26 de agosto de 2012

Air and Sun by Ana

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Air and Sun
 
Fanfic e Capa: Ana


Capítulo 1 -
CHEGADA.
(Capa)

Diminuí a velocidade com que dirigia, já que estava vendo os primeiros sinais de ter chegado a algum lugar, depois de alguns minutos na estrada. Tudo que eu lembrava de La Push eram casinhas muito iguais, próximas e pequenas, floresta de um lado e praia do outro. Eram lembranças bastante vagas, levando em conta que a última vez que estivera ali fora quando tinha nove anos. Hoje estava completando dezessete, e minha memória era péssima.
Falara com minha mãe ao telefone assim que descera do avião em Port Angeles, no caminho para alugar um carro. Nunca fora de comemorar aniversário algum em grande estilo, nem ao menos meus dezesseis anos, mas realmente mudança não era minha idéia de um aniversário tranqüilo. Eu morara na Califórnia, mais exatamente em San Diego, por todos os anos da minha vida... Exceto agora.
Eu não compreendia porque meus pais haviam decidido se mudar agora, tão de repente, e logo para La Push. Só havíamos ido lá algumas poucas vezes, e eu só lembrava vagamente da última, já que todas as outras vezes eu era nova demais. Meu pai, William Quilt, era considerado um dos que tinham voz na reserva. Meu bisavô tinha feito alguma coisa importante com relação a uma lenda qualquer antiga, que eu não dava atenção porque, afinal de contas, é uma lenda. De qualquer forma, eles davam atenção.
Então meu pai, apesar de ser considerado uma autoridade ou qualquer coisa nesse estilo, resolvera sair de La Push e foi até a Dinamarca. Foi quando conheceu minha mãe, alta, magra, muito branca e com os cabelos loiros lisos compridos. Eu saí meio errada, com os cabelos negros e lisos do meu pai, a cor de pele da minha mãe e seus olhos azuis também. Quando minha mãe se descobriu grávida de mim, os dois resolveram me criar nos Estados Unidos, então fomos para San Diego, onde os dois conseguiram empregos estáveis. Eles nunca tiveram outro filho, então sou filha única e, bom, meio que independente demais para minha idade, já que eles também não foram lá dos mais presentes. Não que eu reclame. Prefiro não ter ninguém na minha cola.
Estava chegando, já que acabara de passar pelo colégio que sabia ser onde eu estudaria, por minha mãe ter dito que era o único na reserva e também que eu passaria por ele quando estivesse a uns dez minutos de casa. Não era nada boa idéia ter o colégio tão perto de casa, mas tudo por ali era meio próximo de outra coisa qualquer. Diminuí mais ainda a velocidade do carro e, enquanto observava as casas próximas e as pessoas que andavam pelas ruas conversando uma com as outras, puxei o celular que jogara no banco do carona e disquei o telefone de casa. Meu pai atendeu.- Alô? - a voz grava dele soou, e eu ri.
- Oi, pai! - respondi, achando graça na formalidade dele, que também riu do outro lado da linha.
- Oi, filha! - a voz dele relaxou, e pude vê-lo em minha mente com o sorriso grande que tinha. - Já está chegando? - perguntou, animado. Ele adorava La Push. Podia imaginar quão feliz ele estava de se mudar para lá. Eu tentei acompanhar a animação.
- Acho que estou! - disse, meio incerta, meio risonha. - Acabei de passar pela escola, acho que deveria seguir reto e então entrar a esquerda, é isso?
- É, você está certa. Vou te esperar lá fora, assim você se acha mais fácil. - concordei com um murmúrio.
- Beleza, pai. Valeu! - e desliguei. Eu tinha esse costume de meio que desligar na cara das pessoas.
Só dirigi por mais sete minutos até ver meu pai do lado de fora de uma casa como todas as outras, à exceção das caixas empilhadas do lado de fora para serem jogadas fora. Ele estava conversando com um outro cara, que estava numa cadeira de rodas, tinha a pele no mesmo tom da dele, marrom-avermelhada, e os cabelos negros e lisos longos. Segurando a cadeira de rodas, estava um rapaz de uns, o quê, vinte anos? Ele só usava bermuda e tênis, o peito nu era definido - muito definido - e os cabelos negros pareciam ter sido recém-cortados, já que estavam bem baixos. Eu buzinei rápida e discretamente, como um cumprimento prévio, e parei o carro na porta da garagem de casa, desligando-o logo em seguida.
Desci do carro e peguei apenas o celular, colocando-o no bolso de trás das minhas jeans.
- Filha! - meu pai veio logo me abraçar, e eu franzi a testa por um breve instante. Os efeitos colaterais de se mudar para La Push já estavam agindo? Meu pai nunca fora de me cumprimentar tão animadamente. Embora a gente não se visse tinha umas duas semanas.
- Oi, pai - respondi, rindo, mas acho que ele não percebeu minha confusão. Logo me soltou e apontou com a mão aberta para as duas figuras que nos assistiam com sorrisos no rostos.
- Esse é Billy Black - disse, e eu sorri para o mais velho que estava na cadeira de rodas, estendendo a mão para cumprimentá-lo. Ele parecia simpático, tinha um sorriso agradável. - E esse é Sam Uley. - o tal sem camisa. Ele tinha uma expressão estranha quando estendeu a mão para me cumprimentar, ou talvez fosse só o jeito dele. Ele abriu um sorriso pequeno e então soltou nossas mãos.
- Prazer em conhecê-los. - eu disse, tentando ser simpática. Não sabia o que dizer quando conhecia gente nova. - Mas eu preciso tirar minhas coisas da mala... - indiquei com uma mão o carro que estacionara. Então sorri. - Vejo vocês mais tarde. - e, com um aceno, voltei para o carro. Girei a chave na mala e a abri, me deparando com cinco enormes malas coloridas onde eu tinha colocado minhas roupas. Quem mandara ser tão consumista assim mesmo? Ah, é, ninguém.
- Ei, precisa de ajuda? - tomei um susto quando o tal cara, Sam, estava parado ao meu lado e já se esticando para pegar duas malas antes que eu pudesse responder. Me recuperei do susto e tentei responder direito.
- Ah, não precisa, eu acho que posso... - me estiquei e peguei uma das malas. É, não estava pesada. Que esquisito, eu quase perdera minhas forças colocando-as naquele carro. Ele percebeu a facilidade com que peguei a mala e ergueu as sobrancelhas.
- É, você não precisa. Mas vou ajudá-la mesmo assim, não é educado deixar você com todo peso. - e riu. Eu ri junto, embora não tivesse visto a graça, e o vi pegar as malas que sobravam. Me senti muito idiota entrando na minha nova casa com só uma mala e sem saber para onde ir.- Meu Deus, onde é que eu fico? - perguntei, em voz alta, o que pareceu chamar a atenção da minha mãe.
A casa era extremamente aconchegante, era meio que uma casa de praia e casa de campo, tinha partes revestidas de madeira, em outras as paredes eram brancas. O chão era de madeira corrida e minha mãe já tinha tratado de decorar tudo conforme sua vida de decoradora lhe mandava.- Aqui! - ela gritou, e eu segui um corredor que ficava logo a esquerda da porta de entrada. À direita, tinha a sala de estar e a cozinha, separadas por um balcão branco. Passei por um quarto que deveria ser dos meus pais, e cheguei ao meu, onde minha mãe estava parada, sorrindo e parecendo ter acabado de arrumar uma estante que ficava logo atrás dela com fotos minhas. Sorri.
- Uau, você foi rápida! - brinquei, e ela me deu um abraço e um beijo na bochecha.
- Chegou bem, certo? - perguntou, lançando um olhar de cima a baixo em mim. Rolei os olhos.
- Sim, mãe. Estou inteira. - Este é... - me virei para apresentar Sam, mas ele já estava sorrindo para minha mãe e esticando a mão para cumprimentá-la (ele estava mesmo carregando as quatro malas em uma só mão).
- Oi, Sadie. - ele a cumprimentou, chamando-a pelo primeiro nome e tudo. Ela o cumprimentou de volta e eu me sentei sobre a minha cama, onde um edredom rosa-choque estava perfeitamente arrumado. Olhei ao redor, as paredes eram brancas e havia tons de verde-claro. Minha cama ficava ao lado de uma janela que dava vista para a floresta, e à minha direita ficava meu armário; ao canto havia uma escrivaninha com um notebook fechado sobre ela e um espaço para meus livros. Em cima dela, prateleiras com meus livros preferidos estavam postas e uma porta do outro lado do quarto dava para o que eu imaginava ser o banheiro.
- MEU DEUS! - o berro de minha mãe quase me fez cair no chão de susto, e eu me virei para olhá-la no mesmo instante.
- Mãe, o que foi? - perguntei, lançando um olhar rápido a Sam, que também parecia levemente consternado. Minha mãe se virou para mim e me abraçou.
- Filha, parabéns! Meu Deus, como pude esquecer que hoje...? - meus ombros caíram pesados e eu balançei a cabeça.
- Quer me matar de susto? - resmunguei, rindo, mas aceitando os parabéns e abrindo os braços para abraçá-la. Ela movimentou a cabeça sem dar importância a minha reclamação.
- Oh, é seu aniversário! Quantos anos? - Sam perguntou, enquanto minha mãe me soltava e ele me abraçava.
- Dezessete. - respondi, despreocupada, quando ele me soltou. Foi estranha a expressão preocupada que ele assumiu por uma fração de segundos e depois relaxou. Talvez não fosse para eu ter visto a preocupação ali, mas eu era perceptiva demais.
- Bom, então é por isso que eu chamei vocês para virem à noite aqui. - começou minha mãe, olhando para Sam. Ele disse "Ah, é!" e os dois engataram em qualquer papo enquanto eu assistia a conversa totalmente perdida. Consegui pescar alguns nomes, como Emily, Jacob, Leah, Seth, Clearwater... Mas nada fazia sentido ainda.
- Então lá pras sete estaremos aqui. - terminava Sam, e minha mãe abriu um sorriso grande.
- Claro, claro! Ótimo. - ele se virou para mim.
- Até mais, ! - eu acenei de volta e o vi sair de meu quarto, minha mãe indo também. Hm, comemorar meu aniversário com pessoas que eu nunca vira na vida não era exatamente o que eu tinha em mente, mas estava tudo bem. Tanto fazia.
Deixei meu corpo cair todo na cama e olhei para o teto, assistindo as sombras fracas das árvores projetadas balançarem-se. Um vento agradável entrava em meu quarto, e eu de repente tive uma sensação de... Estar em casa. Não no modo geral, mas num modo sentimental. Esquisito, mas eu sentia como se devesse estar aqui o tempo todo. Balançei a cabeça e virei para o lado, esticando o braço para trás na tentativa de puxar um travesseiro para mais perto. Quando consegui, senti meus olhos logo pesarem e em minutos estava dormindo.


- Não está bom? - perguntei, em resposta a careta que minha mãe fez quando saí do meu quarto "arrumada".
- Coloque um vestido, pelo amor de Deus. - ela respondeu, um tanto quanto impaciente. Sadie ficava totalmente maluca quando ia receber visitas, isso podia ser duplicado pelo fato de a casa e o lugar serem novos, então ela estava quase tendo um colapso nervoso. Eu lançei um olhar rápido a meu pai, que segurava a risada na sala de estar enquanto era obrigado a varrer cada canto do cômodo, e me vi obrigada a dar meio volta e retornar ao meu quarto.
Abri uma das malas, e tentei achar algo em potencial: havia um vestido simples, azul e preto, tomara-que-caia e com uns detalhes legais na barra. É, acho que minha mãe não iria reclamar disso. Mas, quando terminei a maquiagem e o cabelo (pode contar mais meia hora fácil depois de eu ter trocado de roupa), minha mãe já não tinha olhos para qual roupa eu usava. Tinha umas sete pessoas do lado de fora.
Estávamos fazendo a festa do lado de fora, porque era assim que todo mundo fazia por aqui, pelo que eu entendi. Tinha uma fogueira, comida, bebida, e aparentemente os garotos daqui comiam demais, porque uma tal Emily passara alguns minutos com minha mãe ao telefone e dissera que a ajudaria na cozinha. Eu hesitei quando coloquei o pé, calçado em uma sandália baixa, para o lado de fora do quarto e ouvi vozes altas misturadas a risadas... Não tinha certeza de que não seria muito estranho uma festa para mim onde ninguém me conhecia. Ou onde eu achava que ninguém me conhecia. Tomei um susto quando estava respirando fundo para deixar o quarto e uma mulher com uma enorme marca no rosto me chamou. Eu olhei muito brevemente para o lado completamente desfeito de seu rosto, e vi que ela estava abraçada a Sam. Hm, Emily, certo? Ah, essa era Emily! De San e da comida. Tentei sorrir, mas estava claramente nervosa.
- Olá! - disse, estendendo a mão para cumprimentá-la. Ela poderia ter achado que eu me assustara com seu rosto, mas do jeito que eu olhava compulsivamente para todos os cantos da casa denunciara que eu estava apenas nervosa com gente que eu não conhecia. Emily soltou uma risada animada.
- Não se preocupe, ! Você vai se dar bem com todo mundo. Vamos! - ela me puxou pela mão e me carregou para o lado de fora. Acenei para Sam e ele me respondeu com um sorriso. Quando me vi do lado de fora, todo mundo voltou-se para me olhar. Recebi um coral praticamente gritando "Parabéns!" e todos riram da minha cara de espanto. Isso aí, ! Vire a piada da noite! Odeio atenções em mim.
- , esses são Seth, Leah e Sue Clearwater... - ela apontou para uma garota mais ou menos da minha idade e com cara de poucos amigos, já o garoto era bem novo e acenou sorridente. Eu retribuí o aceno e sorri para Leah, ela não parecia ser muito simpática. A terceira era a mãe deles, e tinha uma aparência meio abatida, mas ainda assim era mais contente que a filha. Sorri para ela também, e então Emily me girou.
- Esse é Billy, mas ele acho que você já conhece. - eu assenti e fui cumprimentar Billy. Ele estava sorrindo, como mais tarde. Será que ele alguma hora ficava sério? - Ele tem um filho da sua idade, Jacob Black, mas acho que ele não vem hoje. - ela explicou, e eu assenti.
- Mas você vai conhecê-lo na escola, acho que vão estudar juntos. - eu disse "Ah, legal!" tentando ser neutra. Podia ser realmente legal ou não, mas Billy parecia ser o tipo de cara que tinha um filho divertido.
- E esses aqui são Quil, Embry, Paul e Jared. - ela me apresentou, de uma vez, para quatro caras enormes que estavam bem juntos, como se formassem algum tipo de defesa. Eu me assustei de cara, mas talvez mais pelo fato de eles serem tão... Iguais. A mesma pele marrom-avermelhada, os mesmos olhos castanhos muito escuros, o mesmo corte de cabelo, muito curto e baixo. Todos usando bermuda, uma blusa lisa de cores diferentes e tênis sujos e desgastados. Imediatamente, eles me lembraram de Sam. Talvez andassem todos juntos, embora Sam tivesse uma aparência de muito mais velhos do que eles.
- Oi, garotos. - acenei, confusa. Todos eles sorriram na mesma hora.
- Você é a , então? - um deles perguntou e, sinceramente, não sabia quem era. Seguindo a ordem de Emily, deveria ser... Paul. É, acho que era ele. Eu apenas assenti.
- Vibbard Quilt. É, eu mesma. - brinquei, e consegui arrancar mais uma risada deles. É, pareciam caras legais.
- Vibbard é um sobrenome muito legal! - ok, esse era Embry. É, era Embry. Eu concordei com ele.
- Também acho, mas também gosto de Quilt.
- É dinarmarquês? - Jared quis saber, e eu assenti.
- Parte de mãe.
- Bom, acho que já posso deixar você por aqui, não é? Preciso ajudar sua mãe com a comida, esses aí parecem pragas. - os quatro garotos fingiram estar ofendidos, e então riram para Emily quando ela simplesmente os ignorou.
- Anda, vamos achar algum lugar para sentar. - Quil nos chamou, e nós cinco andamos um pouco até acharmos uma mesa armada e com lugares vazios. Na verdade, parecia ser uma mesa só pra eles e eu estava ocupando o lugar que deveria ser de Jacob que, eu já havia descoberto, andava com eles.
- Ele é uma bicha. - reclamou Paul. - Não sei porque gosta tanto de ir atrás daquela Bella. Não vai dar pé, ele é cego? - olhei sem entender para ele, e então meus olhos caíram sobre Quil, que concordava com um aceno.
- Vai entender. - deu de ombros. Jared rolou os olhos.
- Ele gosta da garota, ué.
- É, mas ele ainda não teve o imprin...
- Embry! - Paul, Quil e Jared deram um tapa na cabeça de Embry antes que ele pudesse completar a frase. Eu me arriscaria a perguntar, mas isso era tudo que eu lembrava da conversa. Na mesma hora em que eles pareciam dar uma bronca em Embry por qualquer motivo idiota, eu senti meu estômago girar umas três ou quatro vezes como se tivesse alguém girando-o compulsivamente. Quis vomitar na mesma hora, mas não tinha nada no meu estômago para colocar para fora. Minha cabeça tinha começado a girar e eu estava vendo tudo em círculos. Meus olhos estavam pesados e eu sentia que ia desmaiar em alguns segundos.
Tentei respirar fundo, mas faltava ar para puxar, e foi só aí que senti uma mão em minhas costas e outra segurando a minha que tive um mínimo equilíbrio.
- Quarto... - pedi, a voz fraca, quase um sussuro, e seja lá quem for que estivesse me carregando, pareceu entender. Enquanto era carregada para o, eu suponha, meu quarto, senti tudo dentro de mim queimar e se expandir para fora. Era como se o fogo tivesse começado em meu estômago e agora se espalhasse até a ponta dos meus dedos. Era agonizante, e eu sentia minha respiração falhar cada vez mais, porém mais ar chegava aos meus pulmões a cada vez que eu conseguia inspirar, como se eles estivessem aumentando de tamanho...
De repente, cada parte do meu corpo pareceu tomar formas diferentes e eu já não sentia mais nada me carregando para lugar nenhum, mas também não sentia o colchão da minha cama debaixo de mim e nem o calor do meu quarto... Estava frio, uma corrente de ar gelada passava por mim e o farfalhar das folhas das árvores estava muito alto. E então eu ouvia muito mais e não conseguia abrir os olhos porque a dor não deixava, era como se eu pudesse ouvir até o mínimo ser vivo se locomover no bosque qualquer que eu estivesse.
Foi quando tudo pareceu explodir, e meu corpo pareceu aumentar e se transformar em segundos. De repente, eu estava sobre quatro patas e coberta de pêlos brancos. Eu me assustei, tentando mexer alguma parte do meu corpo que fizesse sentido, mas eu estava transformada... Em uma loba. Oh, mas que merda...?


Capítulo 2 -
REALIDADE.

(Capa)
(N/A: Leah Clearwater NÃO é parte do wolfpack nessa fanfic. Seth é. Por quê? Eu não gosto da Leah, só isso. Portanto, você é a primeira garota a entrar no wolfpack. A Leah é bastante minoritária nessa fanfic.)

Eu tentei respirar fundo e entender o que estava acontecendo. Mas eu não conseguia nem regular minha respiração, porque simplesmente não tinha controle do meu próprio corpo. Era tudo tão... Estranho. Havia os sons da floresta. Era como se cada organismo, menor que fosse, tivesse aumentado o volume e agora era quase um rádio muito alto em meus ouvidos. Também havia o fato de que estava agora sobre quatro patas e coberta de pêlos, branquíssimos. Sentia meu formato, e era a sensação mais estranha ter um focinho, rabo... Que merda era aquela?
Eu não estava nervosa porque, estranhamente, era em situações de extremo que eu ficava mais calma. Acho que esse era meu modo de surtar, ficando quieta. Certo. Tentei respirar fundo, e o som alto da minha respiração me assustou. Eu olhei em volta: estava em uma espécie de clareira, onde as árvores formavam um espécie de círculo disforme, a única fonte de luz vinha da lua e a brisa gelada fazendo as folhas se mexerem era quem produzia o único som que chegava ao meus ouvidos.
Tinha que haver uma explicação minimamente razoável... Qual é, não fazia o menor sentido!
Comecei a imaginar se não estava sonhando. Quer dizer, quantas pessoas viram um animal ao completar dezessete anos? Eu sempre tivera minha cota de esquisitisse, mas isso era demais até pra mim.
Ah, relaxe. Você não é a única esquisita.
Eu devo ter pulado de susto, ou latido, ou soltado um uívo ou qualquer coisa dessa. Que voz tinha sido aquela?!
Droga, Paul! Você não consegue nunca ficar quieto quando deve?
O que é que está acontecendo?!
Calma, . Você precisa ficar calma, tudo vai fazer sentido daqui a pouco. Só precisa nos deixar...
Eu podia ouvir a voz de Sam, podia identificá-la, e ao mesmo tempo podia ouvir o som de algo grande se movendo entre as árvores estreitas. Em poucos segundos, um lobo bem maior do que eu, completamente negro, estava se aproximando de mim. Eu sentia dele uma onda de respeito. Não dele por mim, mas de mim para ele. Era como se eu devesse obedecê-lo, e isso fosse quase um instinto. Seus olhos também deixavam claro que era ele, tinha o mesmo brilho de quando eu o conhecera mais cedo... Sério e sensato.
Podem se aproximar.
Sam disse de novo, e então mais sons preencheram a floresta, logo identifiquei: Paul, Quil, Embry, Jared... Hm, não tinha nenhuma garota?
É, você é a primeira.
Não importa o quanto eu pense que sou estranha, eu sempre consigo ser mais. Deus.
Paul riu. Eu lançei um olhar irritado a ele. Ou pelo menos acho que lançei. Ele parou.
Incrível, você tem muito mais auto-controle do que todos nós tivemos na primeira vez. Não está sentindo... Nada demais?
Eu balançei a cabeça (sentindo-a incrivelmente pesada, como cada parte do meu corpo de loba), e era verdade. A sensação horrível tinha sido quando eu começara a me transformar e meio que perdera a consciência, a ponto de não saber para onde ia, nem o que falava. Mas agora... Era só eu presa num corpo esquisito e completamente diferente de mim, com sentidos aguçados. E, ah, vozes na minha cabeça. Dessa vez, foi Embry quem riu.
Vão se foder.
Ui, ela é nervosa.
Será que dá pra gente se concentrar aqui?
Sam resmungou, em tom nervoso, e Jared e Quil pararam de rir. Sam voltou a falar, pensar, sei lá.
O que precisamos fazer agora é... Fazer você voltar ao normal. Vamos ensiná-la a controlar-se quando transformada, mas não hoje. Ele explicou, e eu assenti.
Certo, como eu faço isso?
Precisa se concentrar com muita força. Precisa tirar todo o resto da mente. Não se preocupe, vai ficar mais fácil com o tempo.
Mas, antes, pegue isso.
Paul andou até mim, ele era um lobo cinza-escuro. Carregava na boca uma pequena bolsa, e a atirou no chão. Eu hesitei antes de abaixar minha cabeça para pegar com minha boca, tentando não rasgá-la com meus dentes ultra-afiados que eu percebera ter.
São roupas suas. Sam explicou. Nós as rasgamos quando nos transformamos... Por isso é bom aprender a se controlar.
E andar com mudas. Continuou Jared.
Eu só assenti e dei as costas para os cinco lobos que me observavam. Tentei calcular algum arbusto em que pudesse entrar e ficar completamente escondida quando me transformasse de volta, ninguém precisava ver nada. Ouvi risadas, e claro que foram de Paul. Ele ia ganhar um soco mais cedo ou mais tarde.
Falo sério. Completei, sabendo que ele ouvira meu pensamento. As risadas cessaram.
Ótimo. Resmunguei, e então tentei bloquear os pensamentos deles para me concentrar em me transformar de volta e me sentir um pouco menos esquisita.
As vozes dos garotos cessaram logo depois. Fiquei um tanto mais calma, era difícil colocar as coisas em ordem com cinco vozes na sua cabeça. Como se algum dia eu fosse conseguir colocar tudo isso em ordem. Sam tinha dito para eu me concentrar e tentar limpar minha mente do resto. Pareciam até instruções para meditar. Tive vontade de rir, meditação era a última coisa que tudo isso era. Mas não foi difícil, nada difícil.
Eu senti toda aquela sensação esquisita de meu organismo se transformando, senti a queimação, embora menos intensa, e em alguns segundos eu era eu mesma de volta. Me sentia menor, e minhas mãos, pernas, meus braços, minha cabeça... Tudo parecia mais fino, mais leve. Eu corri para pegar as roupas que Paul me entregara e vesti as jeans e uma camiseta vermelha, calçei tênis brancos que nem lembrara ter. É, tudo parecia estar em ordem, certo?

