindo uma ardência forte em meu braço direito. Com cuidado retirei meu pólo e analisei a ferida. Um pouco mais abaixo e teria atingido uma artéria e a essa altura eu estaria me esvaindo em sangue até a morte. E pensando bem não me parecia uma má idéia de todo. Havia perdido alguém muito importante para mim em tempos. Não que eu tivesse nutrido algum tipo de amor profundo. Eu nem sabia o que isso era. Apenas uma paixão…física. E carinho, muito carinho. A considerava mais como uma irmã. Uma melhor amiga com quem de vez em quando aliviava minhas necessidades.

Me encaminhei para o único banheiro do Estúdio e peguei na caixa de primeiros socorros retirando bastante algodão, faixas de gaze. O desinfetante tinha acabado, então teria de utilizar os métodos caseiros para limpar a ferida. Fui até o pequeno bar que eu tinha montado a um canto da sala e peguei em água ardente. Voltei para o banheiro com a garrafa, desenroscando a tampa com os dentes e a cuspindo para um canto qualquer. Inclinei meu barco para a frente, sobre o lavabo e apertei a mão, respirando fundo, ao tempo que o líquido derramava pelo gargalo da garrafa e caia por sobre minha ferida. Cerrei os dentes com a forte ardência, acompanhada pela dor que atingia meu braço.
Logo em seguida coloquei uma camada grossa de algodão na zona do raspão e o envolvi com os panos de gaze, dando um nó no final.
Depois disso fui me deitar, tentando achar de novo o botão de switch off que me havia feito adormecer da outra vez. Só que dessa vez o botão meio que tinha se evaporado.
A cena de Kate desfalecendo no chão, do sangue vermelho escuro manchando sua gabardine e da sua expressão horrorizada quando sentiu sua vida se esvaindo juntamente com o sangue que jorrava por seu peito, martelavam em minha cabeça como um Pica-pau perfurando a madeira insistentemente. Era doloroso.
Permaneci acordado a noite toda chorando silenciosamente e em meio a todo esse turbilhão de pensamentos, eu me apercebera de quando eu ficara tão sentimental desse jeito. E sem dúvida nenhuma tinha sido desde que ela entrara em minha vida.

~~*~~

Me remexi na cama sentindo minha cabeça latejar de tal forma conforme eu ia abrindo os olhos. Ajustei a vista e olhei para a janela constatando que ainda estava de noite. Me virei para o lado tateando no criado-mudo o meu relógio.
Assim que o peguei forcei um pouco a vista para perceber que horas eram. Franzi o cenho ao constatar que eram 22h43. Como o tempo poderia ter andado para trás?
Me sentei direito na cama me encostando na cabeceira e esfregando os olhos com a mão. Tornei a olhar o relógio e o calendário e percebi que havia dormido um dia inteiro. Já era sábado, 13 de Novembro. A dor de cabeça estava se tornando cada vez mais forte e eu não estava mais suportando. Me ergui para ir no banheiro procurar um remédio para aplacar a dor, mas não tinha nada. Teria de ir na farmácia. Tomei uma ducha rápida e troquei de roupa. Vesti uma camisa azul clara, com finas riscas brancas e uma calça de sarja preta. Calcei um sapato escuro e vesti por cima da camisa meu blusão de couro preto.
Assim que saí de casa e a luz das escadas de emergência se acenderam e incidiram em meu rosto senti meus olhos ardem pungentemente e consequentemente fazendo minha cabeça quase explodir como uma bomba relógio. Apertei o passo optando por descer as escadas de incêndio ao invés de descer pelo elevador. A oscilação da descida e a gravidade fariam minha cabeça por certo, ficar em papas. Assim que alcancei a portaria saí apressado ignorando os chamados de Henry.

Por sorte as luzes dos candeeiros das ruas estavam maioritariamente desligadas, como era típico, dando um ar mais carregado e sombrio à extensa rua. Com as fortes dores que me atingiram nem percebi quando cheguei em frente à farmácia, apenas me dei conta que tinha de parar devido à luz ofuscante que me atingiu vindo de dentro da loja. Cerrei os olhos tomando forças para entrar sem que minha cabeça estourasse. Caminhei apressado até o balcão esperando ser atendido.

-O que vai querer senhor? – Uma bela moça asiática me perguntou.

-Algo forte e rápido para enxaquecas. – Falei custosamente esfregando as têmporas.

Só me apercebi que não estava sozinho no ambiente quando escutei o som de alguém tossindo.

-Mamãe, está doendo. - A suposta menina que estava tossindo se queixou.

-O senhor já foi buscar o remédio, meu amor. Daqui a nada deixa de doer. – Meu corpo se tensionou quando eu reconheci sua voz.

Me virei para trás e a vi no outro balcão lateral, de costas para mim também. Ela parecia também não me ter notado e estava visivelmente preocupada.

A menina no seu colo, que logo eu percebi como sendo sua filha, me olhou fixamente com seus olhos chocolate, tal e qual os da mãe. Ela me sorriu e só então eu percebi que ela devolvera o sorriso que eu abrira para ela. E eu nem me tinha apercebido de quando começara lhe sorrindo.
Instintivamente comecei lhe fazendo caretas tentando abstrair dela a dor que ela sentia. A garota começou rindo e estranhou isso.

-Do que você está rindo, ? – perguntou e a menina apontou para mim.

se virou para trás me olhando totalmente surpresa. Nesse momento eu percebi que minhas dores de cabeça haviam sumido.

-Oi. – Me vi falando para ela, inconscientemente.

-Oi… - Ela me cumprimentou irresoluta.

-Oie. – A menina também me cumprimentou.

-Qual o nome da bela princesa que está na minha frente? – Eu perguntei diretamente para a menina surpreendendo ainda mais .

-. Mas pode me tratar de . É mais bonito.

-Você tem mesmo o nome de uma bela princesa. – Elogiei - E quais são os monstros que estão te deixando tão doentinha desse jeito?

-Tosse e febre. – Ela especificou torcendo seu narizinho.

-Ugh! Monstros danados! – Torci o nariz também.

-Aqui estão os remédios. Tome esse xarope duas vezes por dia e esses comprimidos depois das 3 principais refeições do dia. – O farmacêutico indicou voltando para o balcão.

-Aqui está. – A farmacêutica que me atendeu estendeu uma caixa de comprimidos. - Tome um agora e depois tome um de 6 em 6 horas durante dois dias. Se a dor prevalecer, contate seu médico. – Indicou e eu assenti.

-Eu não quero! – Escutei a vozinha da menina soar estridente e quando eu me voltei ela desviava o rosto do xarope.

-. Não brigue comigo. Vamos, tome o xarope! – insistia pousando a filha em cima do balcão e tentando fazer a menina beber o xarope.

-Ei, princesa, porque você não quer tomar o xarope? – Perguntei caminhando até ela e me agachando na sua frente, ficando na mesma altura que ela.

-Sabe mal. Eu não gosto! – Ela embirrou cruzando os braços.

-Então você gosta que os monstros vivam dentro de você e te deixem cada vez mais fraca? Você vai deixar os monstros vencer essa batalha? – Perguntei o mais docilmente possível.

-Mas sabe mal! – Ela choramingou.

-Você tem de deixar os cavaleiros guerreiros lutar contra os monstros. – Tentei animá-la e ela me olhou ainda hesitante.

-. Vamos lá. Você tem de tomar o remédio! – lutava para não se irritar.

Eu a olhei de relance me surpreendendo com seu ar abatido e extremamente cansado. Me dava vontade de pegar nela no colo e cuidar dela.

-Princesa, fazemos assim. Eu tomo com você o remédio. Tudo o que temos de fazer é fechar os olhos, apertar o nariz e tomar o remédio todo de uma vez. Fazemos juntos, OK? – Pedi e ela assentiu prontamente.

Olhando de relance percebi me olhar surpreendida quando por fim tomou o xarope e mais surpresa ficou quando eu cumpri com a minha parte e tomei ao mesmo tempo que . Depois que tomou, fez uma enorme careta e eu a acompanhei, por pura brincadeira.

-Esse guerreiros são horríveis! – Comentei e ela gargalhou. – Mas eu tenho uma maneira de tirar o sabor deles da boca. – Anunciei pegando em duas balas que haviam em uma tacinha em cima do balcão.

sorriu abertamente olhando a bala com cobiça e retirando o papel apressadamente, o colocando na boca.

-Hum, peguei um de morango! – Ela exclamou lambendo os lábios e me sorrindo.

-Eu peguei um de laranja. – Lhe sorri de volta.

-Muito obrigada, Sr. Black. – me agradeceu pegando a filha no colo e pagando os remédios.

-Me trate apenas por Jacob, . – Pedi a olhando ternurentamente.

Ela me sorriu abertamente pela primeira vez na vida fazendo meu coração disparar mais do que ao que estava, o fazendo quase sair pela boca. E por acréscimo senti um monte de borboletas voando em meu estômago me deixando nauseado, mas de uma forma boa…muito boa. Me senti um bobo. Um adolescente apaixonado.
OH DIABOS! Como eu não percebi isso antes? Como eu não percebi antes que estavaapaixonado? Claro, porque eu nunca estive apaixonado e porque eu nunca me senti desse jeito antes.

-Jake! – Só percebi que tinha viajado quando puxou por meu braço ferido.

Silvei um pouco de dor, mas tratei de a ocultar sorrindo para a mocinha.

-Desculpe, princesa, acho que me distraí pensando em outras coisas. – Esclareci.

-Eu já estou indo embora. – Ela montou um biquinho fofo se abraçando ao pescoço da mãe que se dirigia para a porta de saída depois de me dar um breve tchau e um meio sorriso.

-Esperem! Eu vou com vocês. Quer dizer…eu acompanho vocês! – Me corrigi atirando uma nota para cima do balcão e dizendo à moça para ficar com o troco, correndo em seguida em direção à saída.

-Você vem com a gente? – sorriu abertamente.

-Vou vos acompanhar até casa, para vos proteger dos monstros maus que por vezes andam na rua. – Esclareci fazendo uma cara séria e ao mesmo tempo divertida.

-Você é um cavaleiro guerreiro? – Ela quase sussurrou se inclinando para mim.

-Sou sim. Mas não diga a ninguém. É segredo! – Avisei no mesmo tom que ela colocando o dedo indicador em frente aos meus lábios.

-Shuuuuu. – Ela imitou meu gesto acompanhado de um som.

continuava me olhando admirada e eu percebi um certo brilho acrescendo em seu olhar. Talvez admiração? É, talvez…
O resto do curto caminho, caminhamos em silêncio. mantendo seu olhar sobre e esta olhando fixamente para mim. Me sentia meio que intimidado com o seu olhar, mas sabia que ele não me apresentava perigo nenhum.
Chegamos em frente ao prédio onde morava, juntamente com Jane. Era o prédio em cima do restaurante WHF, que pertencia a Edmundo Wagner. e Jane ocupavam o último andar do prédio de apenas quatro andares e Edmundo Wanger ocupava o segundo. O terceiro estava para alugar e o primeiro estava em obras para servir de extensão do restaurante.

-Chegamos. – anunciou desconcertada me olhando.

-Mamãe, eu quero que seja o Jake a me deitar. – pediu erguendo a cabeça da curvatura do pescoço da mãe e a olhando.