Saí dos arbustos, agradecendo mentalmente por ter calculado bem o espaço, eu tinha ficado totalmente escondida. Quando me vi de volta ao pequeno lugar sem árvores em que estávamos conversando, os cinco continuavam lá, só que agora em suas formas humanas, só de bermudas e tênis. Foi quando a ficha caiu.
- Meu Deus, que porcaria foi essa?! - eu soltei, espantada. Paul e Embry pularam de susto. Eu me joguei no chão de terra, encostando-me num tronco grosso e antigo de uma árvore de raízes gigantes. - Cara... Eu... Sou uma loba? Um lobisomem? Um... O quê...?
- Na verdade, somos transformos. - explicou Sam. Eu o olhei irritada. Claro, isso explicava tudo. - Seu pai já deve ter lhe contado. Sobre uma das lendas da nossa tribo. A dos frios. - eu franzi a testa. É, ele já tinha contado. Era algo como alguém de nossas tribos tivera feito um trato com os tais frios... Mas, espera aí, se nós éramos os lobisomens, transformos, o que seja, então os frios eram...
- Vampiros? - eu concluí, falando em voz alta e assustada. Não dava pra acreditar. - Existem vampiros aqui? Ah, fala sério.
- Queria que fosse brincadeira. - Paul resmungou, e vi os outros assentirem levemente.
- E... - eu limpei a garganta, temendo a resposta da minha próxima pergunta: - O que exatamente é o nosso trabalho? Porque a gente não setransforma à toa...
- É, não nos transformamos à toa. Nós protegemos nossas terras. Dos vampiros, você sabe. - eu mordi o lábio inferior. Não estava gostando da idéia. Não queria ter que matar ninguém. Não tinha nada contra vampiros até hoje, embora o mais próximo que já estivera deles fora lendo Anne Rice. É, isso era bem diferente.
- Mas acontece que não matamos todos os vampiros. - continuou Quil. Eu lançei um olhar confuso para ele. Agora todos nós seis estávamos sentados em um círculo, Sam na ponta que claramente significava o lugar mais alto para todos nós, já que estávamos todos virados para ele. Ele devia ser o chefe da alcatéia ou coisa assim.
- É, - concordou Sam. - os vampiros com que nossos ancestrais fizeram o pacto ainda vivem aqui. Em Forks. - eu fiz uma careta.
- Faz sentido, aquele lugar é mórbido. - resmunguei. Ouvi risadas.
- Eles são os Cullen. - Sam continuou explicando, não dando atenção as minhas piadinhas. Não esperava que ele desse, de qualquer forma. - Sãoem sete, e um dos poucos que vivem como uma família. Como na lenda, eles são diferentes dos outros vampiros. Não se alimentam de gente, mas sim de animais.- Então eles não fedem nem cheiram pra gente, é isso? - perguntei, cruzando os braços e tentando compreender de modo simples. Dessa vez,Sam riu. Mas eu não entendi o motivo.
- Na verdade, eles fedem bastante pra gente. No sentido literal. - eu fiz uma careta.
- Por que eu li Anne Rice, de qualquer forma? - resmunguei, rolando os olhos. Vampiros era um saco para a gente, já tinha percebido.
- E, bom, no sentido figurado eles também tem fedido e cheirado um pouco. - continuou Jared, incerto. Ele lançou um olhar a Sam, e este suspirou.
- É, os Cullen estão para quebrar o pacto, ou algo assim. Um deles, Edward, tem algo com uma humana chamada Bella. Ela quer virar uma vampira e, bom, se ele a transformar o pacto está quebrado e significa que podemos atacá-los. - eu arregalei os olhos.
- E vamos atacá-los? Quer dizer, se a tal Bella quer virar uma vampira, então não nos diz respeito... - eu calei a boca na mesma hora, parecia ter tocado em alguma ferida deles, porque todos fecharam a cara no mesmo instante.
- A regra é bem clara: se eles transformarem alguém, nós atacamos. - e estava pronta para responder que inflexibilidade era burrice com outras letras e mais sílabas, mas fiquei quieta. Não ia discutir tão cedo, sobre um assunto que eu tinha uma idéia tão vaga.
- Certo, do que mais eu preciso saber? - perguntei, tentando desviar um pouco o assunto antes que o clima pesasse mais.
- Ah, é. - Embry pareceu lembrar-se de algo. - Não fale de Bella quando estiver perto de Jacob. Você ainda não o conhece, ele deveria estar aqui, mas... De qualquer forma, nada de Bella perto dele. - eu apenas assenti, confusa. E a lembrança de minutos antes da minha transformação começar voltou: "Não sei porque gosta tanto de ir atrás daquela Bella. Não vai dar pé, ele é cego?" dissera Paul, e Jared respondera "Ele gosta da garota, ué". Fiz uma careta.
- Ele gosta dela e ela gosta do vampiro? - perguntei. Todos assentiram. - Outch. - Isso sim era uma merda. Mas eu já tinha bastante em mãos para querer me preocupar com o de quem nem conhecia.
- E nós nos curamos rápido. - adicionou Quil, animado.
- Wolverine? - perguntei, rindo. Quil apenas assentiu.
- Uau, demais! - soltei, realmente animada. Eu tinha tendência a esbarrar em coisas e me machucar, isso era ótimo.
- Força, velocidade, temperatura sempre mais alta que o normal... - Embry enumerava, e eu tentava acompanhar. Sabia que ia esquecer de tudo.
- E acho que é só, por enquanto. - Sam fechou, tranquilo. - Você reagiu muito melhor do que todos nós. - eu não sabia se isso era bom, ou se isso fazia de mim uma maluca por não estar surtando com o fato de poder me transformar em um animal. Foi então que uma pequena (gigante) dúvida me assombrou.
- Cara, como vou explicar isso a meus pais? - Sam me lançou um olhar divertido, pela primeira vez.
- Você não acha que veio morar aqui por acaso, não é?

Fui guiada por Embry para fora da floresta, enquanto o resto dos garotos ia muito mais na frente do que nós, já muito acostumados com cada pedaço dali. Eu agradecia Embry a cada vez que ele me erguia pela cintura para ultrapassar uma raiz muito alta ou colocava a mão por sobre um galho antes que eu batesse minha cabeça nele.
- Sério, pare de agradecer. - ele reclamou em um ponto, quando eu quase batera no tronco de uma árvore mais fina logo depois de ter desviado de um outro. Eu soltei uma risada abafada, abri a boca para me desculpar, mas logo a fechei de volta.
- Ok, também não vou me desculpar. - ele piscou um olho, divertido.
- Exatamente. Mas você não devia se preocupar. - ele deu de ombros, os olhos fixos mais a frente, uns três ou quatro passos adiante. - Com o passar do tempo você vai conhecer essa floresta como a palma de sua mão, corremos demais por aqui. - eu assenti, levemente. Mais interessada no modo como ele falara do que na informação em si.
- É legal? - eu perguntei, depois percebendo quão vaga e idiota tinha sido minha pergunta. Logo completei: - Quer dizer, é legal isso? Ser um transmorfo e tudo mais? Ou é uma droga? - Embry soltou uma risada divertida, um sorriso largo e debochado em seu rosto. Eu franzi minha testa, tentando achar o motivo da diversão dele e também olhar por onde andava.
- Cuidado. - ele resmungou, me erguendo pela cintura uma quarta vez e evitando que eu tropeçasse. - Tem horas que é muito divertido. Sabe, somos velozes e tudo mais, tem a adrenalina... - ele deixou a frase solta no ar, como que esperando para que eu pegasse a essência dela. Ele não parecia certo de que eu fosse pegar seus exemplos como o lado bom da coisa. - Mas também pode ser bem chato. Te impede de levar uma vida normal, porque você simplesmente deixa de ser normal. Sabe, é muito perigoso quando ficamos nervosos. Perdemos o controle e podemos acabar machucando alguém... - eu mordi o lábio inferior, e Embry interpretou meu silêncio como medo, ou algo assim.
Ele suspirou.
- Sabe Emily? - eu assenti, vagarosamente. - Sam nunca foi capaz de se perdoar. - eu lembrei do rosto deformado de um lado só dela, e a imagem do lobo negro no qual Sam se transformava uniu-se a ela. Me senti mal no segundo seguinte, dessa vez parando de andar e virando para olhar Embry. Ele tinha o rosto concentrado ainda a frente, e quase esbarrou em mim quando parei abruptamente. Mas seu reflexo era muito bom, e quando virei ele rapidamente parou, uma fração de segundo antes. Demorou um pouco mais de tempo, no entanto, para ele indentificar puro temor no meu rosto. Agora sim eu parecia ter entendido, agora sim eu estava completamente apavorada. Porém, assim que ele compreendeu o que se passava na minha cabeça, soltou uma risada fraca.
- Ei, calma! Não precisa ficar assim. Sam fez tudo sozinho, ele foi o primeiro a se transformar, sabe? Com ele, foi tudo mais dolorido e confuso. Nós temos ajuda um dos outros, e você reagiu muito melhor do que qualquer um de nós reagiu. Relaxa. - ele sorriu um sorriso aconchegante, e eu me vi sorrindo de volta. Embry tinha traços bonitos, e era forte. Me senti protegida quando seus braços passaram ao meu redor, e o abraço durou tempo suficiente para eu me ver mais tranquila.
- Certo. - disse, baixinho. - Vai dar tudo certo, eu vou ficar bem.
- Vai. - Embry concordou, e passou um braço ao redor da minha cintura, me guiando para fora da floresta.
Ele engatou em uma conversa sobre como suas características de lobo serviam para conseguir encontros com garotas mais velhas, e nós fomos rindo até o resto do que seriam meus amigos de agora em diante. Quando nós nos aproximamos o suficiente para Paul resmungar (", você é muito lerda!") e eu poder revidar com um tapa em sua cabeça, foi que eu percebi que tudo ia mesmo ficar bem, de um jeito ou de outro.


Capítulo 3 -
JACOB BLACK.

(Capa)

Eu acordei de bom humor.
Isso era o maior sinal de que havia algo monstruosamente diferente em mim. Eu nunca acordava de bom humor, e se não fosse por isso eu acharia que todos os fatos da noite passada tinham sido parte de algum sonho muito real meu. Mas eles realmente não eram, eram tão reais quanto eu podia imaginar. Mesmo que eu quisesse fingir que não eram, eu tinha características que me impediam de fazê-lo: a temperatura do meu corpo estava claramente mais alta, para um ser humano normal significaria febre; eu estava muito mais ágil e meus reflexos muito mais rápidos, eu costumava ser muito mais desastrada; meu rosto não era mais o mesmo, eu não parecia mais tanto com uma adolescente, tinha traços adultos, a expressão levemente mais dura. Quando eu sorri, me achei bonita pela primeira vez em dezessete anos. É, não devia ser tão ruim assim.
Na noite anterior, eu fizera Paul e Quil me carregarem até dentro de casa, enquanto jogava os dois em um quiz sobre suas vidas na tentativa de fugir de meus pais. Não importasse o quanto Sam me dissesse que eles sabiam de tudo, eu não ia acreditar que eles não achariam que a filha tinha enlouquecido de vez. Graças aos Céus havia uma entrada pelos fundos da minha casa, que Paul conhecia. Quando eu lancei um olhar desconfiado para ele, sua resposta foi de que minha casa tinha ficado vazia por uns seis meses quando ele era criança, e já tinha servido de esconderijo para brincadeiras. Eu preferi comprar essa história do que descobrir o que não queria.
Os dois me deixaram em meu quarto, mas não foram embora imediatamente. Eu me joguei sobre minha cama, só então percebendo como eu estava cansada, e Paul se sentou na cadeira de frente para a escrivaninha, se esticando para pegar um livro qualquer na estante antes. Quil pegou uma revista qualquer também e sentou-se no chão. Eu franzi a testa para os dois, mas não reclamei. Eu gostava de companhia, e eles pareciam tão confortáveis... Conversamos por mais meia hora, e foi quando o cansaço realmente me atingiu e eu estava quase dormindo sentada, com os travesseiros apoiando minhas costas. A última coisa da qual eu lembrava era dos dois dizendo "Boa noite" e saindo do meu quarto depois de apagarem as luzes.
E, agora, observando meu reflexo no espelho enquanto penteava meus cabelos com os dedos, foi que me dei conta de que estava sozinha e consciente pela primeira desde os acontecimentos da noite passada. Suspirei, soltando uma risada nervosa em seguida. Como eu conseguira fazer tudo ficar tão de cabeça para baixo? Tinha tanta coisa que ainda não fazia nem o mínimo de sentido na minha cabeça, queria saber quando Sam iria me contar o resto.
Era uma manhã cinza, as nuvens pareciam pesadas demais para ficarem seguras sobre nossas cabeças e o vento batia nervoso nas árvores, fazendo-as balançarem de um lado para o outro, sincronizadas. Eu fiz uma careta quando observei o tempo pela janela, logo depois enfiando um guarda-chuva na mochila. Eram seis e meia da manhã quando eu fiquei pronta, vestindo jeans escuras e justas, tênis pretos com detalhes em vermelhos, e uma camiseta branca com uns desenhos vermelhos também. Olhei meu reflexo no espelho e respirei fundo. É, não tinha como não ficar nervosa com o primeiro dia de aula. Pelo menos eu tinha Paul, Embry, Quil e Jared para me apoiar, só não sabia dizer se andar com eles significava algo bom ou ruim. Na minha antiga escola, em San Diego, eu era altamente neutra e gostava: ia a algumas festas, falava com todo mundo e tinha notas medianas. Eu não precisara de nem um dia inteiro aqui para descobrir que de neutra eu já não tinha mais nada.
Saí do meu quarto com a mochila jogada em um ombro, a alça na minha mão, esperando encontrar minha mãe e meu pai sentados no sofá da sala assistindo ao jornal matinal e tomando suas xícaras de café puro com pão e manteiga, como eles sempre faziam desde que eu me entendia por gente. Ao invés disso, encontrei cinco garotos ao redor da mesa da cozinha (que por sorte era grande), todos conversando e rindo. A tv estava ligada, mas no canal de desenhos. Eu abri um sorriso, sabia que eles só tinham tamanho.
- Até que enfim! Achei que fôssemos precisar... - Embry tinha começado a falar, e eu tinha lançado um olhar rápido a ele, mas quando ele me notou, os outros quatro garotos também. E um deles, que era totalmente estranho a mim, me fez esquecer de todo o resto. Foi a melhor e mais estranha sensação da minha vida.
Eu senti o ar faltar em meus pulmões, senti tudo ao meu redor parecer ficar sem lugar, como se tudo que eu conhecesse até hoje perdesse razão e valor, e a partir de agora tivesse um significado diferente, e ele fosse o motivo. Eu observei seus olhos castanhos e escuros, impressionada com a mistura de sensações estranhas e boas que faziam meu estômago se retorcer e minha cabeça girar, e foi quando ele abriu um sorriso para mim, e uma necessidade absurda de estar perto dele, de ouvir sua voz e olhar em seus olhos surgiu em meu peito. Eu conhecia aquele sorriso...
Ele se aproximou de mim, e eu senti meu coração acelerar, cada batida doendo em meu peito e soando alta em minha cabeça. Eu nunca acreditara em amor à primeira vista, era muito absurdo e digno, aparentemente, apenas de filmes. Mas era exatamente como eu me sentia agora...
Apaixonada, absurda e profundamente.
E, mesmo sabendo que isso devesse soar como piada para meus ouvidos, eu não conseguia pensar em mais nada que fizesse maior sentido. Eu nem conseguia pensar em mais alguma coisa.
Ele se esticou para segurar minha mão, e eu estremeci quando as pontas de seus dedos tocaram a palma da minha mão. Ele também parecia procurar por contato, do mesmo modo que eu. Havia alguma força invisível que me obrigava a me inclinar para ele, a procurar modos do tocá-lo e ter sua atenção para mim. Eu estava ao mesmo tempo assustada e encantada com a situação, não era como se eu estivesse em minha consciência. Sabia que não agiria daquele jeito, se eu estivesse.
- , esse é Jacob. - a voz de Paul me acordou. Eu pisquei os olhos algumas vezes, assustada, tentando me situar. E tudo pareceu mudar: a sala, a cozinha, tudo voltou a ter lugar em minha cabeça, ao invés de serem só imagens borradas; Embry, Paul, Quil e Jared voltaram a fazer parte do cenário também, e todos eles olhavam de mim para Jacob sem entender a situação; Jacob... Pensei por alguns instantes. Jacob Black. Black. Billy Black. Ah, claro, agora eu lembrava de onde conhecia aquele sorriso.
- Eu... É... Hm, prazer. - ia esticar a mão para cumprimentá-lo, mas ela já estava entrelaçada com a dele. Observei nossas duas mãos, percebendo como a minha se perdia na gigante dele, e em como eu parecia branca feito papel perto de sua incrível pele marrom-avermelhada. Ele soltou uma risada pequena, passando a mão livre pelos cabelos curtos, negros e lisos. Eu notei como ele era grande, cheio de músculos. Era bem maior do que os outros garotos que nos assistiam, mas talvez menor do que Sam.
- Quilt, certo? - ele perguntou, alguns instantes depois. Eu assenti, tentando abrir um sorriso, menor que fosse, também. Nós dois soltamos nossas mãos. Não tinha certeza de que conseguira sorrir.
- Nós vamos nos atrasar... - a voz de Embry cortou o silêncio que se instalara, enquanto eu procurava minha voz, e todos pareceram olhar para o relógio na parede da cozinha ao mesmo tempo.
- Oh, é verdade! Melhor irmos logo, você não quer chegar atrasada no seu primeiro dia. - Quil disse, e eu concordei com um aceno da cabeça. Na verdade, a idéia de ir para uma escola nova já não tinha um efeito tão aterrorizante em mim quanto tinha alguns minutos antes.
- Vou pegar alguma coisa pra comer no caminho. - disse, desviando de todos eles para chegar aos armários altos da cozinha. Me estiquei para pegar duas barras de cereais e abri uma enquanto procurava pelo molho de chaves que meu pai deixara sobre minha mesa de manhã cedo. - Pronto, vamos.
Eu me distraí do fator Jacob por um instante, quando desci os dois degraus que separavam a porta de casa do jardim acompanhada de cinco caras enormes. Eu os observei descendo, um a um, esperando para poder trancar a porta de novo. Jared ergueu uma sobrancelha.
- Qual é a graça?
- Vocês são todos iguais, é bonitinho. - brinquei, e ganhei uma simulação de um soco na minha cara de Paul. Mas fiquei totalmente surpresa quando minha mão direita se ergueu, aberta, e segurou o soco que não iria acontecer de Paul. Observei sua mão fechada dentro da minha por alguns instantes. Paul abriu um sorriso grande.
- Uau! Alguém tem reflexos agora! - ele bateu palmas, debochadamente, e eu mostrei a língua. - É bonitinho! - ele imitou minha voz, e eu comecei a rir.
- Eu não falo assim! - fomos andando até a escola, já que era um caminho bem curto da minha casa, e todo o tempo Jacob estava andando atrás de mim. Eu podia senti-lo, mas ele não falava e pouco ria das brincadeiras dos outros.

A escola da reserva era relativamente grande, embora qualquer prédio parecesse grande quando tudo que se tinha para comparar eram pequenas casas ao redor. Havia um estacionamento cercando o prédio de três andares, praticamente vazio e, assim que chegamos a porta de entrada, todos os garotos já estavam cumprimentando outras pessoas. Eu me senti deslocada e, lembrando que deveria passar na secretaria para pegar meu horário, os interrompi rapidamente para dizer que os encontraria na sala de aula, mais tarde. Todos eles assentiram, e meu olhar se prendeu em Jacob, quando girei nos calcanhares e segui a indicação de Embry, para dar a volta e entrar pro trás, que eu chegaria mais rápido. Jacob esboçou um sorriso, e eu fiz o mesmo.
Só fui perceber a tensão que eu sentia quando ela foi embora, e isso foi só quando eu estava bem longe de Jacob. Eu não conseguia entender o que acontecera, nunca gostara de ninguém assim tão rápido. Pra falar bem a verdade, eu quase nunca gostava de alguém. Jacob era muito bonito, tinha um sorriso lindo e tinha provocado todas aquelas sensações em mim, mas havia o fato de que ele gostava da tal Bella, a garota do vampiro. Eu suspirei, tentando deixar aquela história para lá. Realmente não precisava ter uma queda (muito grande) por ninguém agora, muito menos alguém tão complicado. Eu já era complicada o suficiente.
Segui o caminho indicado por Embry, e parei em frente a uma porta branca com "Secretaria" escrita em letras garrafais em um placa também branca, presa ao topo da porta. Girei a maçaneta e chamei a atenção de duas mulheres quando o fiz: uma delas era bem gordinha, com os cabelos loiros cacheados, o rosto todo fechado como se ela estivesse contraindo-o; a outra era bem magra, os cabelos também loiros muito lisos e um sorriso muito grande no rosto. Elas eram tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais que era uma visão engraçada. Incerta sobre com quem eu deveria falar, me pus de frente para o balcão de madeira que me separava delas e falei, olhando para ambas:
- Eu sou aluna nova, acabei de chegar... - expliquei. - Precisava dos meu horários, salas...
- Oh, claro! - a gordinha disse, e ela e a outra começaram a remexer papéis debaixo de suas mesas. Em alguns instantes, uma delas me entregou um formulário e outra veio com meus horários.
- Você só precisa preenchê-lo, ok? - ela apontou para o formulário e me entregou uma caneta. Eu assenti e comecei a responder o que era pedido, logo depois eu estava saindo de lá com meus horários em uma mão e um pequeno mapa das salas na outra. Assim que li "Matemática - Sala 4" o sinal tocou, e a multidão de alunos que se misturava nos corredores entre os armários rapidamente se desfez, sumindo nas salas próximas. Eu suspirei, percebendo que deveria andar logo para chegar o menos atrasada possível.
- Perdida? - eu não me assustei pelo fato de ter mais alguém no corredor vazio, e nem por sua voz ecoar pelas paredes, me assustei por quem era e pela voz que ecoara. Me virei lentamente, ele estava atrás de mim.
- Basicamente. - respondi, tentando sorrir. Jacob riu, e andou em minha direção, esticando-se para olhar meu horário de aulas.
- Ah, sala quatro. Vamos lá, eu te levo. - ele indicou o corredor que se estendia a nossa frente com a mão e então começamos a andar. Ele colocou as mãos nos bolsos das jeans, e eu lançei um olhar discreto a ele, tendo que levantar e muito minha cabeça para poder vê-lo, Jacob era muitos centímetros mais alto do que eu. Cruzei os braços sobre a cintura, apertando-os contra minha barriga como que para fazer parar o nervosismo crescente que meu organismo sentia, não ajudou em nada. O silêncio entre nós não exatamente me incomodava, mas a proximidade me deixava maluca. Seja lá o que fosse que eu começara a sentir por Jacob, a vontade que eu sentia de me aproximar dele era gritante.
Passávamos pelas salas já cheias, e alguns professores lançavam olhares para a gente, mas nenhum se dispôs a nos mandar para a Detenção ou qualquer coisa do tipo. Antes que eu pudesse perceber, Jacob parara de andar e indicara a porta a sua frente, e atrás de mim. Eu me virei para observar o professor, que escrevia compulsivamente no quadro negro. Me virei de volta para Jacob.
- Obrigada. - respondi, realmente agradecida. Ele balançou a cabeça.
- Sem problemas. - sorriu, e eu fiz menção de entrar na sala. Jacob colocou uma das mãos em minha cintura, interrompendo qualquer próximo ato meu. O observei, insegura. - Escuta, temos a próxima aula juntos. Inglês. - ele apontou com a mão livre para o horário. Eu assenti, vagarosamente, esperando para ver onde ele queria chegar. - Me espere aqui, vou vir te buscar. - e com essa, sem dar nem brecha para que eu pudesse respondê-lo, Jacob abriu a porta para mim, chamando a atenção de todos da sala e me deixando provavelmente muito vermelha. O professor olhou irritado para a porta, mas abriu um sorriso simpático quando viu que era Jacob.
- Aluna nova. - Jacob explicou, me indicando, e eu entrei feito um furacão na sala de aula, agradecendo e muito pelo lugar vago no fundo da sala.