-! – repreendeu corando um pouco. – Desculpe por isso. Ela…ela nunca fez isso antes…er…

-Eu não me incomodava nada de deitar essa princesa. Você se incomodava? – Perguntei sentindo meu peito se encher de esperanças de visitar seu ninho e estar mais próximo dela.

-Deixa mãe! Deixa, deixa, deixa! – pedinchou a meu favor.

-Eu não sei… - hesitou olhando de mim para a filha e vice-versa.

A filha fez um beicinho e uns olhinhos pidões se preparando para implorar.

-Acho que sua mãe não vai deixar. – Provoquei , que me fuzilou com um olhar, se recompondo logo em seguida e pigarreando.

-Tudo bem. Você pode entrar. – Ela assentiu abrindo de vez a porta do prédio.

Eu segurei a porta lhe cedendo passagem e a segui até o elevador. Chegamos no último andar completamente em silêncio. Não tão completamente. Meu coração era quase possível de se escutar de tão forte que ele batia.
Assim que entramos em casa, nos deparamos com Jane e o namorado que vinham da cozinha com uma taça de pipocas na mão e dois copos e suco.

-Jacob? – Jane exclamou me olhando.

-Vem Jake, vem. Eu quero que você me conte uma história. – pedia me puxando pela mão, depois que )
a posou no chão.

-Eu já volto. – Sorri desconcertado para Jane que olhou inquisitiva para a amiga.

Assim que entrei no quarto de , ela se deitou na cama e eu fui até ela ajeitando as cobertas.

-Me conta uma história. – Ela pediu me olhando com seus olhinhos chocolate.

-Que história você quer? – Perguntei me dirigindo até uma estante cheia de livros com histórias infantis.

-Não quero nenhuma que está aí. Eu quero uma história original. Sobre cavaleiros guerreiros como você. – Ela me exigiu e eu engoli em seco.

Ponderei e pensei que história que haveria de contar para a garotinha. Não era propriamente um bom contador de histórias…Resolvi improvisar.

-Era uma vez um garotinho solitário que vivia encarcerado em um forte. Ele não tinha pais, nem ninguém no mundo. Então um senhor o resgatou e o acolheu em seu castelo o treinando e ensinando para ser um cavaleiro do mal. E durante longos anos o garotinho foi um cavaleiro do mal destruindo tudo na sua volta sem se importar com nada nem ninguém. O garotinho fugiu do castelo assim que se tornou um jovem adulto, mas mesmo assim não deixou de ser um cavaleiro do mal. Por mais que ele fugisse, por mais que ele encontrasse pessoas boas no caminho que o quisessem ajudar a mudar…ele nunca queria abandonar aquela vida. Então, anos depois, uma bela moça entrou em sua vida e com ela, ela trouxa um bem precioso para ele. Os sentimentos. Desde que a vira, mesmo que nunca tivesse falado diretamente com ela, nem se aproximado dela, porque ele tinha receio de ser rejeitado quando ela descobrisse o que ele era, sua vida mudou completamente e o garoto começou se importando com as pessoas que destruía. Mas ele não percebia nem como nem porquê ele estava mudando. Só sabia que a cada dia que passava ele pensava cada vez mais em deixar de ser um cavaleiro do mal. Então um dia ele conheceu uma princesa e essa princesa lhe mostrou o porquê dele estar mudando. Depois disso ele se apercebeu que bastava querer e ele poderia ser um cavaleiro do bem, um guerreiro. E então ele tomou a decisão de mudar, de se tornar uma pessoa melhor, tudo para que a bela moça, pela qual ele descobrira que estava irrevogavelmente apaixonado, o aceitasse. – Terminei tornando minha história de vida em um conto de fadas inacabado e me apercebendo que tinha acabado de tomar uma decisão enquanto terminava de contar aquela história.

-Nossa, que história linda. E como foi o final? – questionou entre bocejos, seus olhinhos pesando cada vez mais.

-Isso eu ainda não sei princesa. O garoto ainda está tentando mudar. – Acariciei seu rosto.

-Hun… - Bocejou. – Eu só espero que a bela moça o aceita. – Ela murmurou de olhos fechados virando seu corpinho para o outro lado da cama.

-Eu também, princesa, eu também. Boa noite. – Beijei seus cabelos e me ergui para sair, me apercebendo que estivera o tempo todo escutando a história.

Será que ela havia percebido que eu falava sobre mim?
Seus olhos estavam marejados, mas seu rosto estava seco. Ela estava contendo as lágrimas.
Eu saí do quarto fechando a porta atrás de mim e permaneceu no corredor, encostada na parede, de abraçando sua cintura, me encarando sem uma expressão decifrável.

-Foi uma bela história. – Ela me sorriu me olhando nos olhos fixamente.

-É. Inventei na hora. E eu que pensava que não era bom a inventar essas coisas. – Menti descaradamente mas ela não me contestou.

Só quando esfreguei o rosto é que percebi que estivera chorando. Limpei o rosto imediatamente e segui até a sala.

-Jacob, você não gostaria de ficar aqui com a gente assistindo maratona de The Vampire Diares? – Jane convidou o mais sorridente possível me impedindo de dizer não.

-Se eu não estiver atrapalhando. – Olhei para .

-Atrapalha nada, cara. Senta aí do lado de . - Apontou para o sofá de dois lugares. Jane e Emmett estavam sentados no chão, encostados na poltrona lateral ao sofá.

Eu me encaminhei até o sofá me sentando do lado de , que se havia sentado logo que chegara na sala.
Assistimos a maratona da série sobre vampiros e eu meio que me identifiquei com o tal de Damon. Ele era uma espécie de cavaleiro do mal que por amor estava mudando…OK, comparação infeliz e lamechas.