A aula transcorreu sem maiores problemas. O professor explicou uma matéria que eu já aprendera no antigo colégio (o que não significava que eu compreendera) e nos deixou fazendo exercícios na meia hora seguinte. Eu falara com algumas pessoas, mas esquecera do nome delas logo depois de elas se apresentarem. Foi só quando o sinal tocou e se misturou ao som de todos juntando o material que eu senti a boca do meu estômago dar um nó.
Eu estava com medo de sair da sala e me deparar com duas situações: encontrar Jacob na porta, me esperando - eu não sabia como reagir a todo aquele charme dele, confiança, sorrisos demais, elegância; era muita coisa, e eu era pouca -, ou não encontrar Jacob na porta e me sentir muito estúpida por ter passado tanto tempo pensando em algo que não merecia minha atenção.
Fui a última a sair da sala, tentando andar o mais devagar possível, para o caso de Jacob ainda não estar na porta. Mas ele já estava lá. Senti, ao mesmo tempo, alívio e nervosismo. Como isso era minimamente possível? Ah, por que eu ainda insistia no possível?
- Até que enfim! - ele disse, alto, quando me viu. Eu percebi o olhar de algumas pessoas em nós e tentei olhar significamente para ele. - O que foi?
- Fale baixo. - resmunguei. Eu realmente odiava pessoas me olhando. Jacob rolou os olhos.
- Bem que me avisaram que você era esquentada. - soltei uma risada, um tanto quanto menos nervosa.
- Olha quem fala. - brinquei, e ele logo entendeu a referência a temperatura corporal e não ao temperamento. Jacob soltou uma risada divertida, e eu pode ver seus dentes muito brancos. O sorriso dele era realmente incrível.
- Falando nisso, hoje vamos nos encontrar na casa de Quil logo depois das aulas, você precisa saber de algumas coisas ainda. - eu tive vontade de começar a discutir com ele agora mesmo, o monte de coisas que eu ainda não entendia sobre minha nova condição, mas imaginei que a escola não fosse nem de longe o melhor lugar.
- Eu vou com algum de vocês, não faço a menor idéia de onde é a casa dele. - disse, e Jacob apenas assentiu.
- Você vai comigo, também temos a última aula juntos. - peguei meu fichário de capa transparente, e o coloquei debaixo dos olhos. Eu havia colado o horário de modo que pudesse vê-lo sem precisar abrir o fichário, e lá estava, "História Mundial - Sala 12", no último tempo de hoje. Balançei a cabeça, confusa.
- Você decorou meus horários?
Jacob não respondeu, só riu.
Entramos na sala oito e Jacob indicou dois lugares vagos ao fundo da sala. Joguei minha mochila sobre a mesa que ficava no canto da parede, e ele se sentou ao meu lado. Enquanto ele arrumava a mesa, tirando um livro da mochila e observando o conteúdo de seu estojo surrado, eu parei para observá-lo: ele usava calças jeans escuras, tênis brancos e gastos, uma camiseta sem mangas cinza-escura e lisa. Como eu poderia achá-lo tão encantador só usando isso? Ele não tinha nada demais, além de ser musculoso e ter um corpo muito bem definido, pelo menos até onde eu podia ver.
Então de repente me peguei pensando em quantas mais garotas por ali deveriam ficar olhando-o com tanta vontande quando eu olhava, e me senti ridícula no mesmo instante. É, não deveria ser só eu. Me virei irritada para frente, irritada comigo mesma, e puxei uma caneta qualquer do meu estojo, começando a rabiscar compulsivamente numa folha de fichário qualquer. A professora entrou logo em seguida, e então começou uma longa descrição sobre Literatura e, quando eu já nem mais prestava atenção em suas palavras, o sinal soou alto em nossos ouvidos. Tinham sido dois tempos de aula, e a professora parecia sinceramente surpresa quando se deu conta de que os dois já tinham passado.
- Não esqueçam dos exercícios dos capítulos cinco e seis! - ela gritou, para muitos inutilmente, enquanto todos deixavam a sala para o refeitório. Agora era a hora do almoço.
Jacob havia ficado quieto durante toda a aula, vez ou outra me lançando olhares rápidos que eu percebia, mas sem abrir a boca. Imaginava se a minha breve irritação tinha sido tão perceptível assim, e me senti levemente culpada. Quer dizer, ele não tinha culpa alguma, e estava sendo legal comigo. O que ele podia fazer se eu estava toscamente caída por ele? É, nada. Respirei fundo e arrumei meu material o mais rápido que pude, para conseguir chegar a porta antes que ele o fizesse. Jacob me olhou confuso.
- O que foi? - quis saber, e eu dei de ombros.
- Ué, não vamos almoçar juntos? - tentei soar divertida, e até abri um sorriso. A expressão dele relaxou no mesmo instante.
- Vamos. Os caras já devem estar nos esperando.
Para Jacob se empolgar com algo, parecia apenas precisar dar corda. Ele me carregou feito um furacão até o refeitório da escola, sob minhas reclamações de que depois ele teria que me ensinar a andar pela escola sem ele me carregar para cima e para baixo. Rindo, nós dois chegamos até a mesa redonda que ficava mais ou menos no centro do grande espaço que era o refeitório, lá estavam Quil, Embry, Jared e Paul com bandejas entupidas de comida até onde dera para eles entupirem. Eles eram os que eu conhecia da mesa, lá também estavam um garoto mais novo, sorridente e outros dois garotos bem parecidos e animados demais, falando sem parar. Os três tinham feições bastante infantis.
De qualquer forma, todos nos olharam desconfiados quando chegamos, talvez animados demais.
- Olha, ela sobreviveu! - Embry cantarolou quando eu joguei minha mochila numa das duas cadeiras vazias, desviando a atenção de todos para minha situação na nova escola, e não para minha situação com Jacob. Eu ainda não tinha esquecido que todos também nos olharam desconfiados na minha cozinha, pela manhã. Mostrei a língua para Embry, divertida, enquanto na verdade estava bastante agradecida, e então me virei para Jacob.
- Vai pegar alguma coisa para comer? - perguntei, e ele me olhou como se eu estivesse perguntando se o macaco quer banana. Bom, talvez eu estivesse mesmo perguntando isso. Fomos até a fila e voltamos com bandejas bem distintas: Jacob pegara praticamente tudo que ele conseguira colocar na bandeja, desde frutas até pedaços de pizza e sobremesas de chocolate; eu vinha com um suco de caixinha e alguns biscoitos. Todos me olharam quando eu coloquei minha bandeja sobre a mesa.
- Ninguém contou a ela? - perguntou Jared, e vi Paul soltar uma daquelas risadas de "estou tirando com a sua cara" dele.
- Ninguém me contou o quê? - perguntei, interessada, e dessa vez foi a vez de Quil e Embry rirem.
- Nada, vamos lhe contar mais tarde. Aliás, eles também andam com a gente. - Jacob respondeu, cortando o que quer que fosse, e indicando com a mão o garotinho mais novo e os outros dois tagarelas. - Seth. - ele abriu um sorriso grande para mim e acenou freneticamente. Eu sorri de volta. - Brady e Collin. - eles pararam de falar apenas para me cumprimentar com sonoros "E aí?" e "Beleza?". Por "também andam com a gente" eu logo entendi que eles também eram transmorfos. Legal, eu era mesmo a única menina.
Lancei um olhar em volta, observando o resto do refeitório, notando pela primeira vez as outras pessoas: ninguém parecia ligar muito para quem eu era, nem porque eu estava numa mesa só de garotos. Me senti agradecida por isso, acho que não aguentaria uma outra rodada de esquisitisses para o meu lado.
Não foi nada difícil me enturmar com Seth, Brady e Collin. Em questão de minutos estava conversando com eles, e logo com a mesa toda. Eu sempre lidara melhor com garotos do que com garotas, mas agora isso era mais perceptível do que nunca. Eu tinha até conseguido contornar bem quando eles começaram a falar de garotas, me dispondo a ajudá-los e dizendo que eles precisavam ser menos porcos e mais educados, o que gerou uma sessão de "Ow!" de todos, com exceção de Seth, que só ria da confusão que eu criara.
Deixamos a mesa apenas quando o sinal soou alto mais uma vez, e eu acenara para Jacob na porta do refeitório, me despedindo dele por dois tempos, indo para a esquerda acompanhada de Embry e Quil, enquanto ele ia com Paul, Jared, Brady, Collin e Seth para a direita.
- Então, , o que achou até agora? - Paul quis saber, e eu dei de ombros, distraída. De verdade, não tinha muito do que reclamar: tinha amigos; Paul e Embry estavam sendo prestativos, um carregando minha mochila e outro meu fichário; as coisas com Jacob estavam razoavelmente equilibradas, já que eu estava ao menos conseguindo lidar com os sentimentos que eu sentia quando ele se aproximava... Levando em conta que ontem eu me transformara em uma loba, estava tudo melhor do que nunca. Soltei uma risada com meu pensamento.
- Estou adorando. - respondi, sorrindo. Embry me lançou um olhar desconfiado.
- É sério! - insisti, ainda rindo.
- Eu não sei como você está tão equilibrada, de verdade. Normalmente precisamos de muito mais tempo do que horas... - ele argumentou, e eu apenas assenti.
- Eu nunca fui boa em seguir padrões. - Paul indicou uma porta a esquerda com a cabeça, e nós três entramos na sala de Biologia. Embry foi para uma mesa ao fundo da sala, já cumprimentando uma garota que parecia ser sua parceira de laboratório, e Paul fez o mesmo, só que cumprimentando um garoto na ponta direita da sala. Eu mordi o lábio inferior, perdida, e então o professor notou minha presença:
- Quilt, estou certo? - eu apenas assenti, agradecendo mentalmente pelos alunos ainda estarem falando muito alto entre si para me notar. O professor sorriu.
- Certo, tem um lugar vago ao lado de Alex. - ele indicou com a cabeça uma mesa no canto direito, logo atrás de Paul. Eu me virei para olhar a mesa que ele indicava, fiquei aliviada quando percebi que já conhecia Alex da aula de Matemática.
- Ok, obrigada. - respondi, abrindo um pequeno sorriso, e então andando lentamente até o banco alto e vazio ao lado de Alex.
Alex era um cara legal, bonito até, e bem simpático também. Ele serviu o suficiente para conversar e para fazer a aula passar mais rápido do que passaria se eu estivesse entediada. Fizemos os exercícios e ficamos com dez minutos de sobra, onde aproveitamos para conversar. Depois, ele se ofereceu para me levar até a sala de História Mundial, e eu aceitei, notando os olhares que Paul e Embry me lançaram quando me viram sair da sala ao lado de Alex. Imaginei o que eles diriam depois, mas não estava realmente preocupada. Eu sabia bem por quem meu coração acelerava, eu só precisava colocar tudo em ordem porque ainda não fazia sentido algum.
Fez menos sentido ainda quando Alex me levou até a porta da sala de aula, onde Jacob estava do lado de fora. Ele sorriu para mim, mas fechou a cara no instante em que seus olhos pararam em Alex. Me virei para me despedir dele.
- Acho que fico aqui. Obrigada, Alex. - disse, e ele sorriu.
- Sem problemas. A gente se vê. - eu assenti, achando-o empolgado até demais. Girei nos calcanhares e fui andando em direção a Jacob, ele logo sorriu de volta, abrindo a porta para que eu pudesse entrar, me seguindo logo depois. Isso ia dar trabalho.


Capítulo 4 -
WOLF PACK.

(Capa.)

- Não acredito! - a voz alta de Paul, ainda mais elevada com seu grito indignado, ecoou na pequena sala de estar de Quil. Eu pude ouvir, em seguida, as risadas de Embry, Quil, Jared e Jacob, enquanto Seth parecia comemorar.
- Ele perdeu?! - Brady saiu disparado da cozinha, seguido de Collin, os dois cheios de pacotes de biscoito e batatas nas mãos. Eu estava na mesinha que ficava ao lado da porta da cozinha, e atrás da sala, de modo que eu podia olhar o sofá e os garotos de costas para mim, e a tv a minha frente, exibindo um jogo qualquer que eles haviam escolhido.
Ao contrário deles, eu tinha livros e mais livros espalhados na mesa, assim como minhas anotações do dia. Enquanto esperávamos por Sam, eu decidira que devia colocar meus deveres de casa em ordem, antes que se tornassem uma bola de neve. Eu tinha muita experiência com acumular deveres, e nenhuma delas era boa.
É claro que isso também era minha tentativa de escapar o máximo possível de Jacob. Eu tinha concluído que era melhor passar menos tempo perto dele, já que eu parecia uma idiota ao seu lado, ou ao menos me sentia como uma. Eu precisava primeiro entender o que quer que estivesse acontecendo comigo e com meus sentimentos ridiculamente fortes. Aí sim eu podia tentar agir como uma pessoa normal. Então eu me concentrei nas muitas páginas de Biologia que pouco faziam sentido, e mais ainda nos exercícios não terminados de Matemática. Em meio aos berros dos garotos, eu consegui terminar os exercícios de Inglês e até começar a redação que fora pedida.
Volta e meia, eles lembravam de mim e perguntavam se eu não queria jogar também, ao que eu respondia "Ah, é, claro. E você quer seu videogame quebrado, Quil?" e ganhava uma almofada na cara. De vez em quando, me levantava para me servir de alguns biscoitos e pegar refrigerante. Eu estava gostando, no entanto. Talvez, se não fosse pelo pequeno (grande) problema com Jacob, eu estivesse totalmente relaxada. Parte do nervosismo também vinha do que quer que fosse que eu deveria aprender sobre minha nova situação hoje. Tudo que acontecera com Jacob meio que me fizera esquecer que eu agora podia me transformar em uma loba. Não parecia fazer sentido, me preocupar mais com meus sentimentos repentinos, inexplicáveis e razoavelmente fortes por Jacob, enquanto eu era mutante o suficiente para me transformar em uma loba. Ou eu tinha que rever minhas prioridades, ou eu ainda precisava entender muita coisa.
Foi entre fechar o livro de Inglês e abrir o de Matemática que Sam apareceu, calmo e sério como sempre, e se jogou no sofá da sala depois de Quil ter aberto a porta para ele.
- Podemos? - ele perguntou, e os garotos desligaram o videogame meio a contragosto. Ele lançou um olhar para trás, me procurando. - ?
- Estou indo! - respondi, tentando organizar meus livros de modo que eu pudesse pegá-los mais tarde e não perder meia hora tentando entender a bagunça que eu fizera. Coloquei o livro de Matemática no topo da pilha, fechei o estojo e o deixei do lado do fichário. Então fui para a sala mínima de Quil, todos nós quase não cabíamos ali. Sem idéia de quanto tempo ficaríamos ali, eu decidi me sentar entre Embry e Paul, que estavam sentados no chão. Paul me deu um tapa na cabeça quando me sentei, ganhando um soco no estômago, e Embry passou o braço em volta de meus ombros, rindo. Lancei um olhar para Jacob, que estava bem de frente para mim, e ele sorriu. Tentei sorrir de volta. Deus, meu coração precisava acelerar desse jeito toda vez que eu o via?
- Certo. - Sam disse, o tom de voz grave, e todos olhamos automaticamente para ele. - , tem alguns detalhes que são importantes. Muito importantes. Preciso que você preste atenção. - eu assenti, séria. Abracei minhas pernas e apoiei a cabeça nos joelhos, esperando que Sam começasse. - Nós estamos em meio a uma caçada. Ou como você quiser chamar. Há uma vampira que precisamos pegar, o nome dela é Victoria e está atrás de Bella. - vi o maxilar de Jacob ficar completamente imóvel, sua expressão foi de tranquila para irritada em meio segundo.
- Por que atrás de Bella? - questionei.
- Edward, um dos Cullen, matou o parceiro dessa Victoria, também vampiro, quando ele tentou matar Bella.
- Ah. - foi tudo que eu consegui responder. Mesmo. Francamente, qual era o problema dessa Bella?
- Estamos fazendo turnos para cobrir o nosso lado das terras. Mas não se preocupe, você não vai tão cedo. Primeiro, vai treinar comigo e com os garotos. Ainda não temos muita certeza sobre o que você consegue ou não fazer. - eu assenti. - Mas não se preocupe, é mais fácil do que parece agora. - É, vou tentar comprar essa. - respondi, sarcástica. Sam soltou uma risada abafada.
De verdade, eu não estava assustada. Mas talvez fosse só até o dia chegar. Eu provavelmente ia morrer de medo de ficar no mesmo lugar que os outros, como loba, esperando uma vampira sedenta pro vingança aparecer para que pudéssemos trucidá-la. É, parecia um plano bem capaz de me aterrorizar.
- A outra coisa é, e acho que você pode até gostar dessa parte: você não vai mais envelhecer, pelo menos não enquanto tivermos vampiros por perto. - dessa vez, eu arregalei os olhos. Eu tinha ouvido direito? - Nós ficamos presos nos nossos corpos uma vez que começamos a nos transformar. Quando os vampiros deixam a região, paramos de nos transformar e voltamos a envelhecer como deveríamos. É uma questão de defesa.
- Presa no corpo de dezessete anos. Não tem do que reclamar, hein? - Quil foi o autor da piada, e eu mandei o dedo do meio para ele, não conseguindo evitar a risada.
- Certo. Caçar, não envelhecer... Por que todo mundo me escondeu as partes boas? - eu brinquei, e todos riram.
- De verdade, não sabemos lidar com uma garota-loba. - Jacob disse, não mais irritado. Talvez por termos mudado de assunto. Eu o olhei e parei de rir, erguendo uma sobrancelha. - Quer dizer que vocês são assim tão machistas? Eu não sou de vidro, sabe. - meu tom de voz não era sério, então ninguém fechou a cara quando eu brinquei. Seth foi quem me respondeu:
- Não, é que nós sabemos que você não é tão forte quanto nós somos. - ele soltou a frase num tom tão cheio de razão que eu comecei a rir. Puxei uma almofada que estava perto e acertei em seu rosto. - Ei! - ele reclamou.
- Volta pra creche, Seth! - ele jogou a almofada em meu rosto.
- Hey, hey! Brincadeiras violentas de lobos costumam acabar com coisas quebradas. - Jared se meteu, com as duas mãos abertas e movimentando-as para baixo, indicando o final da pequena guerra de almofadas.
- Ah, esquecemos de uma coisa. - Brady lembrou, e então olhou para Collin, esperando que este lembrasse também. Logo os dois trocavam olhares risonhos.
- Imprinting. - eles falaram juntos, e encararam Sam. Este assumiu uma certeza diversão no rosto, logo em seguida. Eu franzi a testa. Imprinting?
- Isso pode ou não acontecer com você, não acontece com todos nós. - ele começou, e eu assenti, incerta. - É quando... Nós achamos nossas almas gêmeas. Sei que parece estranho, mas é a explicação mais palpável que posso lhe dar. Na verdade, parece um sentimento muito mais forte que o amor. - na mesma hora, eu senti como se algo de repente fizesse total sentido dentro de mim. Como estar numa sala escura e alguém acender a luz. Me forçei a não olhar para Jacob.
- E como funciona? - eu quis saber, esperando com todas as minhas forças que não estivesse soando desesperadamente interessada.
- Bom, é mútuo. Uma vez que você sente, a pessoa em quem você teve o imprinting também sente. É meio que amor à primeira vista. - Jared foi quem me respondeu, e eu lancei um olhar rápido a ele. E então olhei para Sam.
- Vocês dois tiveram imprintings? Você teve seu Imprinting na Emily?
- Sim. Para as duas perguntas.
- Oh. - então eu não tivera Imprinting algum em Jacob. Era para ele sentir o mesmo, ele não sentira. Certo? Ele só estava sendo simpático comigo, e eu vendo coisas demais.
- O que foi, ? Andou tendo algum Imprinting hoje? - Paul fez piada, e eu tentei rir. Acho que tinha.
- Não, Paul. Hoje não. - ele riu outra vez, e então eu fiquei de pé. Embry me lançou um olhar estranho. Esperava honestamente que ele não tivesse tato o suficiente para perceber que tinha algo me incomodando.
- Pega mais refrigerante? - Collin me pediu, e eu apenas assenti. Agradecendo a oportunidade de sair dali. Brady e Collin eram bem novinhos, tinham treze anos. Seth era só um pouco mais velho que eles, mas ainda assim a idéia daqueles três como lobos, correndo atrás de vampiros... Estremeci. Não era meio perigoso demais? Eu não conseguia ver nem eu mesma agindo assim, quem diria eles... Eram crianças. Abri a geladeira de Quil e tirei de lá um garrafa de refrigerante fechada. O setor de comida da casa de Quil era equipado, cheio de besteiras. Estava começando a imaginar que era assim na casa de qualquer um deles, e ia acabar sendo na minha também. Era estranho, mas eu realmente estava ficando com mais fome. As barras de cereais, o almoço e o lanche não tinham servido para me manter cheia, como normalmente serviam. Normalmente. É. Acho que eu devia começar a esquecer esse termo.
Enchi três copos de refrigerante e os equilibrei entre minhas duas mãos e os entreguei a Brad, Collin e Seth. Ouvi reclamações de Paul no segundo seguinte.
- Ah, fala sério! Você não ficar tomando conta desses três, vai? - eu fiz uma careta para ele.
- Claro que eu vou! Eles são crianças. Vocês são um bando de homens feitos. - muitas almofadas em meu rosto. Eu voltei para a cozinha rindo, e me divertindo ainda mais com Quil resmungando ("Não quero nem saber, vocês vão deixar essa sala arrumada!") e resolvi encher um copo de refrigerante para mim.
Tomei impulso e me sentei sobre a bancada de mármore, meus pés não alcançando o chão e balançando livres no ar. Suspirei, enfim sozinha. Engraçado como era o segundo dia que eu recebia informação demais, e precisava ficar alguns minutos sozinha para conseguir colocar tudo em ordem. Ainda assim, não funcionava muito bem. Eu continuava com tudo embaralhado, e no dia seguinte aparecia mais alguma coisa para bagunçar ainda mais, logo quando eu achava que não era mais possível.
- Hey! - Jacob. Ai, Deus do Céu. Eu ergui a cabeça devagar.
- Hey! - respondi, tentando soar descontraída, enquanto ele andava até ficar do meu lado, apoiava as costas na bancada e pegava um pacote de batatas no canto direito da bancada, do lado dele. Ele o abriu e encheu a mão com algumas batatas, depois virou o pacote para mim. Eu aceitei e peguei um pouco também, estava com fome. - Não ficou com medo, ficou? - ele perguntou, a voz sem indicar nada demais, além de preocupação. Eu abri um meio sorriso, balançando a cabeça em negação.
- Não exatamente. Mas isso é só por agora. - ele riu, e então esperou terminar de engolir as batatas para me responder:
- Não vai ser ruim, não vamos colocar você em nenhuma situação perigosa, você mal descobriu que é uma de nós. - eu franzi a testa quando ele disse "uma de nós". Ele tinha dito algo parecido mais cedo.
- Eu acho incrível o modo como vocês são unidos. - disse, antes que meu cérebro me refreasse. - Sabe, é tão agradável saber que posso contar com vocês. - definitivamente antes que meu cérebro me refreasse. Jacob não pareceu achar graça nem nada, no entanto. Ele abriu aquele grande sorriso dele, que irradiava... Alegria? Não, era algo mais significante. Talvez calor, talvez irradiasse a personalidade tão tranquila e amiga que ele parecia ter.
- Que bom que você sabe disso, porque de agora em diante nós estamos todos juntos. Sabe, somos para sempre. Literalmente. - eu sorri, a idéia de viver para sempre no meu corpo de dezessete anos não me parecendo tão absurda, eu nunca saberia explicar porque. Jacob passou o braço esquerdo pelos meus braços, me apertando com força contra ele, mas num daqueles abraços de amigos. Meu coração ia pular pela minha boca.
- Literalmente. - eu repeti, lentamente. O conforto que senti nos braços de Jacob... Eu nunca tinha sentido nada igual.
- Acho que você vai gostar. - ele disse, afrouxando um pouco a mão em meu braço. Eu soltei uma risada abafada.
- O que o faz ter tanta certeza? - era engraçado como eu não sentia como se devesse não dizer algo a Jacob, ele me dava uma sensação de certeza que eu nunca tivera com ninguém. Muito menos com alguém que eu acabara de conhecer. Pela segunda vez no dia, Jacob apenas riu, cheio de certeza, e não me respondeu. Também pela segunda vez, eu continuei quieta.