Ficamos durante o resto da madrugada bebendo um vinho e jogando conversa fora. Emmett revelou que o haviam convocado para fazer uns testes para entrar na CIA e que era praticamente garantido que ele dentro em poucas semanas seria um Agente.
Aquela conversa me deixou um pouco tenso, mas tentei não me mostrar demasiado abalado. Eram quase 5 da madrugada quando retornei a casa. Tinha passado um serão bastante divertido e acolhedor junto de , Jane e Emmett, que se mostrou ser um cara muito animado e legal.

Assim que entrei em meu prédio, Henry, que dentro de poucas horas sairia de seu turno da noite, me entregou meu correio. E dentre ele estava mais um daqueles envelopes. Trinquei os dentes pensando o que mais ele me encomendara. Independentemente do que fosse, esse seria meu último serviço.

Assim que cheguei em casa fui logo abrindo o envelope e retirando a pasta. No mesmo instante meu celular tocou. Atendi sem ver quem era depois que abri a pasta. Estava em estado catatónico ao ler a ficha.


-Sr. Black? – Logo reconheci a voz do sacana filha da mãe.

-Você só pode ser um louco filha da puta se pensa que eu vou realizar esse serviço! – Urrei entre dentes apertando a pasta em minhas mãos. – Não há porquê eu realizar esse serviço! Me diga o que ela fez? – Embravecei colérico e ele apenas me deu uma risada sardónica.

-Eu já depositei o dinheiro desse serviço na sua conta. E o do outro também. Aquele que você não realizou. – Comentou indiferente.

-Eu estou pouco me lixando para o dinheiro. Pode enfiar ele todo… - Me contive para não explodir em insultos. – O que ela fez?

-Não faça perguntas, senhor Black! Você está quebrando sua quarta regra: Não fazer perguntas! – Meus olhos se arregalaram com tal constatação.

Apenas eu sabia quais as minhas regras. Ele só podia ter investigado minha vida a fundo! Mas ele não sabe com que se meteu!

-E só mais uma coisa! Eu mudei de idéias quanto ao prazo do cumprimento do serviço. Você tem até as 23 horas desse mesmo dia para cumprir o serviço. E nem tente me desafiar de novo. Você se arrependerá amargamente. – Me ameaçou e eu rosnei.

-Acha que eu tenho medo das suas ameaças, seu cão sarnento!?

-Se você preza pela vida da bela moça e da princesinha, é bom que cumpra o serviço! – Ele tornou a ameaçar, mas dessa vez era a vida de e que ele ameaçava. Utilizando termos que há poucas horas eu mencionara, sem ninguém para desconfiar por perto…ele deveria ter colocado escutas.

Senti minhas veias queimarem de raiva, como se em vez de sangue que corresse, era a lava de um vulcão.

-Estamos entendidos? – Perguntou autoritariamente.

-Sim. – A palavra me saiu como um quase murmúrio enraivecido e antes de eu puder contestar, ouvi o típico som do celular acusando fim de chamada.


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Domigo: 14.11.2010 – 22h45 P.M.

Há mais de meia hora que eu estava na mesma posição. Com a Sniper posicionada na frincha da minha janela, apontada em direção ao apartamento de Jane.
Durante o resto do dia checara detalhadamente todos os meus materiais e minha casa, procurando por escutas. Ao todo achei 23 escutas. Destrui todas.
Do meu Estúdio dava para ver perfeitamente todo o quarto de Jane e a cozinha também. Ela estava na sala, sentada no chão, namorando com Emmett. estava em algum canto da casa, junto com .
Eu engolia em seco a cada 5 segundos, sentindo pingos de suor escorrerem por minha testa. Meu coração estava mais disparado que metralhadora e eu estava revendo minhas regras…

-Lembra da 5ª Regra, Jacob: Nunca se esqueça de quem é! – Eu me dizia a mim mesmo, reforçando minhas regras mesmo sendo muito difícil.

Vi pela mira da Sniper Jane gargalhando alto e Emmett fazendo carinho em seu rosto. Logo em seguida ele pediu para ela fechar os olhos e sacou do bolso da calça uma caixinha pequena de veludo a abrindo e mostrando um belo anel de noivado com um solitário de diamante. Logo em seguida segredou algo no ouvido dela que a fez abrir os olhos imediatamente e escancarar a boca ao olhar o anel.
Eu não ia conseguir fazer aquilo. Não ia conseguir destruir a vida perfeita de alguém tão jovem e tão bom. Então me lembrei de minhas próprias palavras na noite passada quando contava a história para .

“…anos depois, uma bela moça entrou em sua vida e com ela, ela trouxe um bem precioso para ele. Os sentimentos. Desde que a vira, […] ele pensava cada vez mais em deixar de ser um cavaleiro do mal […] um dia ele conheceu uma princesa […] E então ele tomou a decisão de mudar, de se tornar uma pessoa melhor, tudo para que a bela moça, pela qual ele descobrira que estava irrevogavelmente apaixonado, o aceitasse.

Tomando uma nova decisão, desmontei a Sniper e a guardei em meu saco pegando no lugar a GLOCK. Coloquei todos os meus pertences importantes no saco e apenas peguei em algumas roupas. Fechei o saco e enlacei a alça atravessada no meu tronco, pendurada em um ombro com o saco para o lado contrário. Desci as escadas apressadamente, saindo do meu prédio e atravessando a rua para entrar no prédio de Jane.
Respirei fundo e coloquei a mão na porta do prédio dela, vendo pelo reflexo do vidro um outro atirador no telhado do prédio ao lado do meu. Rapidamente me virei e atirei com a GLOCK na direção dele o acertando em cheio e o matando. Percebi que estava ficando sem tempo. Adentrei o prédio e subi os quatro andares apressadamente.
Assim que parei na porta de casa de Jane esmurrei a porta freneticamente. Quando ia bater a segunda vez, Emmett abriu antecipadamente olhando para mim com um olhar divertido, que logo se converteu em um meio assustado quando viu minha arma.

-Ei cara, que você pensa que vai fazer? – Ele ergueu as mãos em defesa, me perscrutando atentamente, medindo cada um dos meus passos.

-Eu estou aqui para vos proteger. – Convoquei, apontando a arma para ele, para o fazer se afastar de mim, adentrando o apartamento.

-Quem é, amor? – Jane questionou aparecendo no hall e emudecendo um grito ao me ver armado, com ambas as mãos na boca.

Ela me olhou alarmado e eu me distraí com o pesar que sentia ao vê-la assustada, dando tempo suficiente a Emmett para contra-atacar.

-Solta a arma, agora! – Emmett falou atrás de mim e eu escutei a manipula de segurança de uma arma sendo destrancada.

Lentamente eu pousei a minha arma em cima de uma mesinha que tinha perto de mim e coloquei a mão no bolso de dentro do meu casacão.

-Parado aí! – Emmett gritou colocando a boca da arma das minhas costas.

Mesmo estando a um passo de morrer, eu me arrisquei a continuar meu discurso, apenas olhando no fundo dos olhos de Jane e deixando transparecer para ela o meu lado mais sincero. Um lado que eu desconhecia ter.

-Eu fui contratado para te matar, Jane. Eu sou um assassino profissional. – Falei com pesar para ela, continuando a colocar a mão no bolso percebendo que Emmett estava prestes a atirar em mim.

-Espera, Emmett! – Jane gritou. – Porque você está me contando isso? – Ela soou desesperada, não por mim, mas pelo que disse.

Por fim eu retirei a pasta do serviço dela e lha entreguei.

-Porque eu não vou matar você. – Declarei em um suspiro arrependido. – Eu não sei quais são os motivos para te quererem matar, mas eu sei que você é uma pessoa boa…e não merece que eu destrua tudo de bom que você tem.

-Eu faço uma pequena idéia. – Jane comentou, abraçando seu corpo.

-Como assim? Você sabe porque estão querendo matar você? – Emmett questionou e eu mesmo fiquei curioso pra escutar a explicação.

-Bom…é que…Emmett…eu…er…eu…

-Jane, o que você está me escondendo? – Emmett perguntou um pouco alterado.

-Meu pai contraiu dívidas com agiotas para pagar as dívidas de jogo, que pagavam as dívidas do hospital, por causa da doença terminal de minha mãe…bom. Quando eu descobri suas dívidas, eu “vendi” meu nome em troca das dívidas dele. Ou seja, meu pai deixou de ter dívidas, que passaram a ser minhas. Desde que eu abri o restaurante, eles têm caído em cima de mim que nem abutres, mas eu tenho pago tudo o que eles pedem. Só que de há umas semanas pra cá, eles têm pedido quantias avultadas, cada vez mais altas…e eu não tenho tido como pagar… - Ela explicou calmamente.

-Droga, Jane, porque você não falou isso pra mim antes? – Emmett bufou.

-Eu achei que não havia necessidade…que tinha tudo controlado… - Se explicava visivelmente arrependida.

-Eu acho melhor você fugir o mais rápido possível porque os capangas do cara que me contratou devem vir atrás de você. – Alertei me virando em seguida para Emmett. – Só você pode protegê-la, cara. Agora que você está perto de se tornar um agente da CIA… - Deixei em aberto a sugestão. – Leve o pai dela também… e …eles vão matar elas para se vingar de mim.

-E porque haveriam de querer matar elas? – Emmett questionou.

-Porque elas são o meu ponto fraco. – Confessei.

-Porquê?

Meu coração parou de bater ao escutar o canto melodioso da voz dela, se dirigindo a mim. Me virei lentamente para trás, apenas para constatar que o que eu escutara não havia sido uma miragem. E lá estava ela.
estava parada no batente do corredor que dava para os quartos, abraçando a cintura e me olhando com uma intensidade perfurante, que me fez engolir em seco, sentindo como se ela estivesse esquadrinhando cada canto da minha alma, através de meus olhos.

-Porquê? – Ela tornou a questionar. Seu tom de voz quase um murmúrio, mas com uma denotação de raiva acentuada e evidente.

-Porque a história que eu contei para …era a minha história. E você era a bela moça. – Expliquei do modo mais simples que consegui, garantindo que ela entendia a mensagem oculta por detrás da história infantil.

Perscrutei seu rosto com atenção, tentando decifrar cada expressão que ela manifestava, mas era-me difícil. Como se nela tudo fosse demasiado novo para eu entender.

-Façam as malas. Temos pouco tempo para fugir. Eu vou fazer umas ligações. – Emmett interrompeu o silêncio que se abatera, sem conseguir quebrar o contato visual que eu e mantínhamos.

-Você tem de partir. – Falei quase pra mim, sabendo que ela me leria os lábios, mas ela não se moveu.

Anulei o espaço ainda existente entre nós e a impulsionei em direção aos quartos. por fim pareceu acordar de um qualquer transe pessoal e adentrou o quarto da filha, que ainda dormia tranquila.
Ajudei-a a fazer uma pequena mala com os pertences mais importantes da pequena e em seguida uma outra mala com algumas roupas dela.