Jacob e eu voltamos a sala quando o pacote de batatas dele acabou e Jared e Sam disseram que estávamos monopolizando o refrigerante.
A tarde se seguiu com mais lendas Quileutes contadas por Sam, comentários adicionados pelos garotos, e muitas risadas. Só quando a noite caiu foi que percebemos que deveríamos voltar para nossas casas. Eu estava passando minha pesada mochila pelas costas, estranhando o fato de que ela não estava tão pesada quanto deveria me parecer, quando Sam surgiu do meu lado. Eu levei um susto.
- Sam, quantas vezes mais você pretende me assustar quando estou carregando algo pesado? - brinquei, e ele franziu a testa.
- Isso está pesado pra você? - eu neguei com a cabeça.
- Não, não como deveria, pelo menos.
- Oh, certo. - ele assentiu. Os outros garotos estavam na cozinha, falando muito alto e implicando um com o outro. Sam e eu lançamos um olhar até lá quando Collin soltou um grito que parecia preocupante. Mas segundos depois risadas encheram a casa de novo. Sam se virou para mim novamente. - É só que... Preciso ter certeza, . Está mesmo tudo bem? - Sam brincava de vez em quando, e era um cara ótimo. Mas ele estava falando sério dessa vez. Eu assenti.
- Está. - disse, e continuei antes que ele argumentasse: - Está mesmo. Eu não sei se deveria ter sido mais complicado, todo o processo da transformação, você sabe... Mas eu me sinto muito bem. Não sei o que houve, mas não é um problema pra mim. - eu tinha conseguido convencê-lo. Percebi pelo modo como sua expressão foi de preocupada e "Tem algo que você não está me contando" para uma bem mais tranquila. A ruga de preocupação entre suas sobrancelhas se fora. Ele abriu um pequeno sorriso.
- Certo, então. Só quero que saiba que se sentir algo estranho, por favor... - eu assenti logo em seguida.
- Ok, alfa! - ele me olhou, confuso. Eu rolei os olhos. - Ah, o quê? Não é assim que devemos te chamar? - ele riu.
- Cala a boca, ! - Embry tinha me contado que Sam era o lobo alfa, quem mandava em todos nós. Também tinha me explicado sobre não poder desobedecer uma ordem vinda dele, mas eu não estava planejando em desobedecer nenhuma.
Gritei um "Até mais, garotos!" o mais alto que pude, tentando fazer com que minha voz sobressaísse as deles, mas achava que não tinha surtido efeito. Só me despedi decentemente de Sam, que abriu a porta para mim e me desejou "Boa noite", e esperou eu virar a esquina para entrar novamente e bater a porta atrás de si.

E agora, havia um novo medo crescendo em mim, conforme meus passos me levavam cada vez mais perto de casa: encarar minha mãe e meu pai, e ter certeza de que eles não queriam me internar ou algo do tipo. Minha nova condição, como os garotos haviam me dito, não era algo que eu poderia ter mudado, ia acontecer de uma forma ou de outra. Mas será que isso ia servir? Mordi o lábio inferior, a sensação do meu estômago despencando cada vez mais forte.
- Cara, você é um nojo de pessoa! - parei de andar e girei nos calcanhares para ver quem era, embora a voz já tivesse entregado. Não tinha exatamente tomado um susto, acho que meus reflexos estavam mesmo melhores.
- É, você nem foi lá se despedir da gente! - Paul completou a reclamação que Embry começara. Encarei os dois, sorrindo.
- Vocês são tão bobos. - disse, apenas, e eles começaram a rir. Cada uma foi para um lado meu e eles me giraram, me colocando de volta no caminho.
- Esse, - Paul apontou para frente. - é o seu caminho, bobinha. - eu franzi a testa, indignada.
- Era pra onde eu estava indo, não vem implicar comigo! - ele rolou os olhos.
- Vam'bora. - e cada um com um braço entrelaçado em meus braços, nós começamos a andar. Claro que eles começaram a reclamar da minha velocidade. E é claro que eu não era idiota. - O que vocês querem? - perguntei, e Paul ainda se deu ao trabalho de fazer uma cara propositalmente mal fingida de surpresa. Eu ri, mas me virei para Embry. Ele rolou os olhos, parecendo se dar por vencido.
- Estamos te levando pra casa. - começou ele. - E queremos saber como foi seu dia na escola. - eu soltei uma risada desacreditada, e olhei os dois antes de responder:
- Vocês estão brincando, né? Vão por um acaso ficar tomando conta de mim como se eu fosse bebê?
- Vamos! - uma terceira voz respondeu, e dessa vez eu nem virei, porque Jared já estava se juntando a gente, andando do lado de Embry. Eu rolei os olhos.
- Claro, muito bom. Depois vocês podem reportar isso aos meus pais, eles vão adorar. - eles riram do meu tom sarcástico. Riram! Não era pra rir!
- Olha, ... - Embry apertou de leve meu braço. - É que nós cuidamos um do outro, somos como irmãos. E você é nossa única irmãzinha, como poderíamos agir de outra forma se não protetores? - eu abri a boca para reclamar umas duas vezes, e então a fechei com um suspiro. Não tinha argumentos, eles tinham vencido. E não era como se eu não gostasse de ter todos eles comigo. Balancei a cabeça.
- Certo, ganhei um bando de irmão mais velhos intrometidos e três irmãos mais novos pra cuidar. - concluí, fazendo-os rirem.
- E por falando em intrometidos... - começou Jared, e eu olhei para ele fazendo uma careta, esperando que ele continuasse. - Alguém me contou sobre um tal de Alex, será que você pode esclarecer isso pra gente?
- Sabia! Sabia que vocês dois iam criar caso com isso! - resmunguei, apertando os braços de Embry e Paul. Ignorando as reclamações deles ("Ai, !", "Credo, não precisa me matar!") eu tentei responder:
- Não tem nada, ele só foi legal comigo e me levou até a sala de aula. Foi só.
- E esse legal com você por um acaso não arranjou nenhum encontro, não é? - Jared continuava.
- Não! - respondi. Na verdade, a idéia me era meio absurda. Eu não queria um encontro com Alex, porque a verdade era que eu só conseguia pensar em Jacob para unir a palavra "encontro". Idiota. Eu, não ele. Se bem que... É, eu podia chamá-lo de idiota também.
- Certo. - os três responderam juntos, e a clareza da desconfiança deles era quase palpável. Eu rolei os olhos, e então foi que percebi que já estava na porta de casa. A luz acesa lá dentro vinha da sala, e o som do jornal da noite da tv saía pela janela aberta e se misturava aos sons de talheres na superfície de vidro de pratos. Era hora do jantar. Eu estava ferrada. Os três sentiram quando eu hesitei.
- Qual o problema? - Paul perguntou, e eu balancei a cabeça.
- Nada... Não é nada. - suspirei. - É só que... Ah, estou com medo do que eles vão achar. - indiquei minha casa com a mão. Embry e Paul me soltaram, e então Jared veio e me abraçou de lado. Eu soltei uma risada pequena quando ele me levantou do chão, rapidamente usando a outra mão para me segurar pela cintura, e então me girando para ficar de frente para ele, e de costas para minha casa.
- Eles não vão te achar maluca, . Seu pai sabe das coisas, sua mãe também. Então relaxa, vai ficar tudo bem. - assenti, ainda nervosa.
- Certo, vai ficar tudo bem. Beleza. - disse, mais para mim mesma do que para eles. Ainda estava tentando me convencer disso. Os três sorriram.
- Quer que a gente entre com você? - perguntou Embry. Eu neguei.
- Deixa que eu consigo. - respondi, e ele assentiu, sorrindo.
- Certo. Boa noite, . A gente se vê amanhã! - ele disse, e se aproximou de mim para depositar um beijo na minha testa. Paul se despediu com um pequeno abraço, e depois veio com um soco no meu braço, ele só sorriu depois que eu acertei um outro soco em suas costas. Jared rolou os olhos para nós dois, rindo, e se despediu de mim por colocando a mão no topo da minha cabeça e bagunçando levemente meu cabelo, depois de me jogar um beijo que me fez rir. Eu assisti os três se juntarem e andarem para longe de mim lentamente. Subi o pequeno lance de escadas que me separava de casa e, respirando fundo, girei a chave na porta de entrada e entrei.
Sadie e Will, que eu mais normalmente chamava de mãe e pai, moveram seus olhos instantaneamente para mim. Eles jantavam na mesa da cozinha, e de lá eles conseguiam assistir o jornal, e também ver a porta de entrada. Tentei sorrir para eles, e esperei alguma reação. Eu precisava que eles começassem essa conversa, se é que tinha algo para conversar, eu não ia ser capaz de dizer nada. Mas minha mãe foi quem acabou com os problemas:
- Comprei roupas novas pra você! - ela disse, subitamente animada, e um sorriso grande se espalhou em seu rosto. Eu arregalei os olhos, e senti minha mochila escorrer de meu ombro e cair direto no chão, com um baque. - Jeans, camisetas... Tudo que você precisa, acho que vai ficar ótimo! Estão no seu quarto. - eu ainda nem estava acreditando que ela tinha comprado roupas, assim que soubera o que a filha era. Talvez, ela já soubesse há muito mais tempo. Olhei para meu pai, e ele estava sorrindo também.
- O jantar tá na mesa, não vai comer? - largando minha mochila no chão mesmo, corri para a mesa da cozinha e ocupei uma cadeira, logo começando a me servir do jantar.
Agora, eu não queria pensar no dia seguinte que eu teria que enfrentar. Era melhor deixar isso para amanhã.


Capítulo 5 -
VARIAÇÕES.

(Capa.)