Estava abrindo uma das gavetas da cómoda, quando meus olhos bateram num retrato caído…ou propositadamente virado pra baixo, não sei.
O ergui cuidadosamente e examinei a foto com um nó no peito. Na foto estava grávida, diria que no final da gestação, em biquíni, com , eu supus, abraçado a ela e fazendo um coração na enorme barriga com os polegares e indicadores. O sorriso e o brilho estampados no rosto de ambos, demonstrava o quanto eles se amavam e eu lamentei por ele não estar mais aqui para a fazer feliz e as manter a salvo. Lamentei por eu as ter colocado em tamanho risco, expondo os meus estúpidos sentimentos. Lamentei por não ser eu no lugar dele. Como marido de , pai de …e morto.

Só esse simples pensamento me fazia logo lembrar de quem eu era…um assassino sem escrúpulos. E era assim que eu deveria continuar sendo.
Depois que e estivessem a salvo, eu iria sumir do mapa e recomeçar minha vida, longe de tudo o que representassem elas.
Me sobressaltei quando escutei a porta batendo com força, seguida de três tiros e alguns gritos.
Corri apressado para a sala, empenhando minha GLOCK e perscrutando a sala cuidadosamente. Encontrei Emmett abraçando Jane, que tremia e chorava obstinada.
A escassos metros de distância de ambos, jazia um corpo de algum atirador que viera cumprir o meu trabalho; matar Jane.

-Jake! – Escutei o grito de e corri atabalhoado na direção de onde eu havia escutado o grito.

Parei abrutamente na porta do quarto de , vendo a pequena tremendo sobressaltada e chorando nos braços da mãe. Assim que ela me viu, se desprendeu de e correu na minha direção, saltando para o meu colo.

-Pronto, pronto. Já passou, princesa. Já passou. Está tudo bem agora. – Eu sabia que era uma grande mentira, mas que outra coisa eu poderia dizer para uma criança tão indefesa?

me olhou apavorada e por fim libertou as lágrimas que há muito vinha segurando, muito antes mesmo de eu surgir em sua vida.
De novo, anulei o espaço que nos separava e a arremessei em meus braços, a juntando no abraço que já fazia parte.

-Nada de mal vai acontecer com vocês. Eu prometo. Darei minha vida se preciso for, mas eu não perderei vocês duas. – Murmurei no ouvido de , que estremeceu e me olhou lavada em lágrimas.

-Não. Eu também não posso perder você, Jake. Eu…eu amo você. Desde a primeira vez que eu te vi. Durante meses eu lutei contra esse sentimento porque não estava certo. Eu deveria amar somente a …mas sua presença exigia muito da minha luta…e todos os dias eu acabava perdendo a batalha. Eu pensei que isso fosse passageiro, que logo esse amor platônico iria esmorecendo e que eu apenas me sentia assim porque estava sozinha, carente…mas agora…com a idéia de que eu posso perder você, como eu perdi …eu não vou aguentar. – Ela se abraçou mais forte a mim, tremendo e soluçando no meu peito. Só percebi que estava chorando junto, quando as lágrimas banharam meus lábios e eu senti o sabor salgado na ponta da língua.

Ela acabara de confessar que me amava…e, mesmo em meio a toda essa circunstância, eu não conseguia deixar de me sentir o homem mais feliz e sortudo do mundo.

-Eu também te amo muito, . Amo muito vocês duas. Vocês são minha vida. Minha razão de viver…

-Então não morra. - me interrompeu, se separando um pouco de mim, o suficiente para seu rosto fitar o meu a escassos centímetros.

Sentia minha boca queimando pela dela e eu percebi que a dela também queimava pela minha. Quebrei todo o espaço que nos separava e a beijei ávida e apaixonadamente.
Beijá-la era a melhor sensação no mundo que alguma vez pude sentir. Me sentia quase como um homem abençoado por ter seus lábios beijando os meus, mordendo os meus, sugando-os, saboreando-os. Ela era o meu Paraíso.

-Rápido. Temos de ir embora. – Alertei, assim que me separei de seus lábios.

Só aí notei que dormia tranquila em meus braços, como se nada de mal estivesse acontecendo. Como se ela depositasse em mim toda a sua segurança e isso a deixasse pacífica, relaxada…
Passei a pequena para os braços da mãe enquanto eu carregava as suas bagagens em uma das mãos e a GLOCK na outra.
se assustou um pouco com a arma e eu apenas pude sorrir para ela, a tranquilizando.
Retornamos à sala, encontrando com Edmund Wagner, Jane e Emmett esperando por nós.

-Teremos os carros da CIA esperando pela gente no Gowanda Airport. Acho que temos de despistar os caras indo pela Genesse Road, virando à esquerda pela 75 até Lanford. Em seguida viramos na direita pela North Collins e de novo à esquerda percorrendo a 62 até ao cruzamento com a Richardson Road. O que você acha? – Emmett direcionou e eu assenti imediatamente.

-É uma boa. No cruzamento da 75 com a Genesse Road eles vão perder muito tempo por causa do tráfego e o mesmo acontecerá no cruzamento da North Collins com a 62, perpendicular à 249. Terão tempo suficiente para chegarem ao aeroporto.

-Como assim? Terão? E você? Jacob você prometeu! – voltou a choramingar.

-Eu vou me manter vivo. Eu prometo…mas eu não posso seguir com vocês. – Afaguei seu rosto pousando novamente meus lábios sobre os dela, o que deixou os presentes um pouco surpresos. – Eu cobrirei a vossa retaguarda. Se eu vir algum carro seguindo vocês, eu detono! – Alertei a Emmett que apenas assentiu. – Vamos.

Descemos o prédio pelas escadas; seria mais seguro e mais rápido. Emmett ia na frente, mas assim que chegamos na portaria, eu me juntei a ele. Mantive os outros afastados das miras enquanto eu e Emmett nos encostávamos às paredes, deslizando até a porta envidraçada e espreitando pelo canto do olho para todas as direções da rua.
Em linguagem de combate, dei instruções a Emmett de que eu sairia primeiro perscrutando a área e que quando desse sinal, ele traria os restantes até o carro dele.

Cuidadosamente abri a porta e me prontifiquei do lado de fora, esquadrinhando atentamente toda a área não detetando quaisquer movimentos suspeitos. Estudei todos os prédios e janelas, ficando atento a todos os reflexos dos vidros, que me davam uma visão alargada de tudo à minha volta.
Nada. A rua estava deserta de atiradores. Eles deviam estar esperando por nós no cruzamento da Wyandale com a 219, bem como no final da Genesse Road.

Por fim dei o sinal a Emmett e vi-os a sair um por um, apressados, em direção ao carro. Eu fiz o mesmo e corri na direção do meu.
Sabia que não havia necessidade do Senador mandar tanto pessoal para matar Jane, mas também sabia que ele faria isso somente para me afrontar e acabar comigo.
Demos partida com os carros, eu tomando a frente até chegarmos no final da rua e entramos da Genesse Rd. Se tudo estivesse nos conformes, Emmett me ultrapassaria e seguiria à minha frente, enquanto eu lhe cobriria a retaguarda, a poucos metros de distância.

Nada. Durante 15 minutos não houve quaisquer perseguições suspeitas. Nem mesmo no cruzamento da Genesse Rd com a 75.

Foi somente quando estávamos quase chegando ao final da Langford que os disparos sobre o carro de Emmett começaram.
Temi pela vida de todos os que estavam lá dentro, em especial pela vida de e .

Acelerei, vendo a agulha do contador atingir os 160 Km/h subindo gradualmente, até eu estar colado ao carro que disparara contra eles. Saquei da minha GLOCK e disparei contra eles. Eles conseguiram desviar a tempo, fazendo uma redução gradual de velocidade, me deixando na frente deles. Abrandei também, escutando o carro sendo atingido por tiros. Nenhum me acertou, porque o carro era blindado.
Quando perceberam isso, bufaram de irritação e se colaram a mim, aproveitando que eu tinha o vidro aberto, para atirarem em mim. Desviei dos primeiros tiros, tentando me concentrar em fazer pontaria nos pneus, ao mesmo tempo que dirigia e desviava em páras-e-arrancas das balas.
Por fim consegui acertar os pneus traseiro e dianteiro do lado esquerdo do carro e em seguida, joguei o meu contra o deles, os fazendo se despistarem.

Já havíamos cruzado o Langford e estávamos na metade do caminho da North Collins, quando outro carro abalroou o meu. Por pouco não despistei. Me mantive cerca de dois minutos redirecionando o carro e controlando as curvas que ele dava. Quando retornei à estrada, o mesmo carro estava tentando tirar o de Emmett da estrada. Aumentei a velocidade tentando alcançar o outro carro, mas antes disso senti baterem as minhas traseiras. Outro carro estava tentando me tirar de campo. Trovejei uns quantos palavrões, olhando pelo retrovisor para o outro carro que continuava batendo nas minhas traseiras. Coloquei o braço de fora, esquivando um pouco do carro para poder atirar no condutor, mas antes que eu pudesse fazer isso ele abrandou e bloqueou o meu carro pelo lado direito. Não entendi porque ele fizera isso até sentir o lado esquerdo sendo batido por outro carro. Eu estava cercado.

 


Coloquei o braço de fora, esquivando um pouco da viatura para poder atirar no condutor, mas antes que eu pudesse fazer isso ele abrandou e bloqueou o meu carro pelo lado direito. Não entendi porque ele fizera isso até sentir o lado esquerdo sendo batido por outro veículo. Eu estava cercado.

Precisava pensar calmamente em uma solução para me livrar dos dois carros e ir em socorro de Emmett. Foi então que percebi que a estrada era de mão dupla, sendo que a outra era em contramão em relação à estrada que eu dirigia.
Com o pouco espaço que tinha de manobra, bati a frente contra o carro do lado esquerdo o fazendo desviar no mesmo sentido. Me colei de novo a ele, deixando-os pensar que eles me tinham sobre controle e pouco a pouco eu colocava o veículo do lado esquerdo em contramão. O condutor do automóvel do lado direito, tentava fazer sinais ao seu comparsa, mas este apenas sorria satisfeito se achando por cima do bolo. Foi só quando um outro carro apitou freneticamente para ele que ele percebeu que eu o metera na toca do lobo. O vi soltar as mãos do volante e erguê-las na altura dos olhos enquanto o seu carro subia por cima do outro e capotava no ar em voltas que mal pude contar.

De novo escutei tiros mas nenhum era direcionando a mim e sim ao veículo que cobria a minha lateral direita. Estranhei isso porque o carro de Emmett ainda estava à minha frente tentando despistar o outro que o seguia.
Olhei para trás e vi mais dois automóveis se aproximando do meu. Bati com a mão no volante, pensando que ainda não estava safo, mas me surpreendi quando um deles me ultrapassou e se colou ao carro que perseguia Emmett, o tirando fora da estrada com um só embate.
O outro bateu nas traseiras do veículo que estava à minha direita o tirando de perto de mim.
Pensei que quem estivesse ajudando fosse os agentes da CIA, que Emmett havia contatado, mas minhas suspeitas foram por terra quando eu olhei para o condutor da viatura que havia tirado da estrada o carro que perseguia Emmett. Era Paul.
Meu coração falhou batidas quando eu também reconheci o outro condutor. Jared.
A Empresa estava ali. Eles tinham me achado!
Comecei entrando em pânico temendo que meu Mestre estivesse por perto que acabei nem notando que meu celular tocava freneticamente. Recebi um pequena pancada do carro de Paul que com um gesto me indicou para eu atender a chamada.
Tateei pelo celular no banco do carona e o catei, primindo o verde para atender.