Minha cabeça parecia pesar quilos.
De todos os efeitos colaterais, eu achei que esse fosse ser o último a me preocupar. Se é que deveria existir.
Com dificuldade, me obriguei a sentar, puxando o edredom comigo e apoiando minhas costas no travesseiro, que desajeitadamente coloquei de pé. Pelas frestas da janela do meu quarto, conseguia ver os feixes de luz se estenderem até o chão e na parede oposta. Me concentrei para lembrar que dia semana era. Ficava cada vez mais difícil, eu devia comprar um calendário urgentemente.
Eu estava, há duas semanas, sendo treinada por Sam. Até agora, ele só tinha feito com que eu me transformasse e voltasse a minha forma normal. Fizemos isso até que eu chegasse ao ponto de poder controlar totalmente minha transformação. Enquanto isso, ele e os outros estavam percorrendo os limites de nossas terras, em busca de algum sinal de Victoria, a vampira que queria matar Bella. Ela continuava buscando alguma brecha para passar por eles, mas era rápida demais e, na maioria das vezes, apelava para a água. Lá, não tínhamos chances com eles.
Eu descobri que gostava muito de me transformar em loba. Adorava a sensação boa de poder correr pela floresta, mesmo que Sam não me deixasse ir muito longe.
Ah, quinta-feira! Lembrei o dia e, na mesma hora, procurei pelo meu despertador: cinco e meia da manhã. Sabendo estar cedo, e sabendo que não ia mais conseguir dormir, me forçei a ficar de pé e fui tentando desembaraçar meu cabelo enquanto deixava meu quarto e ia para a sala. Não foi exatamente minha melhor idéia:
- Mas já? Achei que fosse precisar esperar até às dez da manhã ou algo assim! - meus olhos sonolentos, quase fechados, se arregalaram, e eu parei de andar a passos lentos no mesmo instante. Me vi paralisada e assustada através do reflexo fraco dos vidros fechados da janela, à minha esquerda. De onde eu estava, o sofá da sala de estar de costas para mim, o balcão de tampo branco era a única coisa que a separa da cozinha. Lá, Jacob estava sentado num dos quatro bancos que rodeavam o balcão, e batucava os dedos na superfície plana, com um sorriso no rosto. Eu franzi a testa.
- Jacob, o quê...?
- Jake. - ele cortou. - Me chame de Jake. - ele ficou de pé, e então virou de costas para mim, abrindo um dos armários altos. De lá, tirou alguns pacotes de biscoito. Eu olhei em volta, onde é que Sadie e Will estavam? Meus pais tinham problemas sérios com a manhã. Manhã... Oh, droga! Eu lembrei na mesma hora de como eu estava: cabelos bagunçados, emaranhados, shorts curtos demais, blusa curta demais, cara amassada... Arregalei os olhos uma segunda vez, e então saí correndo para o banheiro, sem dar chance a Jacob de falar alguma coisa. Tranquei a porta do quarto, embora isso não fosse o suficiente para impedí-lo, caso ele quisesse entrar, e escancarei a porta do meu armário: saia jeans, regata branca e all star vermelho foram os eleitos, e corri para o banho.
Eu tinha sorte do meu cabelo ser liso e não dar trabalho, então enfiei a cabeça debaixo do chuveiro e fiquei lá por alguns bons minutos. A água fria era refrescante. Só saí de lá quando a visão de meu pai acordando e dando de cara com Jacob na cozinha me atingiu. O que é que ele estava fazendo lá, afinal de contas?! Eu realmente não queria começar com todo aquele drama logo cedo.
Noite passada, quando chegara acabada do treino e pusera minha mãe para dormir, já que ela passava mais tempo preocupada comigo do que qualquer outra coisa, eu me vi perdida em pensamentos que fossem razoavelmente próximos de uma explicação plausível para o que acontecia comigo e Jacob, e era confuso:
Na noite de terça-feira, a primeira vez que eu me transformara em loba por vontade própria, nós fizemos uma descoberta - eu era capaz de fazer algo que nenhum outro membro do bando podia, eu conseguia trancar pensamentos. A primeira vista, eu não entendera porque Sam ficara tão alarmado quando eu simplesmente mandei Paul sair da minha cabeça, e ele não conseguiu ouvir mais nada do que eu pensava. Eu achava que tínhamos esse poder de deixar os outros ouvirem ou não nossos pensamentos, mas aparentemente não era assim que funcionava: nós devíamos ser capazes de ouvir tudo que o outro pensava, sem chance de edições ou cortes. Na verdade, era assim com eles, não comigo. Eu podia fazer meu poder funcionar de três formas que nós descobrimos depois de umas cinco horas comigo trancando e destrancando pensamentos: podia trancar meus pensamentos, e ouvir apenas os deles, sem que eles ouvissem os meus; podia trancar os de apenas um, ou de vários e deixar um só, eu conseguia separar os pensamentos deles, podendo dar atenção a apenas uma linha de pensamento; ou podia fazer os dois juntos, trancar os meus, separar os deles e, somado a isso, conseguia separar meus pensamentos, para que eles só ouvissem algo que eu quisesse que ouvissem.
Eu conseguia trancar os meus pensamentos muito bem, mas não tinha prática alguma com a divisão dos pensamentos deles, e a divisão dos meus. Era muito difícil se concentrar em uma coisa só quando se é bombardeado de informações, e eu ainda estava treinando. Sam não tinha muita certeza de que gostava desse meu poder, mas não fizera objeções quando eu dissera que preferia que eles não me ouvissem. Acho que pelo fato de que eu sou a única garota. Na verdade, eu nem ligaria muito, se não fosse pelo fator Jacob Black. Uma vez que eu conseguisse separar esse pensamento e jogá-lo lá atrás, eu destrancaria o resto sem problemas. Sam, no entanto, usou seu tom de voz alfa para dizer que, em batalhas, eu nunca trancaria meus pensamentos. Com isso, eu não podia argumentar.
Então Jacob nem suspeitava do Imprinting. Ou eu ao menos estava chamando isso de Imprinting. Fazia sentido, e eu não queria acreditar que tudo aquilo era voluntário... Eu nunca tinha me sentido assim por ninguém, quem diria alguém que eu conhecia a pouco menos de uma semana. Então, baseada na idéia de que era um Imprinting, eu tentei encontrar caminhos... Meu pai é um legítimo Quileute, importante e tudo mais, então eu claramente tinha na minha transformação de lobo a genética dele, eu tinha virado loba por causa dele, e isso eu entendia e fazia sentido. Mas minha mãe era dinamarquesa, estava muito longe de qualquer coisa a ver com Quileutes e lendas de lobisomem quando meu pai a conheceu... Talvez isso fosse o motivo por eu ser como era? Quer dizer, eu era bastante diferente dos outros. Na minha forma de lobo, eu me destacava por ter os pêlos completamente brancos e por ser pequena, se em comparação a eles. Eu também não tivera problemas com a transformação, e isso ainda era um mistério - era para ter sido mais dolorido e muito mais confuso e bem menos repentino do que fora, nem Sam encontrara explicações para isso.
Mas eu ainda precisava fazer muito mais pesquisas para entender, ou pelo menos formar uma teoria. Suspirei, terminando de pentear meus fios lisos molhados, e então observei meu reflexo no espelho, achando que estava razoável. Na hora de ir para a escola, eu apenas trocaria a saia por uma calça jeans.
Respirei fundo, buscando coragem e sentindo meu coração acelerar, e então abri a porta do meu quarto, girando a chave e então a maçaneta. Jacob continuava no mesmo lugar, só que agora tinha o controle da tv nas mãos e mudava de canal da cozinha, parecendo entediado. Ele sorriu quando eu apareci.
Jacob tinha se tornado uma presença constante na minha vida, não só pelo fato de que éramos de um bando. Claro, isso tinha grande influência, já que estávamos ligados para o resto da vida só por isso, mas eu realmente tinha passado mais tempo com ele. E tinha também descoberto o quanto eu gostava quando ele, Paul, Embry, Quil e Jared apareciam na minha casa para ficar o resto da tarde; quando Seth, Brady e Collin agiam feito as crianças que eram e sentavam animados à mesa da cozinha da minha casa e lanchavam os brownies que eu aprendera a fazer recentemente; quando Sam vinha ter certeza de que eu não estava prestes a surtar nem nada, como um bom irmão mais velho. A verdade era que, depois de duas semanas, eu já não conseguia me ver sem todos eles ao meu redor.
- Jacob, o que você está fazendo aqui? - quis saber, andando até ele. Eu podia sentir todo o Imprinting, mas também sentia a inibição que Jacob causava em mim, eu não hesitava antes de fazer perguntas a ele. Nunca. Não sabia até que ponto isso era uma boa coisa.
Ele deu de ombros.
- Eu acho que queria te ver. - eu devia simplesmente desistir de tentar entender alguma coisa. Caramba.
Depois de ele simplesmente jogar essa pequena informação, eu tentei sentir minhas pernas de novo e lembrar como fazia para controlá-las, e desajeitadamente andei até a cozinha. Abri a geladeira e tirei uma caixinha de suco de laranja de lá. Puxei um banco de frente para Jacob, e enchi um copo grande de suco. Enchi o segundo e empurrei para ele.
- Onde você morava antes? - ele perguntou, do nada. E eu franzi minha testa. Ele rolou os olhos quando percebeu a confusão no meu rosto. - Onde você morava antes? - ele repetiu a pergunta, levemente impaciente, como alguém que tem que explicar algo pela segunda vez.
- San Diego. - respondi, apenas. Olhei para o meu copo novamente, tomando um segundo gole do suco. Na verdade, a pergunta de Jacob me levou de volta a minha antiga moradia por alguns instantes. Eu não costumava me apegar a ninguém, por isso não tinha exatamente amigos para toda a vida por lá... Mas pensar em como era minha vida lá me trouxera de voltas lembranças, saudades de algumas pessoas. - Era um lugar legal, sabe? Sinto falta de algumas pessoas, talvez eu devesse ligar pra elas... - ele pareceu satisfeito com meu repentino falatório: se ajeitou no banco e se inclinou levemente para frente, se aproximando um pouco de mim.
Segurei meu copo com as duas mãos, deixando-o seguro alguns centímetros abaixo do meu rosto, meus cotovelos apoiados no balcão.
- E você tinha uma melhor amiga? Ou um melhor amigo? - soltei uma risada abafada com a lembrança. Inevitavelmente, a imagem de Alison veio em minha mente.
- É, tinha. Não era exatamente minha melhor amiga, já que eu nunca fui capaz de manter relações. - ele ergueu as sobrancelhas em resposta a minha afirmação. Eu esperei que comentasse.
- Claro que é. - ele disse, como se fosse óbvio demais. Eu ri.
- Como pode saber disso, você só me conhece a, o quê, uns cinco dias?
- Mas parece que é há bem mais tempo, não? Coisas de lobo. - não me contrapus a sua fala, porque era verdade. Nos últimos dias, eu tinha me sentindo como se conhecesse todos eles desde que nascera, e definitivamente criara laços. Eram como irmãos para mim, uns mais velhos e chatos, outros mais novos e aparentemente indefesos.
- É, talvez eu seja. - divaguei, falando baixo, e então tomando mais um gole de suco.
- Quer dar uma volta? - ele perguntou, e eu encarei o relógio na parede. Neguei com a cabeça.
- Não vai dar tempo. Temos aula hoje, esqueceu? - ele rolou os olhos.
- Nós não vamos a aula hoje. - disse, em tom óbvio. Eu rolei os olhos dessa vez.
- Será que você pode parar de usar esse tom convencido? Me dá vontade de te bater. - soltei, e ele riu. Fez "Pff" com a boca.
- Como se fosse fazer alguma diferença. Você me batendo. - semicerrei os olhos, fechei minhas mãos em punhos e as posicionei em frente ao meu corpo como lutadores de boxe fazem. Jacob riu.
- Pára de besteira e anda logo! Vamos! - ele levantou do balcão, virou o resto de seu suco goela abaixo e, com movimentos rápidos e precisos demais, girou para o meu lado do balcão e estendeu a mão esquerda, segurando na minha, que ainda era um punho fechado. Desfiz minha posição e aceitei sua mão, sentindo-o entrelaçá-la com a minha. Houve um pequeno momento em que ele me olhou, ao mesmo tempo que nossas mãos se tocavam. Eu senti uma corrente elétrica passar por mim e me deixar totalmente alterada. Eu não sabia dizer se ele sentira também, e muito menos sabia por quanto tempo nossa troca de olhares durou. Eu perdia noção de coisas normais com Jacob, como o tempo.
- Para onde nós vamos? - eu quis saber, enquanto ele me carregava para a porta de entrada e eu me esticava para pegar minhas chaves e celular na mesinha ao lado da porta. Ele lançou um olhar engraçado para o celular. - O quê?
- Nada. - ele deu de ombros. - Não sei porque você cisma de andar com celular. - bufei. Eles sempre implicavam com meu celular.
- Desculpe se eu não gosto de me comunicar por uivos o tempo todo. - soltei, e ele riu.
- É um modo muito eficaz, você deveria saber. - saímos de casa e me virei para trancar a porta. Jacob ainda segurava minha mão, e eu me sentia incrivelmente bem com o calor que emanava de seu corpo. O que eu achava mais engraçado, era que com ele eu sentia coisas bobas que acharia ridículo caso ouvisse da boca de qualquer outra pessoa.
Quando girei de novo, dessa vez para perguntar a ele qual caminho seguiríamos, dei de cara com um carro estacionado na pequena garagem da minha casa. Não era o carro do meu pai, nem muito menos o carro alugado que eu pegara quando viera (aquele, infelizmente, já tinha sido devolvido). Era um carro vermelho, de aparência antiga, mas conservada.
- Vamos logo. - ele resmungou, desfazendo o aperto de nossas mãos e passando a dele para minhas costas, me guiando rapidamente para o banco do carona do carro. Ele girou para o lado do motorista, e então destrancou o carro.
- Belo carro. - observei, e ele riu.
- É um Rabbit, de 1986. - ele explicou, e eu assenti. Ele abriu um sorriso grande, convencido, e então me olhou de lado, os braços apoiados no volante. - Eu o reconstruí. Todo. - ri de sua expressão, mas estava mesmo impressionada.
- Uau, Jake! - respondi. - Sério, parabéns. Você parece ser bom nisso. - ele riu. Deu partida no carro, ouvimos o motor começar a funcionar e então ele manobrou para sair da vaga e em poucos minutos andava pelas ruas de La Push que eu ainda não conhecia tão bem.
O silêncio me incomodava, sempre me incomodara. Depois de alguns segundos, talvez um minuto, eu olhei para onde devia ficar o rádio do carro. - Hey, o rádio funciona? - perguntei, e ele pareceu surpreso. Moveu os olhos da direção por uma fração de segundos para me observar, e então assentiu, a testa franzida.
- Oh, aham. Pode ligar, se quiser. - eu estranhei sua reação, e me vi perguntando antes que pudesse parar:
- Por que ficou desse jeito? - ele não pareceu surpreso com a pergunta. Talvez ele estivesse se acostumando com meu excesso de franqueza com ele. Jacob balançou a cabeça.
- Você não quer ouvir porquê. - disse, e eu me encolhi um pouco com o tom irritado dele. Certo. Liguei o rádio, e tentei sintonizar em algo com música decente. Achei uma onde os acordes de um violão eram calmos, e foi lá mesmo que eu deixei.
Eu me ajeitei no carro, de modo que ficasse com o rosto virado para minha janela, assistindo tudo passar muito rápido e ouvindo Jacob dirigir, sem vê-lo. O clima pesou no carro, e Jacob não conseguiu ficar quieto. Ele suspirou. Uma nova música começou a tocar na rádio.
- Certo, desculpe. - ele disse, e eu continuei sem olhá-lo. - Não quis ser grosso, nem nada. É que... Eu... Eu não acho que ninguém algum dia vá entender. - eu não conseguia ignorá-lo. Sua voz era dolorida, e eu logo me virei para ele, procurando ler sua expressão.
- Bom, você pode tentar conversar comigo. - eu disse. Algo dentro de mim não permitia Jacob triste, ou com problemas, ou com qualquer coisa do gênero. Era alguma força que me fazia querer ter certeza de que estava tudo bem.
Ele me analisou por um instante, depois voltou a encarar a rua reta que seguia agora, e eu notei os nós de seus dedos tornarem-se brancos, enquanto ele apertava com força o volante. Então balançou a cabeça rapidamente e começou:
- Talvez seja bobagem. Eu sei que não significa mais nada. Não mais. E ainda assim... Não entendo por que me incomoda tanto.
Notei como sua expressão, de repente, se fechou muito mais. Eu vi a sombra de raiva encobrir seu rosto, e por um instante pensei em como isso era ruim... Ele tinha um rosto tão bonito. Mordi o lábio inferior, já concluindo de quem estávamos falando antes mesmo de que ele precisasse dizer o nome.
- Bella. - disse, e ele me olhou no mesmo instante.
- Como você... - soltei uma risada abafada.
- Vocês pensam, lembra? - lembrei a ele da minha pequena confusão com pensamentos, e então ele assentiu, parecendo realmente ter esquecido. - Sabe, você não precisa falar sobre isso. A não ser que você queira. Eu sou uma boa ouvinte. - sorri, e ele riu fraco.
- Chegamos. - eu não tinha percebido que a velocidade do carro havia diminuído. Talvez porque eu não conseguisse ver nada além de Jacob quando o olhava.
Desviando os olhos dele, olhei através da minha janela: havíamos parado na praia, mas não a First Beach. Essa era bem mais deserta, e eu arriscaria dizer mais bonita também.
- Onde estamos? - Jacob riu, sem me responder, e estacionou o carro, destrancando-o em seguida. Eu desci dele e cruzei os braços, fechando um pouco os olhos por causa do Sol e também do vento forte que já bagunçava meu cabelo.
Jacob deu a volta no carro, depois de trancá-lo, e estendeu a mão para mim. Eu a aceitei.
- Você pode parar com essa mania de não me responder? Isso me irrita. - resmunguei. Ele estava a caminho de dar o primeiro passo, para me carregar para onde quer que fosse, e parou assim que eu terminei de falar. Girou, ficou de frente para mim.
- Sério? Você quase nunca parece irritada. Só confusa, enrolada... Não irritada. - eu abri a boca, em espanto.
- Só confusa e enrolada?! - repeti. - Meu Deus, que desastre de pessoa que eu sou! - ele riu outra vez, rolou os olhos, divertido, e então começou a andar. Eu percebia quão rápido ele estava andando, mas conseguia acompanhar seu ritmo sem menores problemas. Jacob nunca largou minha mão, e vez ou outra a apertava um pouco mais, normalmente quando havia algo no chão em que eu poderia tropeçar.
Eu o observava mais do que observava o lugar onde estávamos. Ele usava bermudas jeans, desgastadas, uma camiseta azul-escura e tênis brancos e também desgastados. Em qualquer outra pessoa, eu diria que essa era uma das piores, se não a pior, escolha de roupas. Mas... Não com Jacob. Na verdade, eu nem sempre notava as roupas que ele usava - eu notava seu rosto, seus olhos, seus cabelos curtos e bagunçados, seu andar elegante, despreocupado e ligeiro.
Só paramos quando estávamos tão longe do carro que mal podíamos enxergá-lo, só notar um ponto vermelho fugindo do usual entre o tanto de verde e marrom.
- Estamos na praia. - ele respondeu minha pergunta de minutos antes, e eu fiz uma careta, entortando a boca.
- Você é um idiota. - resmunguei, e ele riu.
- Certo, ótimo. Agora, anda, tira os tênis e vamos andar um pouco. - e então lá fomos nós, tirar os tênis e carregá-los nas mãos, enquanto enfiávamos nossos pés na areia fofa e caminhávamos em direção à praia.
- Sabe, eu também tive meus problemas. - falei, de repente, quando já estávamos próximos a onde as ondas quebravam. Jacob passou a mão livre pelo cabelo e me observou, esperando que eu continuasse. Eu soltei uma risada descrente. Era estranho lembrar disso. - O nome dele era Josh. Bonito, simpático, e até razoavelmente inteligente. - Jacob riu nesse ponto. - Mas... Ele foi péssimo comigo. - ele parou de rir, e eu estremeci com a lembrança. Balançei a cabeça e suspirei. - O que eu quero dizer é que... Te entendo, de certo modo. Não que eu ache que Bella foi péssima com você, eu nem sei o que aconteceu. - eu fiz questão de acrescentar, antes que ele se irritasse ou algo do tipo. - É só que... Eu te entendo, realmente entendo. - agora andávamos paralelos as ondas, que quebravam quase em nossos pés. Jake passou a mão livre ao redor dos meus ombros e me levou para mais perto dele, me abraçando forte e fazendo com que eu quase tropeçasse em meus próprios pés. Jacob riu.
- Como você é desastrada! - ele exclamou, e moveu a mão do meu ombro para envolver minha cintura. - Uma loba muito desastrada. - continuou, e eu rolei os olhos, divertida.
- Não reclame, eu sei que só ficou mais divertido comigo. - brinquei, e ele sorriu de lado, mas um sorriso fraco. Ficou calado. Eu franzi a testa, e então girei de modo que ficasse de frente para ele, fazendo com que ele parasse de andar. Ele era muito maior do que eu, então ergui minha cabeça e procurei por seu olhar. Era um olhar menos brilhante ao qual eu me acostumara, um pouco triste. Ele adaptou sua mão a minha cintura novamente, agora movendo-a de minhas costas para o lado e me fazendo sentir arrepios.
- Não vejo isso como uma coisa tão boa. - ele disse, e eu esperei que ele continuasse. Ele respirou fundo. - É perigoso. Você pode se machucar... Seth, Brady, Collin...! Não... É... É errado! Não devia estar acontecendo, não é certo! - seu tom de voz foi aumentando conforme ele falava; no fim, era quase um grito grave que ecoou em meus ouvidos. Ele lutava com as palavras, e mesmo que as dissesse, pareciam ser as erradas porque a frustração era clara em seu rosto.
- Ei, ei! - eu deixei meus tênis caírem no chão, provavelmente ficando cheios de areia, mas não me importei. Coloquei minhas duas mãos em seus braços, envergonhada demais para colocá-las em seu peito. Era a primeira vez que estávamos tão próximos e sozinhos. Eu senti meu rosto queimar, senti meu coração enlouquecer e as borboletas no meu estômago se multiplicarem e rodopiarem endoidecidas. - Não precisa se preocupar tanto, nós sabemos o que estamos fazendo. Somos feitos para isso, Jake... - disse, e então soltei uma risada pelo nariz. Acrescentei: - Também não é como se você não fosse nunca se machucar. - ele fez uma careta.
- Eu sei me cuidar sozinho. - ergui uma sobrancelha.
- Claro, me desculpe. - disse, irônica, e então fiz menção de desfazer o abraço, a proximidade estava me deixando maluca. Dei um passo para trás, e mais outro. Jacob tirou a mão da minha cintura e, antes que eu pudesse me ver totalmente livre de seu toque, adiantou-se e segurou minha mão. Deixou os tênis caírem na areia como eu fizera, e segurou a outra também. Estava com meus braços esticados, mantendo a distância dos dois passos que dera para conseguir respirar.
Eu não tinha idéia do que estava acontecendo. Conversando com ele sobre assuntos delicados e intocáveis, passeando na praia quando deveria estar na sala de aula, toques demais... Eu sabia como gostava dele, mas ele gostava do mesmo jeito de volta? Não era rápido demais? Ou eu estava vendo demais?
Uma onda um pouco mais forte cobriu meus pés, e o gelado me trouxe de volta. Jacob ainda me observava, e apertou levemente minhas mãos quando meu olhar focou novamente no dele.
- Anda, preciso te levar pra casa. Prometi a sua mãe que você apareceria para almoçar.
- Você falou com a minha mãe?! - perguntei, e ele assentiu.
- É claro, eu não podia aparecer na sua casa e simplesmente te roubar de lá, em horário escolar ainda por cima. - eu dei de ombros, nós soltamos nossas mãos e voltamos a caminhar, depois de pegar nossos sapatos sujos de areia. Dessa vez, andei mais perto das ondas para senti-las quebrando em meus pés. Jacob volta e meia olhava para mim com olhos preocupados e atentos, como quem espera que o filho de cinco anos dê de cara no chão. Respirei fundo, inalando o cheiro bom de maresia enquanto meu cabelo voava todo pra trás, os nós que eu tão dificultosamente desfizera, voltando todos.
- Peraí, - disse, de repente, e o vi arregalar os olhos por um instante. - Já tá na hora do almoço? - ele riu, e me olhou como se constatasse que eu fosse meio doida. Bom, eu era.
Eu lembrei de que tinha colocado o celular no bolso de trás da saia jeans e o puxei de lá, apertando um botão qualquer para que o relógio digital aparecesse: meio-dia e cinco. Arregalei os olhos. Tinha passado tanto tempo assim? Jacob me arrancara de casa, o quê, umas seis e pouca da manhã? O tempo com ele parecera umas duas horas, só.
- Acho que perdi totalmente a noção de tempo. - falei, e Jacob assentiu. Sorrindo, ele colocou a mão livre no bolso das jeans.
- Que bom que eu trouxe toalhas.
- Hã? - balancei a cabeça para a afirmação totalmente aleatória dele. Ele apontou para o carro, que se tornava aos poucos mais um carro e menos um ponto vermelho.
- Coloquei umas toalhas na mala, molhar meu carro não está nos planos de hoje. - eu assenti, deixando um sorriso debochado aparecer em meu rosto. Jacob notou, é claro.
- E o que é que está nos planos de hoje? - perguntei, quando percebi que ele parecia prestes a perguntar porque eu estava sorrindo. Senti que tinha ganho o dia quando o vi abaixar o rosto e enrubescer. Qual é, se ele podia me fazer sentir do jeito que fazia, eu tinha meus direitos de provocá-lo. Não que eu tivesse experiência nisso, é claro.
- Você é uma idiota. - ele resmungou, mas riu logo em seguida. Eu ameacei acertar meu tênis sujo nele, e ele saiu correndo. Eu o segui, rindo. Em questão de segundos, tínhamos esquecido que deveríamos estar indo para minha casa, e acabamos no mar. Eu tomei o cuidado de só entrar até o ponto onde a água alcançava minhas pernas, não minha saia, mas Jacob fez questão de jogar água na minha cara.
Eu achei que ele merecia água de volta, então fui me inclinar para alcançar a água com as mãos, e claro que eu tropecei em alguma coisa neste momento e me molhei toda, praticamente mergulhando no mar.
- ! - ouvi a voz de Jacob, apressada, e logo senti suas duas mãos em minhas costas, me segurando mesmo que eu já tivesse ficado de pé. Ele também estava encharcado, mas tirara a blusa. Quando senti seus braços ao meu redor, me apertando forte, eu arregalei os olhos e gelei. Ele me girou para ficar de frente para ele. Deus, o que era aquele abdômen?!
Certo, , controle-se. Você não é menina dessas coisas. Wow, mas que coisa! Foco, ! Foco!
Me forcei a olhar não para seu peito, mas para seu rosto. É claro que eu estava mais vermelha do que pimentão, e que Jacob era quem estava sorrindo debochadamente. Merda.
- Minha vez. - ele disse, rindo, e eu rolei os olhos.
- Você fez isso de propósito! - apontei, indignada, e tentei socá-lo para sair de seu abraço, embora não quisesse realmente. Era só meu orgulho falando mais alto. Ele riu, divertido.
- Não fiz! Não procure desculpas para os seus atos, . - meus socos deviam é estar fazendo cosquinhas neles. Ridículo. Desisti.
- Preciso almoçar. - falei, e ele se deu por vencido, afrouxando o abraço e começando a andar para fora do mar.
Nós éramos quentes o suficiente para ficarmos secos mais rápidos, e Jacob se divertiu comigo durante a volta, enquanto eu falava duzentas vezes seguidas sobre como era fantástico ser quente. Aos risos, nós chegamos a minha casa, e ainda aos risos eu girei a chave na fechadura e empurrei a porta, mas foi exatamente aí que a coisa complicou.
Jacob fechou a porta novamente, tão rápido que eu só pude ouvir o som da chave caindo no chão. Com um sorriso, ele colocou a mão na minha cintura e me girou, de modo que eu encostasse na porta recém-fechada e ficasse de frente para ele. Procurei seu olhar, e senti meu coração querer pular para fora da boca quando notei seu rosto tão próximo do meu. Tão próximo. Ele apertou um pouco mais a mão em minha cintura e então disse:
- Eu preciso ir. A gente se fala mais tarde. - e, beijando minha bochecha, ele simplesmente me soltou. Me deixando ali com cara de idiota, o coração acelerado e completamente confusa.


Capítulo 6 -
PORT ANGELES, MCDONALD'S E UM BEIJO DE BOA NOITE.

(Capa.)

Eu estava fazendo biscoitos. Biscoitos de chocolate. Havia um pote gigante na minha frente, e eu tinha uma colher umas trinta vezes menor na minha mão. Eu misturava o topo da mistura, e ao meu redor estava minha cozinha, só que não nos tons brancos de sempre dela. Minha cozinha estava laranja.
Da janela, eu ouvi o uivo baixo e constante de alguns muitos lobos. Foi quando a porta abriu.
Jacob estava usando jeans escuras, tênis pretos limpinhos e parecendo novos, uma camiseta branca por baixo de um casaco de couro preto. Eu senti minha boca começar a abrir e meus olhos se arregalarem. Uau. Ele passou a mão direita pelos cabelos molhados e me procurou com o olhar. Sorriu quando me achou.
- Hey! - ele disse, descontraído. Eu imediatamente me dei conta de que estava usando roupas sujas de chocolate e que meu cabelo estava todo bagunçado. Por que Jacob sempre me encontrava desarrumada?
E então a visão dele fez Craque! e se transformou numa vampira com cabelos cor de fogo. Ela riu e avançou em minha direção, com os dentes afiados a mostra... E então Craque! Sam apareceu e me empurrou para o lado, me fazendo bater contra a parede laranja. E então...
- ANA! - e não era a voz de Sam. Não era... Era...
- !
- Caraca, ela dorme feito pedra.
- Você não pode culpá-la também... Sam está treinando o dobro do tempo com ela.
- Acha que ela vai querer sair, então?
- Qual é, ela ainda é a . - Embry, Paul e Quil riram. Eu decidi dar um sinal de que estava acordando, então esfreguei os olhos, girei para o lado, abracei o travesseiro e soltei um murmúrio preguiçoso. Ouvi passos e logo soube que Jared estava entrando no quarto, logo percebi que com latinhas de refrigerante, porque o som da pressão do anel sendo girado logo preencheu o quarto.
Estava tomando consciência de que tivera um sonho. Ele parecera real demais. A vampira, Jake, Sam... Suas imagens fazendo um som perturbador e se alterando... Abri os olhos e tentei expulsar o sonho da minha cabeça.
- Vocês falam demais. - eu resmunguei, rindo.
- Anda, levanta! - Embry colocou a mão no meu ombro e me sacudiu. Eu comecei a rir e acertei um tapa no ar.
- Calma, calma! - gritei, e então me sentei. Os quatro garotos ao meu redor sorriram pra mim.
- Viemos te chamar pra sair, vamos em Port Angeles. - Paul disse, e eu assenti lentamente.
- O que vocês vão fazer lá? - perguntei, puxando meu travesseiro e colocando sobre meu corpo. Não importasse quão perto eu sempre estivesse dos meninos, eu sempre ia ficar envergonhada de andar pra cima e pra baixo com meu shorts curtos demais. Eu tinha que lembrar de vestir bermudas ou calças para dormir.
- Vamos só passear. Talvez um cinema. Vamos? - peguei meu celular no criado-mudo. Eram sete da noite. Caramba, eu tinha mesmo dormido demais. Lembrava de ter chegado em casa às seis da manhã, depois de virar a madrugada treinando com Sam.
- Eu realmente perdi aula pela segunda vez na semana? - perguntei, rindo, ao perceber que era sexta-feira. Jared riu.
- Pegamos a matéria pra você. - Quil disse. Eu ergui uma sobrancelha. Ele rolou os olhos. - Cada um se deu ao trabalho de prestar atenção em uma aula. Aí todo mundo conseguiu pegar as matérias. - ele explicou. Eu ri.
- Claro, claro. Agora, por favor... - fiz um gesto indicando a porta. - Vamos sair daqui, que tal? Preciso tomar banho, escolher roupa... - assisti todos eles rolarem os olhos ao mesmo tempo e soltarem murmúrios de impaciência. Paul pegou meu notebook antes de sair do quarto, ele estava ficando completamente viciado em internet.

Acabei escolhendo uma roupa da qual eu não tinha muita certeza sobre. Tomei banho, sequei o cabelo, e então a vesti. Eram jeans escuros e justos, uma blusinha preta por baixo de um colete xadrez e sapatos fechados, com cadarços e saltos altos. Observei meu reflexo no espelho por alguns instantes.
Estávamos finalmente saindo de La Push, logo eu tinha a oportunidade perfeita para ficar bonita. Eu estava bonita. Suspirei, e então abri um pouco a porta do meu quarto, só enfiando a cabeça para fora. Olhei direto para o sofá, e encontrei Embry e Jared assistindo tv. Eles olharam para minha porta quando ouviram o barulho dela rangendo enquanto eu a empurrava um pouco. Eu sorri amarelo e eles me olharam desconfiados.
- Então... - comecei, desajeitada. - ...Nós não vamos correr atrás de vampiros hoje, vamos? Nem nada perigoso, certo? Vamos agir feito pessoas normais por um dia, né?
- Certo. - afirmou Jared.
- Pessoas normais por um dia. - continuou Embry, rindo. Eu assenti, franzindo a testa. Ok, eu podia sair assim. Então saí de trás da porta e deixei que eles vissem meu - talvez - excesso de arrumação. Paul ergueu a cabeça, desviando sua atenção do computador para mim.
- Uau! Eu sabia que ter uma garota com a gente ia ser bom! - eu abri a boca, espantada, e então girei nos calcanhares e praticamente corri de volta pro quarto. Acredite se quiser, eu conseguia me equilibrar sobre saltos altos.
Os garotos soltaram "Ah, , volta pra cá!" e "Pára de graça!" e também ", estamos brincando!" e eu rolei os olhos. Embry entrou no quarto falando:
- Paul, cala a boca, cara! , vam'bora! - e então pegou minha bolsa e a abriu. Ele riu. - Celular, carteira, maquiagem... Acho que você tá pronta. - eu o olhei e então acabei abrindo um sorriso e andando em direção a ele. Embry estendeu o braço quando eu o alcançei e me abraçou de lado. Ele me entregou a bolsa, beijou o topo da minha cabeça e disse, baixinho: - Você vai deixar o Jake doido. - e então me guiou para fora do quarto. Eu olhei para o chão e fingi que não tinha escutado. Não tinha como enganar Embry, ele simplesmente percebia demais.