-Alô. – Minha voz saiu um pouco tremida, se confundindo com as batidas frenéticas de meu coração.

-Filho. – Imediatamente reconheci sua voz. Samuel Uley. Meu Mestre. Meu pai. Mesmo que não fosse de sangue.

Engoli em seco audivelmente, tão audivelmente como meu coração ribombava em meu peito. Minhas mãos soavam, fazendo o aparelho escorregar. Apertei mais forte a mão em torno do celular, respirando fundo e ganhando coragem para falar.

-Eu só volto com uma condição! Salvem eles. – Tentei ecoar minha voz o mais firme possível, mas ela tremeu com o meu último pedido.

Escutei a gargalhada rouca e austera de meu Mestre ressoar do outro lado da linha fazendo um arrepio de medo percorrer minha espinha. Sim, eu tinha medo de meu Mestre. Tinha medo porque apenas eu sabia o quanto ele era poderoso e o quanto ele conseguia tudo o que queria. Me surpreendeu que ele levasse tanto tempo para me achar, mas agora pensando bem, acho que ele sempre soube onde eu estive, durante todos esses anos. Apenas deixou seu filho solto o tempo suficiente para ele perceber o quanto precisava de seu pai. E Uley apareceu bem na hora que eu precisava dele, vindo cobrar o seu ditado.

-Meu filho. Você acha mesmo que eu vim cobrar alguma coisa? Me sinto ofendido. Pensei que você, o meu predileto, o meu sucessor, me conhecesse melhor que ninguém. – Comentou sarcástico.

-Samuel, eu não tenho tempo para suas ironias. Essa é a minha condição. Você aceita ou não! – Esbravejei.

-Calma, calma, Jacob. Eu vou te ajudar a salvar seus amigos. Apenas não posso chegar tão perto do aeroporto. Tenho todos os serviços secretos à perna e seria meio que suicida chegar lá a céu aberto. – Gargalhou mais um pouco. – Eu não quero você de volta, Black. Um pai sempre tem de saber quando tem de deixar o filho bater as asas para a liberdade, mas ninguém pode impedir esse mesmo pai de manter o filho debaixo das suas asas, em proteção, sempre que ele precisa. Por mais que te custe a acreditar…eu sou esse pai, Jake. – Sua voz soou baixa e carinhosa, como se ele estivesse sendo sincero.

-Você…está…falando sério? – Questionei surpreso.

-Estou. E Jake, lembra daquela sexta regra que você tanto pediu que eu te ensinasse mas que eu fazia questão de a mater em segredo? – Ele questionou e eu assenti com a cabeça, mesmo que ele não me pudesse ver. – Então aqui vai a 6ª Regra, meu filho: Esqueça todas as regras anteriores. Eu estarei sempre por perto. Mesmo que você não possa me ver. Vá ser feliz com e , eu protegerei vossa retaguarda.

Só percebi que ele não estava mais do outro lado da linha quando escutei o tu-tu-tu caraterístico do final da chamada. Senti de novo uma pancada nas traseiras e vi Jared e Paul se distanciarem do meu carro acenando para mim em despedida.
Assim que olhei para a frente, percebi que estava no começo da rua do aeroporto e que o carro de Emmett já havia estacionado ao pé dos carros policiais da CIA. Parei o carro em um canto escuro, vendo e em segurança.

olhou na minha direção bem no momento em que eu ia dar partida para ir embora e eu escutei ela gritando meu nome. também olhou na minha direção e, ao perceber que eu ia embora, largou tudo e começou correndo até o carro.
Fiquei sem reação, sem saber o que fazer. Sem saber se haveria de ir embora vendo ela correr até mim sem me conseguir alcançar, ou esperar que ela me alcançasse para lhe dizer que eu ia embora e que ela deveria ser feliz longe de mim. Enquanto pensava, alcançou a porta do meu carro a abrindo e saltando para dentro do banco de carona.

-O que você está fazendo? – Eu perguntei com o cenho franzido.

-Fugindo com você! Vamos, dê partida. Emmett te deu dois dias de avanço até ele começar te caçando. – Ela comentou entusiasmada.

-, eu não quero isso pra você. Eu não quero essa vida para

-Ele falou que se você sair ainda hoje do país, eles só poderão começar te caçando quando tiverem autorização do outro país para te apanhar e que isso demora no mínimo duas semanas. Até lá estaremos fora do Continente. Quem sabe talvez vamos para a Europa? Meu sonho é conhecer a Grécia! Podíamos morar em Athenas! Que você acha? – Ela sugeria com um sorriso enorme estampado em seu rosto.

Eu lhe devolvi o sorriso beijando seus lábios e acariciando em seguida o rosto de .

-Eu sempre quis que você fosse meu novo papai. Você me deixa te chamar de pai? – Ela questionou fazendo meu peito quase explodir de felicidade.

-Claro que sim, princesa!

-Eu te amo, papai. – Abri meu mais largo sorriso e dei partida com o carro.

-Grécia, aqui vamos nós! – Declarei rumando para um novo destino.

Um Destino onde o Cavaleiro do Mal deixara de existir para dar lugar a um simples homem de família amando e amado pela sua bela mulher e sua linda princesinha.

FIM

3 comentários:

  1. SERA QUE ELE ESTA SE APAIXONANDO♥♥♥
    AMEI, POR FAVOR CONTINUAAA!!!

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  2. amei!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! ele ficou muito interessado.....

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  3. tá demais, quero muito saber o que Jacob vai fazer!!!! OMG

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