Abri um sorriso inevitável quando o excesso de verde de La Push foi substituído por um pouco mais de prédios, luzes e muitas pessoas andando pelas ruas. Os letreiros iluminados de lojas, bares e restaurantes, o som de vozes misturadas... Eu gostava da agitação, e era ainda melhor depois de algumas semanas longe dela. Saltei do carro de Paul (eu tinha consigo ir no banco do carona, enquanto Embry, Quil e Jared se apertavam no banco de trás) e me certifiquei de que minha roupa, meu cabelo e minha maquiagem estavam do mesmo jeito de como eu saíra de casa.
- E então? - perguntei, cruzando os braços. Paul, Embry, Quil e Jared estavam elegantes, eu só tinha reparado nisso agora: eles sempre pareciam bastante iguais, mas hoje todos pareciam parentes próximos, mas com estilos diferentes. Todos usavam jeans baixas e largas e tênis, mas dava pra perceber que Paul era meio metido a badboy com a camiseta preta e os cabelos meio arrepiados para o alto, que Quil e Jared eram tranquilos, o primeiro só usando uma camiseta branca com estampas pretas, e o segundo vestindo um casaco quadriculado em preto e branco por cima de uma regata preta, e que Embry só precisava de uma blusa de manga comprida branca por baixo da azul que ele usava com estampas coloridas para ficar bonito.
- Vamos esperar o Jake, e aí vamos pro cinema. - Jared respondeu, desligado. Eu tentei fingir que não tinha ficado apreensiva.
Eu não falava com Jacob desde o dia em que ele me fizera matar aula e ir com ele para praia, e então me imprensara contra a porta da minha casa, me dera um beijo na bochecha e me deixara lá, com cara de tacho. Eu acho que devia ficar um tanto quanto irritada com ele por isso, mas não estava, no entanto. Na verdade, acho que o negócio todo pareceu tão surreal para mim que eu nem mesmo consegui pensar nisso como realmente um fato que me acontecera. Balancei a cabeça, como que tentando expulsar Jacob da minha cabeça até que eu tivesse que lidar com ele. Tive vontade de rir. Tirar Jacob da minha cabeça, eu queria mesmo poder fazer isso de vez em quando.
- Olá! - ouvi uma voz feminina atrás de mim, e olhei para os meninos antes de olhar para trás: Jared e Embry tinham dois sorrisos idiotas estampados no rosto. Então olhei para trás: logo reconheci Kim, a garota em quem Jared tivera seu imprinting, e então Angie, a garota de quem Embry volta e meia falava (e pensava também). As duas garotas acenaram para mim de modo simpático, e eu acenei de volta. Elas não eram pessoas muito interessantes, e também acho que não deviam gostar muito de uma garota passando todo seu tempo livre com seus namorados ou o quer que fossem. Eu entendia e não ligava. Paul e Jared olhavam para os lados agora, e eu sabia que eles deviam estar esperando seus pares.
Bastou eu pensar nele.
Jacob usava jeans escuras, nem largas, e nem justas; tênis pretos com detalhes em branco, uma camiseta lisa branca por baixo de uma jaqueta de couro. Pensei por um instante. Ele estava exatamente do mesmo jeito que no meu sonho. Do mesmo jeito! Até o cabelo bem arrumado, o ar elegante... A probabilidade de meu sonho ter algo ver com hoje era muito grande e nada legal. Então eu balancei a cabeça e me concentrei nele, andando em minha direção.
Não era só o fato de Jacob ser bonito demais que acaba comigo, era também o fato de eu gostar de todos os detalhes bestas dele, como seu sorriso e seus olhos, e o modo como ele andava, e como eu gostava quando ele segurava minha mão. Ah, se eu soubesse que ia ficar pensando assim... Ia ter dado uma colher de chá para todas as minhas amigas que já me alugaram para falar que estavam apaixonadas. - Oi - ele disse, depois de cumprimentar os outros com um aceno e ter parado bem na minha frente, de modo que eu podia vê-lo, e também perceber os outros lançando olhares até nós. Sorri.
- Oi - respondi de volta, e ele sorriu. Ele colocou uma mão na minha cintura, e eu senti meu corpo todo estremecer. Sua mão deslizou até minhas costas e ele me colocou ao seu lado. Então ele girou para trás e ficamos nós dois, abraçados, e de frente para todos os outros.
- A gente se encontra no cinema, então? - ele perguntou, e os meninos assentiram. Eles não pareciam surpresos em ver Jake me abraçando. Pude ver Kim e Angie nos observando com a boca levemente aberta e as sobrancelhas erguidas. Eu não podia tirar vantagem disso porque eu acho que estava do mesmo jeito. Os únicos que não pareciam mesmo surpresos eram os meninos. O que é que Jacob estava querendo, afinal de contas? Será que a falta de árvores e excesso de cimento fazia efeito no cérebro dele?
Ele me guiou até o cinema. Lá, a fila era pequena. Compramos nossos ingressos e então andamos até onde um sofá vermelho ficava. Ele sentou, mas eu fiquei em pé. Cruzei os braços e o encarei. Ele franziu a testa.
- O que foi? - eu rolei os olhos.
- O que você tem hoje? - perguntei, de uma vez. Ele pareceu confuso.
- Como assim?
- Legal. - resmunguei, lutando contra minha vontade de não brigar com ele. Percebi que ele estava prestes a começar a falar, e então disse de uma vez: - Jacob, eu não sei como as coisas funcionam pra você, mas não se faz o que você fez... Simplesmente não... - respirei fundo e fechei os olhos. Quando eu os abri, Jacob estava de pé e perto demais de mim. Ele me encarou nos olhos, e colocou uma mão de cada lado meu. Eu mordi o lábio inferior e o observei enquanto sua expressão ia de confusa, para séria, e então ele fechava seus olhos e inclinava a cabeça... Eu conseguia sentir sua respiração quente sobre meu rosto, minhas pernas vacilando, suas mãos me segurando, seu perfume me deixando tonta, o imprinting agindo mais forte...
- Ah, eles estão lá!
- Vamos logo, a sessão vai começar em dez minutos...
- Quem vai comprar pipoca?
- Eu quero chocolate!
Nem dava para acreditar. Senti a respiração frustrada de Jacob, e quando ele se afastou li seus lábios ("Merda!"). Ele lançou um olhar irritado ao nosso grupo, que vinha em nossa direção. Paul e Quil estavam com outras garotas que eu não sabia o nome, só conhecia o rosto por vê-las de vez em quando no colégio.
- E aí, o que vocês vão querer? - Jared chegou perguntando, de mãos dadas com Kim, que tentava remexer no conteúdo de sua bolsa com a mão livre. Eu dei de ombros.
- Só refrigerante. - disse. Jacob interrompeu Jared, que já ia dizer algo como "Beleza".
- Deixa que eu compro algo pra gente, ok? - eu apenas assenti, e então me juntei a Angie e Embry. Os dois discutiam sobre um assunto qualquer que não me interessava, então eu girei nos calcanhares e fui para a sala em que devíamos ficar.

Não liguei de guardar lugar porque o cinema estava um tanto quanto vazio. Acho que ninguém queria ver o filme de terror que os meninos tinham escolhido. Ri com a idéia de todos eles, reunidos, tendo a brilhante idéia de ir ao cinema ver um filme de terror para as garotas pularem nos colos deles.
Suspirei, cruzei as pernas e apoiei minha bolsa sobre elas, abrindo-a para pegar meu celular. Foi quando eu estava pronta para abrir um joguinho qualquer para passar o tempo que eu senti uma mão no meu ombro. Olhei para trás.
- ! Você por aqui! - tudo que eu precisava agora: encontrar Alex. Ótimo. Abri um sorriso pequeno.
- Oi, Alex! Tudo bom? - ele tinha uma garota ao seu lado, ela era loira, magra e alta. Com toda certeza ele tinha arrastado ela de Forks, nunca tinha visto nem sombra dela em La Push.
- Essa é Hilary. - ele apontou para loira, e eu acenei. - Veio sozinha? - ele perguntou, e eu apenas neguei com a cabeça.
- Não, vim com os meninos. - respondi, e ele assentiu, fazendo um movimento rápido.
- Claro. - ele disse, claramente irônico. Eu não respondi, e graças a Deus não precisamos esticar a conversa, porque logo vi Jacob subindo as escadas iluminadas da sala. Ele olhou para mim, então para Alex, e se sentou ao meu lado, colocando um copo de Coca-cola do meu lado, outro do seu lado e me oferecendo pipoca do pote gigante que ele comprara.
- Valeu. - eu disse, rindo, quando Alex se afastou com a loira e se sentou algumas fileiras atrás de nós. Jacob ergueu uma sobrancelha, e abriu um meio sorriso. - Como você é implicante! - Jacob riu alto, e eu me peguei sorrindo ao vê-lo tão à vontade.
Podia parecer besteira, mas toda a situação era tão incrível em seus mínimos detalhes... Cara, eu tinha ficado tão besta.
O filme se passou comigo gritando de medo, Jacob tirando com a minha cara e me jogando pipoca, Kim e a garota de Paul falando pelos cotovelo, Angie se dividindo entre devorar seu chocolate e agarrar Embry, Jared comentando o filme com Paul e Quil conversando com a garota que estava com ele.
Jacob não tentou me beijar em nenhum momento durante todo o filme. Ao som dos gritos das adolescentes correndo de um maluco qualquer com uma faca na mão, ele passou o braço ao redor dos meus ombros, sorriu para mim, me encarou por tempo demais. Eu ia ficar completamente doida. O filme acabou com muito sangue, todo o elenco jovem do filme morto, a não ser pela adolescente que tinha um neurônio a mais que todo mundo - e aí incluímos o assassino - que conseguiu fugir.
Eu imaginava que nada ia ficar complicado naquela noite. Quer dizer, já eram dez da noite e nós tínhamos acabado de ver um filme. Como eu queria não ter concordado em fazer um lanche depois.

Havia um McDonald's bem do lado do cinema. Fomos eu, Jacob, Jared e Kim. Embry ainda estava muito ocupado agarrando Angie, e Paul e Quil mais ocupados ainda na tentativa de conseguirem agarrar suas respectivas garotas. Eu tnha acabado de chegar à mesa com meu Big Mac, e me sentei do lado de Jacob. Na nossa frente, Jared e Kim pareciam apaixonados demais. Engraçado como o imprinting agia. Você simplesmente conseguia ver que eles deviam estar juntos, que nenhuma outra opção estava em aberto. Olhei para Jacob em seguida. Será que nós parecíamos assim? Será que isso sequer era um imprinting? Afinal de contas, o que era "isso"? Ainda estava tudo tão confuso, misturado...
- Hey, que tal amanhã...? - essa foi a última frase que Jacob dirigiu a mim antes de eu, ele e Jared sentirmos algo que fez nossos corpos congelarem e um frio percorrer nossas espinhas. Foi o cheiro. Um cheiro horrível, tão doce que chegava a queimar meu nariz. E esse cheiro só podia ser de um vampiro. Na mesma hora, Jared ficou de pé e puxou Kim. Ela tivera o imprinting, então sabia de tudo sobre nós, e sobre os vampiros. Não precisou que nenhum de nós dissesse algo para entender o que estava acontecendo.
- Jared, leve ela e para casa...
- Não! - eu protestei, logo. Jacob me encarou impaciente, e eu não liguei. - Você não vai atrás de ninguém sozinho, eu posso...
- Pode por favor fazer o que eu peço? , não... - andávamos a passos apressados para sair da lanchonete, e mais rápido ainda para chegarmos ao carro de Paul. Não foi surpresa pra ninguém quando ele já estava chegando lá, seguido de Embry e Quil. Ele também sentira o cheiro.
- , você vai com o Jared. - Embry apontou para mim, assim que eu encostei no carro. Rolei os olhos e bufei.
- Vocês são ridículos! - reclamei, já que era tudo que eu podia fazer. Não dava para brigar com Jacob, Embry, Paul, Jared e Quil. Todos eles me olhavam como que dizendo "Não adianta insistir". Ótimo, eu não ia insistir.
Entrei no carro e bati a porta, passando a mão pelo rosto. Quando olhei para fora, vi Jacob dizer algo apressado para os outros, andar quase correndo, e parar ao lado de uma moto. Jared entrou no carro, depois de se certificar de que Kim estava segura no banco do carona. Ele me lançou um olhar rápido e compreensivo através do espelho retrovisor. Eu fingi que não tinha visto.
Estávamos na estrada havia quinze minutos. Eu estava ficando nervosa, porque o cheiro estava ficando mais forte. Não fazia sentido, porque se ele estava forte o suficiente para que chegasse até a gente na lanchonete, não devia ficar ainda mais forte quando já estávamos na estrada... Foi quando eu ouvi. Craque! Como no meu sonho. Arregalei os olhos e olhei para fora da janela.
Lá estava! A tal Victoria, com os cabelos cor de fogo!
- Jared! - berrei, e ele olhou rapidamente para onde eu olhava. Ele também viu, porque logo acelerou o carro e procurou mais alguém atrás dele. Em segundos, o motor da moto de Jake preencheu o silêncio e ele passou por nós. Os outros vinham em um carro que deveria ser de alguma das garotas, e todos estacionaram perto de uma árvore qualquer.
Não demorou mais do que uns dez segundos para um bando de lobos sair de lá, gigantes e medonhos. Então Jared acelerou ainda mais e fizemos uma curva, deixando a briga para trás. Eu quase pulei do banco do carro, levando as mãos a boca.
- Jared, a gente tem que...
- Não, a gente não vai voltar. - ele lançou um olhar rápido demais para Kim. Então eu lembrei que ela estava lá, e parecia aterrorizada. Oh, certo. Eu não devia parecer assim tão... Bom, eu também estava aterrorizada.
Não sei como Jared conseguiu chegar em La Push tão rápido. Só sei que ele me largou em casa, e correu para deixar Kim na casa dela. Eu não consegui entrar em casa. Fiquei na varanda, sentada no chão, olhando para o nada e atenta para o menor sinal possível de que eles estavam voltando.

Depois de uma hora sentada, com minha coluna doendo, eu estava quase me transformando e indo atrás deles. Mas não precisei, porque logo vi algumas figuras andando na minha direção, elas logo se mostraram ser: Jacob, Paul, Embry, Quil, Jared e Sam. Eu respirei aliviada quando os reconheci. Não sei o que deu em mim, só sei que eu literalmente pulei em Jacob quando o vi sorrir para mim. Ele pareceu assustado por um segundo, então me abraçou de volta e soltou uma risada pelo nariz.
- E então? - perguntei, quando estava com meus pés firmes no chão novamente. Jacob só se afastou o suficiente de mim para que eu pudesse ver os outros. Sam nos encarou por alguns instantes, então respondeu:
- Ela conseguiu fugir. Mas depois preciso conversar com você. - eu apenas assenti, imaginando que ele já tivesse percebido que eu sabia de alguma coisa. Era só o meu sonho, mas o fato de que ele fora tão anormalmente real hoje me assustava.
- Preciso dormir. - Embry se pronunciou, e os outros concordaram com ele fazendo murmúrios e com acenos da cabeça. Jacob não se mexeu. Eu procurei seus olhos, e ele abriu um meio sorriso para mim.
Eu procurei sua mão, entrelaçando-a com a minha, e então o guiei até a varanda da minha casa. Me sentei nos degraus, e ele também. - Desculpe por hoje. - eu respondi. - Eu acho que...
- Se alterou um pouco. - ele completou, rindo. Eu rolei os olhos, divertida.
- É. - concordei. - Um pouco.
- Um pouco. - ele ironizou, e nós dois rimos. Então houve aquele momento de silêncio. Em que eu só o observei e ele fez o mesmo. O engraçado era que com Jacob momentos assim nunca eram esquisitos demais. Eram só... Bons momentos. - Eu acho que já passou da sua hora de dormir. - ele resolveu falar, e eu rolei os olhos.
- Não tô com sono.
- Sabe, eu não perguntei se você estava com sono, só estou afirmando que...
- Jake, você não manda em mim, não... - mas não adiantou de nada. Em segundos ele, como sempre, agiu rápido demais e me pegou no colo. Eu me segurei em seu pescoço, soltando um grito pequeno de susto, e antes que eu entendesse o que estava acontecendo, ele tinha girado a maçaneta da porta da minha casa (quando seus pais vêem verde, eles automaticamente pensam: "Oh, veja só, o máximo que vai entrar aqui em casa vai ser um esquilo!" e deixam a porta destrancada) e me carregava para meu quarto. Ele me largou na cama, aos risos, e então eu notei que ele só usava uma camiseta branca e jeans.
Ele tinha um sorriso idiota no rosto, e eu rolei os olhos, divertida, quando ele andou até a ponta da minha cama e se inclinou sobre meus pés. Ele tirou meus sapatos e os colocou no pé da cama. Então foi novamente para a outra ponta da cama. Eu já tinha colocada um travesseiro atrás da minha cabeça, e senti meu rosto esquentar quando Taylor sentou-se ao meu lado.
Ele certificou-se de que eu estava deitada, e então se inclinou em minha direção e colocou cada braço de um lado da minha cabeça. Sorri para ele, ele sorriu de volta. Antes que eu pudesse pensar em beijá-lo, ele já tinha colado seus lábios nos meus. Eu senti meu estômago dar vários loops, ao mesmo tempo em que fogos de artíficio estouravam descontrolados lá, e que o frio que normalmente percorria minha espinha, passava a percorrer o corpo todo.
No momento em que ele me beijou, as minhas dúvidas sobre ter tido um imprinting ou não haviam ido embora. Só podia ser um imprinting. O beijo dele era... Era mais do que qualquer outra coisa que eu já sentira, parecia como algo pelo qual eu esperara minha vida toda. - Boa noite, . - ele disse, entre um beijo e outro, com a voz abafada e baixa. E eu respirei fundo, levantando da cama e colocando minhas mãos em seu rosto. Ele passou seus braços por minha cintura, me puxando para mais perto dele, e o toque dele era incrível. Eu nunca tinha me sentindo tão frágil e segura ao mesmo tempo como me sentia agora.
Ele intensificou o beijo mais uma vez, e com um último suspiro alto nós nos afastamos. Eu sorri, e ele também. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu não sabia se ele também sentia o imprinting. Mas agora isso não fazia diferença, porque quando ele se ajeitou na cama para que eu pudesse deitar ao seu lado e apoiar minha cabeça em seu ombro, eu soube que tinha algo a mais entre a gente. Talvez maior do que a gente pudesse entender.


Capítulo 7 -
ERA UMA VEZ...

(Capa.)

- Você vai vir almoçar? - eu dei de ombros.
- Não sei, mãe. Depende de quanto tempo Sam vai me fazer ficar lá. - minha mãe assentiu com uma risada. Eu não sabia o que ela achava que era ter que ter uma conversa com Sam. Ela devia achar que era algo divertido. Ok, eu adorava Sam. Mas eu estava morrendo de medo de atravessar as ruas que eu devia atravessar e conversar o que quer que Sam quisesse conversar em sua casa.
Ele muito provavelmente já sabia que eu tivera um sonho que meio que virara realidade, e ia brigar comigo por não ter contado pra ele antes.

Acenei para minha mãe e para o meu pai, que estavam empolgados com luvas e terras nãos mãos, plantando flores de todos os tipos no nosso jardim, e liguei a música no celular, colocando os fones de ouvido quando comecei a caminhar. Da minha casa para a de Sam era só uns quinze, talvez vinte minutos andando. E, claro, tinha virado um tipo de virtude do meu pai não me dar carona para lugar algum em La Push. Ele dizia que eu devia andar porque era tudo muito próximo e porque, com minha nova condição, eu tinha que conhecer todos os cantos de La Push. Odiava saber que ele tinha razão.
Jake tinha me dito para não me preocupar, que Sam não ia ser "o maluco que ele costuma ser com a gente", porque eu era nova e porque era uma garota. Reclamei, dizendo que eles tinham que parar com o excesso de proteção só porque eu era garota, e Jake tinha apenas rido. Tínhamos ficado acordados praticamente toda a madrugada, conversando baixinho para que meus pais não acordassem. Ele ficara o tempo todo abraçado comigo, e eu com minha cabeça em seu peito, sentindo sua respiração ir e vir. Nunca tinha me sentido tão confortável com alguém que eu conhecia há tão pouco tempo.
Ele disse que passaria na minha casa à noite, e eu estaria nervosa com isso se não fosse Sam.

Foi entre o final de uma música e o início de outra que eu parei em frente à porta de entrada da casa de Sam e Emily. Respirei fundo e então bati na porta. Graças a Deus, foi Emily quem veio me receber.
- Oi, ! - ela sorriu para mim, só o lado do rosto que ela conseguia mexer, e eu sorri de volta.
- Por que será que eu sempre encontro com você quando está nervosa? - ela perguntou, divertida, e eu acabei rindo também. Devia estar claramente tensa, ou Emily era tão perceptiva quando Embry era. Ela me deu espaço para passar, abrindo o braço e indicando a mesa de jantar que ficava na cozinha. Eu tirei o celular do bolso e desliguei a música, sentando à mesa redonda e cruzando as pernas e apoiando os braços sobre elas. Emily colocou um prato com muffins de chocolate na minha frente.
- Sam não vai te matar, querida. Coma alguma coisa. - eu soltei uma risada sarcástica.
- Vou tentar acreditar em você, Em. - e, mesmo que eu normalmente não conseguisse comer quando estava nervosa, estiquei meu braço e peguei um muffin. Agora que eu estava mais acostumada com as mudanças que tinham acontecido em mim, eu compreendia que eu simplesmente tinha mais fome, comia mais, e o cheiro da comida era muito mais forte, o que me fazia querer comer ainda mais. Em conclusão, eu comia o tempo todo. O lado bom era que eu não tinha engordado, e pelo visto nem ia.
Eu tinha relaxado um pouco, e estava pronta para começar um assunto qualquer com Emily, quando o silêncio da casa foi quebrado pelos passos de mais uma pessoa. Eu logo fiquei nervosa de novo. Sam apareceu na cozinha com o rosto um tanto quanto amassado, mas ele já estava vestido como se fosse sair a qualquer minuto. Seus olhos abriram um pouco mais quando ele me viu ali.
- Hey. - o cumprimentei com um aceno e um meio sorriso, abaixando o muffin. Ele acenou de volta e nós dois rimos. Emily se aproximou dele para cumprimentá-lo e foi aí que eu voltei a me concentrar no meu muffin. Eu já tinha aprendido que Sam e Emily eram um casal daqueles que você fica com vergonha de olhar, porque parece que está atrapalhando algo.

Emily nos deixou sozinhos na cozinha. Ela saiu com um sorriso no rosto, enquanto eu devia estar com um cara horrível de medo, e Sam estava simplesmente com sono. Eu o observava tentando pescar qualquer indicação de se ele brigaria comigo, ou se me faria um monte de perguntas... Mas ele comia seu muffin numa tranquilidade irritante.
- Como é que você consegue bloquear um Imprinting? - foi a última pergunta que eu esperava. Meus ombros caíram e minhas mãos pousaram sobre minhas pernas. Franzi a testa.
- Hã? - Sam rolou os olhos.
- , eu percebo as coisas. Eu sou o alfa, eu sei quando vocês estão me escondendo as coisas. E normalmente sei que coisas estão escondendo. - opa, lá vinha a bronca. A voz de Sam já era naturalmente grave pra você achar que qualquer tom um pouco mais alto que o normal era um tom de voz irritado. Quando ele realmente aumentava o tom de voz, aí dava medo.
- Eu não tô bloqueando Imprinting nenhum. - resmunguei. Sam assentiu.
- Claro que não está. - ele disse, irônico. - Mas tudo bem, depois nós voltamos nesse assunto. Ainda vai demorar muito tempo até você admitir isso e me responder de verdade. - eu abri a boca para protestar, mas Sam ergueu a mão aberta, a palma virada para mim, me fazendo parar. - Eu te chamei aqui porque precisamos discutir algo mais... Pessoal. - algo na voz menos irritada dele me fez ficar mais curiosa do que amedrontada. Ele comeu o último pedaço de seu muffin.
- ...Pessoal? - perguntei. Ele assentiu.
- Descobri algumas coisas que podem explicar muito sobre você. Muito mesmo. - ele então ficou de pé e andou até a sala de estar, que eu podia ver um pouco da cozinha. Em segundos, ele voltou de lá com uma pasta marrom e gasta. Ele a abriu, e papéis de aparência antiga se espalharam sobre a mesa da cozinha. Ele empurrou o prato de muffins para longe, e começou a organizar os papéis numa ordem que ainda não fazia sentido na minha cabeça. Esperei que ele terminasse.
- Eu estava tentando compreender você desde o dia em que se transformou, mas as informações simplesmente não batiam. - ele começou a explicar. Eu olhava dele para os papéis com escritas e desenhos esquisitos. - Conversei com seu pai, com Billy, com tanta gente... Mas nenhum deles conseguiu explicar tudo que acontece com você. Foi quando eu esqueci de um detalhe que se provou muito importante. Eu gesticulei, mexendo minhas mãos num sinal de que ele podia continuar falando.
- Sua mãe. Ela não é daqui. Ela é dinamarquesa. A principal diferença entre você e nós, é que nós somos nativos. Você não é, tem parte do seu pai, e parte dinamarquesa da sua mãe. Então eu pesquisei. - ele apontou para os papéis. - E acontece que você é uma criatura muito esquisita. - ele sorriu. Sorriu. Eu ergui as sobrancelhas, completamente confusa.

Eu nem conseguia acreditar. Quer dizer, aquela história toda de lobos tinham entrado na minha cabeça, só que eu não imaginava possível existir ainda mais lendas malucas que eram verdade. Eu sei que, no caso de você descobrir que uma lenda é verdadeira, você teoricamente assumiria que todas as outras são. Mas, se você quer mesmo saber, você meio que torce pra que elas não sejam, porque a idéia deixa o mundo que você conhece totalmente de cabeça pra baixo.
Pois é, eu já estava totalmente de cabeça pra baixo.
- Vamos voltar ao século onze. - Sam tinha começado a explicar, indicando os papéis. Eu não me contive e perguntei:
- Você realmente parece uma criança quando descobre alguma coisa? - porque eu nunca tinha visto alguém tão animado em me explicar alguma coisa. Sam apenas rolou os olhos, e então apontou para os papéis como quem diz "Concentre-se". Eu voltei a olhar para os papéis.
- Então, século onze. Havia uma rainha, o nome dela era Blathnat. Ela era só mais uma dessas personagens sem importância, que só casou com o rei para que ele pudesse ter filhos para dar continuidade ao governo da família. - ele me empurrou o primeiro dos papéis que ele organizara, tinha uma figura de uma mulher bonita, mas seu rosto era carrancudo, e ela não sorria. Tinha as sobrancelhas juntas e algo nela dava a impressão de que tudo ao seu redor parecia incomodá-la. Eu a observei por mais alguns instantes, percebendo quão incômodo aquilo me parecia, e coloquei logo o papel de volta na mesa. Sam esperou para continuar.
- Mas, estamos interessados na filha que os dois tiveram. Blathnat nunca conseguiu dar um filho ao rei, Hans. Ela sequer conseguiu engravidar uma segunda vez. Eles tiveram apenas uma filha, o nome dela era Dagmar. - ele me passou o outro papel, e esse tinha uma figura de uma garota que parecia ter a minha idade, só que usando aqueles vestidos enormes da época. Ela era dramaticamente diferente da mãe: ela sorria na imagem, e parecia totalmente fora de onde devia estar. Como se não pertencesse à época.
"Dagmar tinha dezessete anos quando coisas estranhas aconteceram com ela. E é aqui que entramos na lenda que é contada. Ela conhecia um rapaz, que não era de lá. Ninguém nunca soube de onde ele viera, como viera... Só se sabia que ele era claramente de fora, pelo seu tom de pele, que era diferente, mais escuro." Sam apontou para ele, e então para mim, nos comparando. "Ele também não precisava vestir roupas e mais roupas quando o frio chegava, ele estava sempre quente. Acho que você já percebeu onde eu quero chegar."
- Ele era um lobo. - eu completei. Sam assentiu. Pude ver uma sombra de um sorriso em seu rosto, por ter descoberto tudo sozinho. Eu me estiquei e peguei outro dos papéis que estavam na mesa, dessa vez olhando para um rapaz que parecia ter a mesma idade de Dagmar, e que era perturbadoramente parecido com Sam, Embry, Quil e mais todos os meninos. Ele podia ter mais de cem anos e ainda estar preso naquele corpo. Peraí. Olhei para Sam, confusa. - Se ele é um lobo... E ele se transforma, ele ainda tem essa condição, então... Então os vampiros estavam por perto. - sem esperar resposta, peguei o papel que ficava ao lado da imagem do garoto-lobo. Era exatamente o oposto, uma pessoa com a pele branca demais, os olhos vermelhos... Era como uma estátua. Mordi o lábio inferior.
- Dagmar mantinha um relacionamento escondido com o lobo. - Sam pegou a imagem de Dagmar e do garoto-lobo e as colocou juntas. - Mas, ela estava prometida ao vampiro. - ele colocou a imagem do vampiro entre os dois. - Porque, na época, eles imaginavam que ele, por sua aparência, elegância... Fosse uma espécie de... Pessoa poderosa. É como se o Brad Pitt fosse o presidente. - eu soltei uma pequena risada com a comparação dele, mas me concentrei nas imagens dos três à minha frente.
- O que aconteceu? - eu perguntei, curiosa. Eu me debrucei sobre a mesa, ficando mais perto das imagens dos três. Sam se debruçou também, ao meu lado. Ele esticou o braço direito e empurrou a imagem do lobo para o lado. Uniu a do vampiro à de Dagmar. Eu soltei um "Oh, não!" de frustração, sem nem ter percebido.
- Ela casou com o vampiro. E, bom, ele era velho o suficiente para saber controlar sua vontade. Então ele, todas as noites, chupava um pouco do sangue de Dagmar. E, também, a fazia beber de seu sangue. Alguma espécie de maluquice que não dá pra entender desses vampiros malucos. - ele rolou os olhos e gesticulou irritado. - Só que, esse vampiro, fazia algo a mais. Ele tinha poderes especiais. - Ele... - Sam pigarreou. - Ele controlava pensamentos. - eu arregalei os olhos. Opa.
- Você quer dizer que... Mas... - Sam ergueu a mão, com a palma virada para mim, indicando que ainda não tinha acabado de falar.
- Depois de vinte anos casada com esse vampiro, Dagmar conseguiu fugir. Ela havia praticamente criado raízes dentro do castelo em que vivia, porque não tinha vontade de sair de lá. Ela não tinha vontade de viver. Mas as criadas conversavam com ela, eram as únicas pessoas com quem ela matinha contato. E elas também sabiam que o marido de Dagmar não era alguém comum. Claro, elas não tinham noção do que ele era, mas sabiam de mais. E, bom, naquela época, se quer saber, as criadas tinham contatos. - Sam mesmo soltou uma pequena risada. Ele fez aspas no ar. - Só precisou de algumas pessoas depois que Dagmar deixou o vampiro por duas semanas sem seu sangue. Ele tinha se tornado tão viciado em beber do sangue dela que, quando não o teve mais, ele ficou fraco. E, depois do vampiro morto, Dagmar fugiu.
- Ela encontrou o lobo?
- Encontrou. Mas ele tinha ido para longe. Muito longe. Depois de ter visto Dagmar casar, ele achara que nunca mais a teria. Então, depois de longe do vampiro, o lobo deixou de ser lobo. Ele era uma pessoa comum, que tinha envelhecido, mas Dagmar também tinha e isso não importou pra ela. Eles ficaram juntos, mas... Infelizmente, ele ficou doente. Claro que naquela época, se você ficava doente, era certo de morrer. Não havia medicamentos, e muito menos para um rapaz que não era da realeza. Então Dagmar só esteve com ele enquanto ele morria. E depois... Depois nada mais se sabe sobre ela.
- Uau. - foi tudo que saiu da minha boca, depois de um longo suspirou. Eu estava mesmo impressionada.
Sam não tinha se dado ao trabalho de unir a fotos dos dois, então eu estiquei meu braço e coloquei um ao lado do outro, empurrando a imagem do vampiro para longe. Mas, enquanto observava os dois unidos, uma simples pergunta óbvia surgiu na minha cabeça. Olhei para Sam, só precisando virar a cabeça para a esquerda. - E o que isso tem a ver comigo? - ele abriu um sorriso de lado, e então esticou o braço, pegando as imagens do rei, que eu não tinha me dado ao trabalho de olhar, da rainha e da princesa. Ele as colocou na minha frente.
- Veja o que as três têm em comum. - então eu percebi. Embaixo de cada imagem, ficavam os nomes e sobrenomes de cada um deles. Em meios a muitos sobrenomes, todos eles tinham o último sobrenome em comum: Vibbard.
Minha mãe se chamada Sadie Vibbard. Eu era Vibbard Quilt.
- São seus parentes distantes. - ele disse. Eu apenas assenti, completamente assustada.
Levei a mão à boca, cobrindo-a, sem deixar meus olhos desviarem das imagens à minha frente.
- Porque eu? - perguntei. - Eles são tão antigos. Porque isso só aconteceu comigo?
- Acho que foi perdendo força conforme as gerações foram passando. Mas então sua mãe casou com seu pai... E tudo voltou. - eu assenti outra vez. - Também acho que isso explica o seu sonho. - olhei para ele, assustada por ele saber que eu sonhara. Ele apenas sorriu. - Victoria apareceu no seu sonho, talvez seja a mínima ligação que você tem com vampiros, daquela época.
- Você não contou isso para os meninos, contou? - perguntei, indicando a bagunça na mesa com a mão. Sam negou com a cabeça.
- Você merecia saber de tudo antes. E, bom, se preferir contar para Jacob você mesma... - ele deixou a frase no ar, como uma sugestão. Eu dei de ombros.
- Acho que não faz dif... - Sam bufou. Eu arregalei os olhos, assustada, e tirei os braços da mesa, ficando de pé novamente. Ele parecia um tanto quanto irritado.
- , você teve um imprinting em Jacob. E está escondendo isso dele, bloqueando-o com essas coisas que você pode fazer... Não acha isso injusto? Que você possa se apaixonar e que as coisas façam sentido pra você quando ele está por perto, porque eu sei que fazem, e privá-lo disso?
Ah, merda.
- Ele gosta da Bella, eu não vou prendê-lo a mim por causa de uma droga de imprinting. - minha voz saiu mais irritada e alta do que eu planejara, e dei um passo para trás logo em seguida. A expressão irritada de Sam mudou para uma cansada. Ele suspirou. Ele argumentou, cansado:
- , ele gostava da Bella. Ou talvez ainda goste um pouco. Mas, de qualquer forma, ele costumava ser apaixonado por ela. Ele não dava a mínima para outras garotas. E, desde que você apareceu, ele tem sido mais como o Jacob que sempre foi, antes de Bella largá-lo pelo vampiro. Ele está gostando de você mesmo sem ter tido nenhum imprinting, acho que isso deve significar alguma coisa.

Beleza, então eu tinha mesmo tido um imprinting em Jacob. A ficha caía devagar, enquanto meus passos ficavam mais pesados, conforme eu tinha que passar por quantidades maiores de folhas secadas caídas ao chão, já que eu tinha decidido andar um pouco pela floresta que eu já conhecia melhor depois de tanto correr por ali com Sam me assistindo.
O beijo de ontem fora... Surreal. A melhor sensação que eu já sentira na vida, mas ainda assim... Eu ainda não acreditava que tivera um imprinting em Jacob. Porque era Jacob. Mas o excesso de convicção com que Sam dissera, me fez acreditar no segundo seguinte.
Eu também pensara bastante em como estava bloqueando o imprinting. E nesse ponto foi bem fácil descobrir como é que eu estava bloqueando-o: bastava pensar na possibilidade de contar isso a Jacob que imediatamente eu sentia minha mente meio que dar um passo para trás, na defensiva. Eu não conseguia deixar esse pensamento ir para frente.
Eu sabia que Sam tinha razão, que eu não tinha o direito de guardar isso para mim. Afinal, não dizia só ao meu respeito. Mas eu tinha medo de que Jake ficasse irritado por eu ter atrapalhado qualquer coisa que ele pudesse tentar com Bella. E esse era outro pensamento que talvez não devesse estar passando pela minha cabeça. "Ele está gostando de você mesmo sem ter tido nenhum imprinting, acho que isso deve significar alguma coisa." a última frase de Sam antes de ele me deixar ir para casa ia ficar ecoando em minha cabeça por um bom tempo.
Eu estivera pensando esse tempo todo que o efeito do imprinting finalmente se fizera presente em Jacob. Mas, se eu estava bloqueando-o o tempo todo, então ele realmente só podia ter me beijado e tudo mais por vontade própria. Deixei um sorriso idiota surgir no meu rosto quando pensei nisso. Eu gostava mesmo de Jake, ele era um cara ótimo, divertido, bonito e tinha a mesma condição que eu, o que tornava tudo mais fácil.
Então eu parei de andar, e me apoiei no tronco de uma das árvores, cruzando os braços. Era isso. Eu tinha acabado de excluir todos os motivos para não contar a Jacob ou para continuar bloqueando o imprinting... Eu devia contar a ele tudo, e então tudo ficaria bem.
Me ajeitei, arrumando minha bermuda e tirando os galhos e folhas que haviam grudado nela e na blusa. Comecei a andar mais rápido e achei o atalho que daria na casa de Jacob.


Capítulo 8 -
UM ENCONTRO DE VERDADE.

(Capa.)

Eu não fui à casa de Jacob. Eu não tive coragem de andar até lá e contar tudo para ele. Ao invés disso, eu corri de volta para casa e me escondi em meu quarto. Sentei no chão e então respirei fundo. Eu organizei tudo que tinha acontecido em minha cabeça, deixando as coisas fazerem sentido aos poucos... Lobos, imprinting, princesas, vampiros... Não era muita coisa para um garota só? Francamente, eu nem era maior de idade ainda.
Eu tive vontade de ligar para algum dos meninos, mas não podia confiar que, caso eu contasse tudo para eles, eles não iam pensar nisso. Também não podia contar para Sam, porque ele mandaria eu ir até Jacob; também não podia contar para Emily, porque Sam ia acabar sabendo. Eu não podia contar para ninguém. Suspirei e me deitei no chão mesmo, deixando um braço sobre meus olhos.

Eram seis e meia da tarde quando eu acordei. Acordei com o barulho do meu celular e, com a testa franzida porque ninguém nunca me liga, eu tirei o aparelho do meu bolso e apertei o botão verde sem nem mesmo ver quem me ligava.
- Hm? - foi tudo que eu consegui murmurar, pelo sono. Mas, a voz do outro lado, me fez ficar sentada num pulo e arregalar meus olhos.
- ?
- Jacob! - pigarreei, tentando não parecer tão sonolenta. Jacob riu do outro lado da linha.
- Por que a surpresa? Será que eu sou mesmo tão impossível de usar o telefone? - eu rolei os olhos, divertida.
- Bom, você parece odiá-lo o suficiente para eu acreditar que não vai usá-lo. - ele riu uma segunda vez.
- Você está errada, então. Cá estou eu te ligando.
- E qual seria o brilhante motivo da sua ligação?
- Você me encontrando em frente a sua casa daqui a meia hora. - se eu não estivesse no chão, eu provavelmente teria caído nele. Tinha esquecido que Jacob iria passar na minha casa à noite. Merda.
- Meia hora? Preciso de uns quarenta minutos. - ele riu.
- Tudo bem, tudo bem... Quarenta minutos. Até daqui a pouco. - ele desligou o telefone e eu assisti o visor indicando "Chamada Encerrada" por algum tempo. Ótimo, agora eu ia precisar correr.
Eu acabei escolhendo jeans, uma camisa de manga comprida listrada em preto e branco e tênis all star vermelhos. Não era nada formal, e nem informal demais. Mas, quando eu estava me convencendo de que minha roupa estava boa, minha mãe apareceu em meu quarto, abrindo a porta ao mesmo tempo em que dizia que iria fazer alguma coisa com batata frita para o jantar. Ela parou de falar, me observou, e então ergueu as sobrancelhas.
- Vai sair? - eu mordi o lábio inferior. Não tinha pensado na possibilidade de ela não deixar.
- Vou. Com Jacob. - e aí ela abriu um sorriso enorme, e fui eu quem ergueu as sobrancelhas.
- Ah, querida! Isso é ótimo! - e então ela fechou a cara de novo. - Mas, espera aí, você não vai sair assim.
- Não? - eu olhei para o meu reflexo no espelho.
- Não. - minha mãe foi direto em meu armário, e começou a passar as roupas nos cabides. - Onde vocês vão? - ela perguntou, mas não num tom de quem quer saber para tomar conta, num de consulta para que tipo de roupa escolher. Eu dei de ombros.
- Não sei, ele só disse que vai passar aqui.
- Hm, e provavelmente te levar para outro lugar... Vejamos... - eu cruzei os braços e esperei ela puxar um vestido de mangas compridas, fiz que não com a cabeça.
- Eu... Hã... Eu não sinto muito frio, mãe.
- Oh, é verdade! - ela levou uma das mãos a boca e enfiou o vestido no armário de novo. Lá fora, ouvi meu pai rindo de alguma coisa na tv.
- E, mãe, será que pode não contar a ele? - apontei para o lado de fora. Minha mãe rolou os olhos entre olhar um vestido e uma calça jeans.
- Seu pai não vai... Ah, esse é perfeito! - eu não tinha muita escolha. Era um vestido curto, leve e de alças finas, florido no tom marrom. Calcei umas sandálias baixas com ele e fiz uma maquiagem rápida. Minha mãe me fez soltar o cabelo e o sorriso dela me fez rolar os olhos.
- Mãe, pára com isso.
- Você está tão bonita. Agora vá de uma vez, seus quarenta minutos já acabaram há cinco. - eu peguei minha bolsa, coloquei meu celular lá dentro e saí. Meu pai estava mesmo muito concentrado na tv, porque nem mesmo me olhou quando eu passei por ele e disse "Pai, tô saindo!", só murmurou "Aham, toma cuidado" e começou a rir da tv.

Quando eu fechei a porta de casa, me deparei com Jacob encostado na parede, ao lado da porta. Me assustei por um segundo, e então eu fiquei besta em como ele estava bonito: jeans escuras, uma camiseta preta com estampas brancas e tênis pretos. Ele sempre se vestia o mais simples possível, e acho que ele nem tinha noção de como funcionava bem para ele. Eu sorri.
- Desculpa o atraso. - disse, e ele deu de ombros, abrindo um sorriso também. Desencostou da parede e estendeu o braço, abrindo a palma da mão a minha frente. Eu aceitei, entrelaçando nossas mãos, e então começamos a andar. - Aonde estamos indo?
- Cara, como você pergunta! - ele brincou, e eu mostrei a língua.
- Imbecil. A culpa não é minha se você tem mania de sair me carregando pros lugares sem eu saber pra onde...
- Blá, blá, blá... Eu nunca decepciono. - eu soltei uma risada divertida do tom de voz falsamente irritado dele, e dei um soco em seu braço.
- Então deixa eu adivinhar, vamos no seu carro de novo? - ele franziu a testa.
- Não.
- Então o lugar é perto?
- Não.
- Você tem um tapete mágico, por um acaso?
- Não.
- Jacob! Me responde direito! - a essa altura, nós dois estávamos rindo e afastados da minha casa. Sem eu perceber, ele tinha me guiado para a floresta. A lua cheia estava brilhando lá no céu, então nosso caminho era iluminado por ela, já que os postes de iluminação foram deixados para trás. Jacob então parou de andar e ficou de frente para mim. Eu fingi estar séria, esperando uma resposta, e cruzei os braços.
- Você quer uma resposta? - ele perguntou, dando um passo em minha direção. Ele estava falando sério, e seu olhar no meu fez meu rosto esquentar e muito provavelmente minha cara ficar totalmente vermelha.
Jacob soltou uma risada divertida. Talvez ele estivesse mesmo se divertindo com minha falta de jeito. E antes que eu pudesse pensar no meu próximo passo, Jake acabou com a distância entre nós com um passo, passando uma mão por trás de meu pescoço e me levando gentilmente em sua direção. Ele me beijou e as sensações de todos os tipos estouraram dentro de mim de novo, e era tão bom. Eu retribuí o beijo, e abri mais a boca para deixá-lo passar. Apoiei um de meus braços em seu pescoço, e ele apertou o dele contra minha cintura.
- Isso não exatamente responde minha pergunta. - eu sussurrei, quando nossas bocas se separaram apenas o suficiente para que eu pudesse falar. Jacob sorriu.
- Acho que isso é bem melhor que responder sua pergunta. - eu rolei os olhos.
- Isso significa me distrair.
- Oh, então quer dizer que funciona?
- Mais do que deveria. - eu respondi, rindo. Cheguei a achar que Jacob se afastaria de mim, mas ele só sorriu e me apertou mais forte contra ele. Eu respirei fundo.
- Então, você quer pegar um cinema, comer uma pizza, ficar aqui ou ir até a praia?
- Eu tenho opções? Uau! - Jacob semicerrou os olhos. - Que tal a gente pegar uma pizza e ir pra praia?
- Pizza com praia?
- E qual é o problema?
- Vai, maluca. Vamos. - aos risos, nós nos separamos, ficando apenas de mãos dadas, e Jake me guiou até sairmos da floresta e entrarmos na "parte movimentada" de La Push. Sem entrar nos detalhes do que se entende por "parte movimentada" aqui, nós fomos direto para a pizzaria que tinha ali e pedimos uma pizza de calabresa para viagem.
Depois de vinte minutos esperando, conversando e rindo, Jacob e eu pegamos a pizza e mais um refrigerante, que eu muito custara a conseguir deixar ele me pagar metade.
O caminho para a praia era curto, e chegamos lá com mais alguns minutos. Eu me sentei numa pedra alta, e ele sentou-se ao meu lado. Colocamos a pizza nos nossos colos e o refrigerante apoiado na parte de trás da pedra. A praia estava vazia, e eu imaginava que por ser uma noite fria. Não era pra mim, nem para Jacob, mas para as pessoas normais, sim.
- Essa pizza é boa! - eu comentei, terminando meu primeiro pedaço, quando ele já estava no segundo.
- E você achando que ia ter que ir até Port Angeles. - ele disse, e eu fiz uma careta.
- Cale a boca. - ele riu. Eu enfiei meus pés na areia, brincando com ela, e ele assistia enquanto parecia pensar em alguma coisa. Eu decidi que era a minha vez de interrogá-lo. - E você, Jacob? O que me diz da sua vida? - ele ergueu uma sobrancelha, sem entender. Eu bufei. - Você já me levou pra praia e eu te contei sobre mim, não foi? Sua vez, agora.
- Não tem nada interessante, . Eu nasci aqui e cá estou desde então. - eu fiz minha melhor expressão ameaçadora. - O que foi? - ele perguntou, rindo. Eu me estiquei e lhe dei um soco no braço. Claro que não doeu. Ele rolou os olhos. - Ah, tudo bem. Eu tenho duas irmãs, Rachel e Rebecca, elas são gêmeas. Rebecca casou um surfista, foi morar no Havaí. - eu fiz cara de surpresa, e ele riu.
- Esperta ela. Havaí, surfistas...
- Ah, qual é, ! Você sabe que surfistas não fazem seu tipo. - eu neguei com a cabeça.
- Como é que você pode ter tanta certeza disso?
- Enfim... - ele disse, o tom de voz mais alto, e eu soltei uma risada divertida. - ...Rachel conseguiu uma bolsa de estudos, ela foi pra Washington fazer faculdade. Na verdade, as duas foram embora um pouco depois... Bom, depois da morte da minha mãe. Ela morreu num acidente de carro, e foi demais para as minhas irmãs. Meu pai, até hoje, fala o menos possível dela. - o sorriso sumiu do meu rosto, e eu percebi o tom de voz dele ficar mais baixo e mais triste. Me arrependi no mesmo instante de tê-lo obrigado a falar. Levei uma mão até seu ombro, e ele procurou meu olhar quando eu o toquei.
- Desculpe, eu não devia... - ele balançou a cabeça, não me deixando terminar.
- Você tem todo o direito. Aliás, eu quero dividir as coisas com você. Esse só não é um assunto muito feliz, mas pelo menos agora você sabe. - eu sorri.
- É, agora eu sei. - ele tirou minha mão de seu ombro, e a entrelaçou com a dele.
- Mas olha só, isso não é nada do que eu planejei pro nosso encontro. - sua voz ficou divertida de novo.
- E ainda assim, nem temos do que reclamar.
- Você realmente acha isso ou é só pra me agradar? - ele perguntou, rindo, e eu mandei o dedo do meio para ele. - É, pra me agradar que não é. - eu comecei a rir também, e comecei:
- Larga de ser idiota. Eu não ia ter vindo se não quisesse estar com você. - ele ficou quieto, e mordi o lábio inferior, desviando meu olhar do dele e olhando para frente, assistindo as ondas quebrarem calmas.
- Sabe, você é a primeira garota de quem eu gosto, e que gosta de mim de volta. Numa... Numa escala grande, sabe? Como algo grande. Antes de você, eu... - ele suspirou, procurando por palavras. Eu mantive meu olhar, mantive minha posição, com medo de que qualquer movimento errado fizesse com que ele parasse de falar. - ...Eu não via as coisas. Eu não sei como eu gosto tanto de você, com tão pouco tempo que a gente se conhece. Parece sempre mais, parece que você demorou demais pra chegar, ao mesmo tempo que parece que tudo com você é na hora certa, no momento certo, no lugar certo... - eu me virei para ele. Sentia as lágrimas se acumularem nos meus olhos, e as via embaçarem minha visão, mas tentei dizer, mesmo com a voz embargada:
- Jake, você não tem noção do quanto eu gosto de você. Eu gosto demais. É a melhor coisa do mundo ouvir isso de você. - ele sorriu, o sorriso lindo, grande e sincero que sempre me fazia sorrir junto. Ele fechou a caixa de pizza e a colocou com o refrigerante, me puxando para perto dele no instante seguinte.
- Acho que eu devo fazer isso do jeito certo. - ele disse, colocando uma mão na minha cintura e apertando-a, me levando lentamente em sua direção. Ele pigarreou, e eu abri um sorriso pequeno. - Vibbard Quilt, quer namorar comigo?
Eu tinha um sorriso muito idiota no rosto. Ele tinha dito palavras mágicas e lá estava eu, quase encantada. Quase. Eu não podia dizer "Sim" sem ele saber de tudo que precisava saber. Respirei fundo. Era agora. Meu sorriso desmanchou, e eu assisti o rosto dele perder a expressão animada, agora ele parecia preocupado.
- Jake, eu preciso... Eu tenho algumas coisas pra te contar, e então eu acho que vou ter que, no final, vou ter que perguntar se é você quem quer namorar comigo. - ele continuou preocupado. Eu respirei fundo e contei toda a história sobre Dagmar, o lobo, o vampiro, e que a princesa era uma parente muito distante minha. Quando terminei, esperei uma resposta dele à história. Ele parecia surpreso.
- Nossa, isso realmente explica muito sobre você. - eu assenti, passando a mão pelo cabelo e jogando-o para trás. E então ele sorriu. - Mas... Era só isso? , isso não é motivo algum para eu não querer namorar você. Eu quero namorar com você.
Ele me beijou e eu retribuí, deixando sua língua passar e colocando minhas mãos em sua nuca, vez ou outra passando meus dedos por seus cabelos, enquanto ele me apertava forte contra seu corpo. Eu sentia seu cheiro, ouvia sua respiração e seu coração acelerado. O silêncio ao redor fazia com que nós dois, ali, estivéssemos no último volume, numa pequena bolha só nossa.
O problema era que eu precisava interromper aquele beijo e deixar o imprinting chegar em Jacob. Eu tinha que tentar, e aí sim ter tudo claro entre nós dois. Eu estava mesmo de saco cheio de ter que lidar com o que ele não sabia e eu sim, mas será que essa a coisa certa a se fazer? Por mais que Sam tivesse dito que era injusto que eu bloqueasse o impriting, a idéia de que eu estava privando Jacob de algo que ele quisesse fazer era grande demais.
Eu quebrei o beijo e afastei Jacob, colocando minhas mãos em seu peito. Ele tinha um sorriso tranquilo, e eu soltei um longo suspiro. Uni minhas sobrancelhas, confusa, e então disse:
- Certo, tem mais uma coisa. - ele franziu a testa. Eu respirei fundo e me preparei para fazer a uma coisa mais difícil que eu já tivera que fazer.
Não era fácil, porque tudo agora parecia na mais perfeita ordem. Era como tentar melhorar algo e estar muito mais sujeita a estragar do que realmente melhorar. Quando as coisas são tão melhores assim, é de se duvidar. Jacob estava prestes a falar alguma coisa, então eu logo abri a boca e...
- Aaaaah! - nós dois arregalamos os olhos, e olhamos em direção aos gritos ao mesmo tempo. Estávamos tão concentrados que não notamos a presença de mais três pessoas na praia. Era uma mulher e um homem adultos, cada um segurando a mão da pequena criança entre eles: uma menininha que devia ter uns cinco anos tentando colocar os pés no mar, e que acabara de gritar quando a água os alcançara. Agora, ela ria alto e os pais riam com ela. Eu levei a mão ao peito, e respirei aliviada.
- Cara, que susto. - eu disse, e Jacob soltou uma risada abafada.
- , o que você ia dizer?
- Hã... Nada demais. Só que a pizza vai acabar esfriando! - de verdade, a resposta saiu antes que eu pudesse controlar as palavras na minha boca. Eu tenho certeza de que minha voz saiu esganiçada, mas ou Jacob não percebeu, ou apenas não quis dar atenção a isso.

Passamos a noite na praia, andando, conversando, rindo e nos beijando. Se não fosse o Sol nascendo e fazendo com que percebêssemos que já era manhã de domingo, não teríamos lembrado que deveríamos dormir. Jacob andou comigo até em casa.
- Durma bem. - ele disse, sorrindo. Eu sorri também, e assenti.
- Certo, vejo você mais tarde. - ele se aproximou de mim e me deu um último beijo. Um beijo tranquilo que, ao mesmo tempo, me fez ter exatamente os mesmo efeitos que qualquer outro beijo dele, e também um completamente novo que eu ainda não conhecia: o calor bom que percorreu meu corpo quando percebi que tínhamos entrado em um relacionamento de verdade.


Capítulo 9 -
PREVISÍVEL.

(Capa.)

Estacionei meu carro em frente a casa de Jacob e peguei minha bolsa antes de sair. Fechei o carro e apertei meu casaco contra meu corpo, sentindo minhas botas pisarem sobre a neve fofa que se acumulava no chão. Era janeiro, fazia frio, e bastante coisa tinha mudado desde que Jacob me pedira em namoro, há quase quatro meses atrás.
Sam continuava treinando comigo, e agora eu controlava totalmente minha transformação em loba, e também minhas ações quando loba; eu tinha ganhado um carro de Natal (segundo meus pais por ter lidado tão bem com tudo me acontecera) e agora eu tinha quase total controle das minhas habilidades com pensamentos. A única coisa que não tinha mudado era o fato de que Jacob ainda não sabia de nada sobre o imprinting. Sam me dava broncas sempre que podia, mas sempre tomando cuidado para que ninguém mais ouvisse, a idéia de que tinha que ser eu a contar tudo para Jacob era fixa na cabeça dele, e por isso eu agradecia.
- ! - a voz de Billy me acordou das minhas distrações quando eu comecei a caminhar em direção à casa. Eu sorri para ele, acenando enquanto apertava o passo para chegar logo. Estava frio demais até para meu corpo aquecido. Billy logo me deu passagem para que eu entrasse, e eu respirei aliviada quando o vento frio ficou do lado de fora. Billy riu, enquanto guiava sua cadeira de rodas para a sala. - Ainda não se acostumou com o frio, é?
Eu tirei meu cachecol e meu casaco, dobrando-os sobre minhas pernas, depois de me sentar no sofá. Balancei a cabeça.
- E nem acho que vou me acostumar. - disse, rindo.
- Esse é o problema dessa gente da Califórnia. - uma terceira voz que eu conhecia muito bem se fez presente, vindo do corredor que dava nos quartos. Ergui a cabeça para encontrar Jacob encostado na parede, de braços cruzados e sorrindo. Eu mostrei a língua para ele.
- Só não mando você passear porque seu pai está aqui. - ele soltou uma risada divertida, e então atravessou a sala e parou na minha frente, esticando-se para me beijar só por encostando nossos lábios. Eu levei uma mão até seus cabelos, e os baguncei distraidamente. Sorri quando ele se afastou só o suficiente para que eu pudesse ver seus olhos.
- Você não tem coragem de me mandar passear. - ele me deu um beijo na bochecha e então se afastou. Eu percebi que ele ainda não estava arrumado.
- Eu vou te mandar passear se você não andar logo, a gente vai acabar perdendo a hora! - ele bateu a porta do quarto e eu ri.
- É, você tem feito bem a ele. - por um tempo, eu esqueci que Billy ainda estava na sala. Sua voz, mesmo que baixa e calma, me assustou. Eu sorri ao entender o que ele dissera.
- Ele também faz bem a mim. - respondi. Billy suspirou e girou a cadeira de rodas, em direção à porta. Ele parou de frente para a janela, e eu me virei para observar a floresta e o céu como ele observava. Era fim de tarde, e o tom laranja fazia um contraste bonito com o excesso de branco da neve. - Ele está frustrado, no entanto. - eu logo entendi ao que Billy se referia. - Não só ele...
- Todos nós estamos. - eu concordei, percebendo as árvores balançarem com o vento. Victoria não parecia nem perto de ser alcançada, a cada ponto em que ela aparecia e conseguíamos cobrir, ela descobria outro.
- Tudo bem, vocês vão dar um jeito...
- Parem de fofoquinha, vocês dois. - Jacob voltou, vestindo jeans, camiseta, tênis e um casaco preto. Eu sorri quando ele se aproximou de mim e estendeu a mão, para que eu me apoiasse e levantasse. Vesti meu casaco e meu cachecol de novo, aceitei sua mão e fiquei de pé. Ele continuou com as mãos estendidas. Eu rolei os olhos.
- Você não vai dirigir, Jacob! - disse, e ele bufou. - É sério, eu gosto de dirigir e o carro é meu.
- Então vamos no meu...
- Nós vamos no meu e eu vou dirigir, ponto final. - coloquei minha mão em suas costas e comecei a empurrá-lo para fora de casa, com Billy rindo de nós dois.
- Ela te põe na linha, cara. - Billy brincou com Jacob, e depois de um "Ah, cala a boca, pai!", Billy fechou a porta e nós estávamos do lado de fora. Jacob parou de me deixar empurrá-lo, porque ele claramente estava deixando, eu não tinha muita força para empurrá-lo, quem diria com uma mão só. Eu soltei um murmúrio de reclamação.
- Jake! - resmunguei, e ele riu. Muito rapidamente, ele me girou e ficou de frente para mim, fechado seus braços ao redor da minha cintura e me apertando contra ele. Eu inspirei seu perfume e ergui a cabeça para poder olhá-lo, Jake era tão mais alto que eu. Ele se inclinou para me beijar, e eu deixei que ele o fizesse, mas não antes de enrolar as chaves do meu carro em minha mão e levá-la ao pescoço dele, não aguentando ficar sem rir quando ele colocou a mão no bolso do meu casaco e não encontrou as chaves. Me afastei dele.
- Você é tão previsível. - parecendo ofendido, ele começou a rir e nós andamos até o carro. Me ajeitei no banco do motorista e coloquei a chave na ignição, ligando o carro e entrando nas ruas de La Push.
Jacob e eu íamos à Port Angeles, ver um filme qualquer que ele queria assistir e aproveitar um dos poucos momentos que tínhamos sozinhos, já que na maior parte do tempo estávamos sempre com algum dos meninos, ou estudando, ou como lobos. Agora, eles me deixavam ficar mais tempo transformada e andando durante o dia em lugares mais inacessíveis da floresta. Ainda não deixavam que eu fizesse parte da vigia de noite, e isso ainda era um assunto que gerava discussões entre eles e eu.
- Seus cds são tão ruins... - Jacob comentou, entediado, enquanto passava as faixas do cd sem nem mesmo escutá-las direito. Eu rolei os olhos, rindo do meu namorado irritado por não estar dirigindo, e apertei o botão que trocava os cds pela rádio. Ele me lançou um olhar ameaçador. Eu sorri.
- Metade desses cds são seus.
- Você estragou meu gosto musical. - ele tentou continuar ganhando a discussão, e eu soltei uma risada sarcástica.
- Agora a culpa é minha? Você já ouvia música ruim antes.
- Antes do quê? De você me proibir de dirigir? - nós dois rimos dessa vez, e eu estendi minha mão direita em direção a ele, que a entrelaçou com a sua mão esquerda. Ele a girou e fez com que eu a abrisse, a palma virada para ele. Jake pareceu se distrair contornando as linhas da minha mão com seus dedos, e o observei por uma fração de segundo antes de deixá-lo quieto e prestar atenção na direção.

Jacob tinha escolhido um filme policial que tinha gente demais socando gente demais pro meu gosto. Eu fiquei com a pipoca no colo, comendo distraidamente enquanto Jake, ao meu lado, mantinha um braço ao meu redor e os olhos para a tela.
Eu nunca estivera em um relacionamento realmente sério como o que eu tinha com Jacob. Só uma vez, eu quase namorara um garoto, mas as coisas não deram certo. Então eu não tinha noção de quantas coisas você descobria depois de quase quatro meses de namoro. Observando Jake completamente concentrado no filme, que estava em alguma espécie de clímax, eu comecei a pensar nessas coisas: Jake era ciumento, e na maioria das vezes tentava não demonstrar isso - eu sabia disso por todas as vezes que sentia ele me abraçar mais forte ou erguer a cabeça um pouco mais alto todas as vezes que algum garoto vinha falar comigo, mas ele nunca falava algo; ele também tinha manias machistas que me irritavam, como de sempre pagar o jantar ou o lanche quando saíamos e de sempre ser ele a dirigir - eu sabia que isso normalmente gerava pequenas discussões entre a gente, mas talvez fosse pelo fato de eu brigar tanto com ele para que ele me deixasse fazer as coisas de vez em quando que acabávamos rindo tanto um da cara do outro; Jake também gostava de, todas as vezes que estávamos em forma de lobos, de andar na minha frente ou, de alguma forma, estar sempre tomando conta para que eu não me machucasse - de vez em quando, eu queria poder não ter ninguém me observando como se eu fosse quebrar no segundo seguinte, mas era confortável saber o quanto ele se importava comigo.
Eu ainda não tivera a coragem que queria ter para contar a ele sobre o imprinting. Ele fazia tanto por mim, e eu ainda nem havia contado sobre isso. Eu também estava com medo. Quanto mais eu adiava isso, com mais medo eu ficava de que ele ia me odiar ou algo do tipo. Era uma enrascada e das grandes, e só eu podia resolver aquilo.
- Cara, que filme! - a voz animada de Jacob me acordou para a sala de cinema. As pessoas já estavam indo embora, e a tela exibia os créditos finais do filme. Eu abri um meio sorriso para Jake e amassei o saco de pipocas vazio nas mãos, passando a bolsa pelo ombro e pegando o copo meio vazio de refrigerante. Ele estendeu as mãos e pegou o lixo para mim, mas parou para me olhar.
- O que foi? - perguntei, franzindo a testa. Ele pareceu decepcionado.
- Você não gostou do filme, não é? - soltei uma risada abafada.
- Achei péssimo, desculpe. - disse, parecendo culpada. Jacob riu, segurou o lixo numa mão só e me abraçou de lado. Depositou um beijo na minha bochecha e então começamos a descer as escadas.
Do lado de fora, Jacob disse que queria comer e eu estava sem fome. Então acabamos numa lanchonete, com ele comendo hambúrguer e fritas e eu bebendo chocolate-quente.
- Ei! - ele reclamou quando eu me estiquei e roubei uma batata dele. Sorri, fingindo que não era comigo, e ele pegou meu copo com chocolate-quente e tomou um gole enquanto eu reclamava.
- Isso não é justo! - reclamei. - Você acabou com metade do chocolate-quente. Eu só peguei uma minúscula batatinha. - ele me olhou e murmurou "Oh, coitada de você!" no tom mais irônico que ele podia fazer, antes de se inclinar e me roubar um beijo. Eu o afastei, rindo, e o empurrei para o lado.
Minha mãe dizia que só não brigávamos e sempre parecíamos felizes demais porque estávamos no início do namoro. Apesar disso, ela sempre ficava feliz quando eu dizia que Jacob ia jantar lá em casa ou quando eu avisava que ia sair com ele. Meu pai tinha achado ruim no início, olhando atravessado para Jacob na primeira vez que ele fora lá em casa como meu namorado, mas foi só Billy, o pai de Jacob chegar, que os três começaram alguma conversa que pouco me interessou e tudo ficou bem.
Quem reagiu de forma mais engraçada ao início do nosso namoro foram os meninos. Lembro de Sam ter ficado feliz por um instante, e depois ter ficado irritado quando percebeu que eu não contara nada a Jacob; Embry e Paul falaram "Alex vai ficar tão triste"; Jared e Quil disseram "Por favor, não façam nada na nossa frente" e Seth, Brady e Collin soltaram sonoros "Ah, tá brincando!" enquanto reclamam de que Jake tinha ficado com a única garota do bando.
Foram reações engraçadas, mas nenhum de nós falava muito sobre esse assunto. Acho que já éramos suficientemente ligados para ainda ter que discutir alguma coisa. E, além do mais, Jake e eu guardávamos nossos momentos para quando estávamos sozinhos. Talvez fosse o motivo principal pelo qual andávamos tão próximos um do outro.
- Acho que temos que voltar. - eu disse, distraída, quando notei que já passava das dez da noite no meu relógio de pulso. Jake rolou os olhos. - Ou podemos só jogar esse relógio fora e esquecer que... - eu ri, assistindo Jacob colocar a mão sobre o relógio, tampando o horário e me fazendo olhar para ele. Eu levei minha mão livre até seu rosto, acariciando sua bochecha e depois passando a mão em seus cabelos. Deixei-a apoiada em seu ombro e então disse:
- Se fizermos isso, aí vamos mesmo ter horário para voltar para casa. - ele concordou, relutante, e então consegui um acordo, dizendo que se ele me deixasse pagar a conta, ele poderia voltar dirigindo.
Voltamos conversando sobre os cds que eu mantinha no carro, tirando todos do porta-luvas e deixando-os no meu colo, enquanto eu lia o nome de quem cantava e Jacob dizia se era bom ou ruim. Chegamos até os Backstreet Boys quando ele estacionou em frente a minha casa e desligou o carro. Eu saí rindo da cara que ele fez quando eu ameacei cantar "I Want It That Way" e então saí do carro também. Jacob entrelaçou nossas mãos e me levou até a porta de casa. Ele me segurou pela cintura e me beijou. Foi exatamente quando eu intensificava o beijo e o apertava contra mim que ouvimos um uívo muito alto de uns três ou quatro lobos.
Jacob tentou fazer com que eu ficasse em casa, mas ao me ver jogando meu cachecol e meu casaco dentro do carro, ele desistiu. Corremos em direção ao som dos uívos, e eu parei bruscamente quando me vi em frente a casa de Jacob, que era para onde os uivos levavam. Arregalei os olhos e procurei por ele, que estava ao meu lado. Imediatamente, pensei em Billy. Jacob parecia tão aterrorizado quanto, mas ainda assim segurou minha mão e começamos a andar lentamente, até a porta de sua casa. Os uivos cessaram e, segundos depois, assisti Sam, Jared, Paul e Quil saírem por entre as árvores. Eles vestiam apenas bermudas e tênis. Eu senti Jake ficar tenso, apertar mais sua mão na minha, e eu o guiei até a porta de casa. Olhei para Sam, esperando uma explicação, ele parecia nervoso e preocupado demais.
- É melhor vocês entrarem... - ele se limitou a dizer, embora parece ter muito mais entalado em sua garganta. Jacob pareceu acordar e girou a maçaneta da porta, empurrando-a. Eu lancei um olhar confuso aos outros, atrás de mim, e tentei entender porque o olhar deles eram... De pena? Ao mesmo tempo, eu senti algo ruim se acomodar na boca do meu estômago, uma sensação que não estava lá alguns minutos atrás.
Com toda a coragem que eu poderia tentar reunir, eu segui Jacob para dentro, mas no exato momento em que ouvi uma voz feminina de choro e senti Jacob soltar minha mão, eu soube que a sensação na boca do meu estômago não ia embora tão cedo.

Eu demorei segundos, talvez minutos, para compreender o que se passava na sala de estar de Jacob: sentados no sofá, estavam uma garota pálida, com cabelos longos, magra e parecendo ser um tanto quanto frágil, ao seu lado estava um garoto alto, tão pálido quanto ela, com cabelos cor de bronze e com um cheiro que não exatamente me agradava; acompanhando o cheiro dele, havia mais uma garota de cabelos repicados e curtos e um rosto angelical, e um homem de cabelos loiros e aparência séria. Eu não precisei de apresentações para saber que ali estavam Bella, Edward, Alice e Carlisle.
Sam havia me obrigado a reconhecer e aprender o nome de cada um deles, e também as habilidades especiais que Edward e Alice tinham, ele dizia que fazia parte do treinamento conhecer seus "inimigos". Na verdade, o cheiros dos vampiros acabara não sendo tão insuportável assim, o motivo qualquer que fosse por eles estarem lá, não me pareceu tão importante, os rostos deles fixos em mim por alguns instantes, não me fez diferença... O que doeu mais foi ver Jacob se inclinando em direção a Bella, seus olhos preocupados e a voz tão preocupada perguntando se estava tudo bem com ela. A ferocidade com que ele me deixara e fora até ela... Foi tão rápido que eu ainda meio que sentia ele ali perto de mim.
Eu estava pronta para girar nos calcanhares e sair dali, não achava que podia ficar para vê-lo me ignorar. Mas então Embry apareceu, respirando pesado por ter corrido, e compreendeu a situação muito mais rápido do que eu, depois de ter lançado olhares rápidos a Sam e Jared. Ele se postou a minha frente, não me deixando passar e me envolvendo num abraço.
- Você só precisa ficar um pouco e então eu te levo pra casa se você quiser. - ele disse, baixo, e eu assenti. Embry fez com que eu voltasse para a sala. Sam, Paul, Jared e Quil me lançaram olhares preocupados e eu apenas acenei com a mão, tentando dizer que estava tudo bem, embora eu soubesse que não estava, e eles também.
De alguma forma esquisita, coubemos todos na sala pequena de Jacob. Eu fiquei mais próxima da porta, com Embry ao meu lado. Paul, Jared e Quil ao lado dele. Sam estava no meio da sala, ao lado de Carlisle, Edward, Alice e Bella, que estavam sentados nos sofás, e Jacob estava em pé ao lado de Bella.
- Certo, podem explicar agora o que aconteceu? - Sam perguntou, cruzando os braços. seu tom de voz era tão sério que me assustei por um instante. Edward suspirou.
- Victoria conseguiu atravessar Forks. Ela quase chegou à casa de Bella, não fosse por Emmett...
- ...Ele sentiu o cheiro, e foi atrás dela. Acabou na fronteira e...
- ...Nós fomos atrás dela e ela entrou na água. - Edward, Alice e Paul completaram a história, e eu não fiz nada além de ouvir.
- Acha que ela vai voltar ainda hoje? - perguntou Sam, Carlisle negou com a cabeça.
- Ela sabe que nós estamos alertas, não vai tentar mais nada hoje.
- Mesmo assim, devemos manter vigia, talvez mais alguns... - Jacob havia finalmente pronunciado, e deixara a frase no ar, como que pensando em como completá-la de modo razoável. Eu o olhei desacreditada. Até o ponto em que ele se preocupava com Bella, como qualquer pessoa se preocupa com outra, eu estava ok. Mas eu estava ali encarando Jacob, fisicamente, mas não parecia meu namorado em qualquer outra maneira. Jake nunca agia assim, tão... Não era como se eu estivesse ali, ele nem mesmo lançava um olhar em minha direção. Eu suspirei, e então perguntei:
- Sam, vocês ainda vão precisar de mim? - ele me olhou significativamente, e balançou a cabeça.
- Não, . Pode ir pra casa. Nos vemos amanhã. - eu assenti, e senti Embry afrouxar o abraço, me deixando ir. Talvez ele tivesse percebido que eu queria ficar sozinha. Ouvi um coro de "Tchau, " vindo dos meninos e então deixei a casa de Jacob, enfiando minhas mãos nos bolsos traseiros da minha jeans, com frio e mais sozinha do que nunca.
As poucas imagens de Jacob e Bella que eu tivera coragem de olhar passeavam na minha cabeça. Não era o tipo de coisa que eu queria gravado em minhas lembranças, mas elas não pareciam sair de lá. Eu pisei na neve com minhas botas e senti o choro começar a bloquear minha respiração e fazer minha cabeça doer. Eu não queria chorar, eu não queria derramar uma lágrima por algo que era tão... Previsível. Como eu podia ter confiado tanto? Jacob gostava dela, e só parecia não gostar mais porque nunca mais tinha visto-a. Bastou que ela aparecesse para ele esquecer de qualquer coisa que podia ter me dito nos últimos quatro meses.
Eu já devia estar andando há uns cinco minutos quando ouvi os passos de mais alguém, atrás de mim. Me virei devagar, e me deparei com Jacob. Ele estava distante, mas perto o suficiente para poder notar meu rosto, porque sua expressão rapidamente assumiu culpa. Eu cruzei os braços, tentando bloquear o frio, e observei seus olhos.
- ... - ele disse, dando alguns passos em minha direção. Eu senti o choro voltar uma segunda vez, e tudo que pude fazer foi murmurar "Não" ao mesmo tempo em que balançava a cabeça.
- Não. - consegui dizer mais alto, dando passos para trás. - Agora não, Jacob. - e, ignorando o imprinting que me mandava perdoá-lo e correr em sua direção, eu girei para meu caminho outra vez, e o deixei lá, parado, enquanto o som dos meus soluços acompanhado do som do vento preenchiam o silêncio da noite.


Capítulo 10 -
VAMPIROS E LOBOS.

(Capa.)

A idéia de perdoar Jacob me parecia distante demais. Eu também não sabia exatamente pelo quê eu o perdoaria. Sua ação, em si, não tinha sido assim tão terrível. Fora toda a história por trás daquela ação que literalmente partiu meu coração no meio. Todo o passado que ele tinha com Bella me deixava insegura demais, e eu não queria que ele escolhesse a mim ao invés dela por causa do imprinting, então eu excluíra a possibilidade de contar isso a ele.
Na verdade, em se tratando de Jacob, eu tinha me esforçado muito nas últimas duas semanas para não pensar nele. Eu me concentrava na escola, nos deveres, em controlar minhas habilidades mentais, em ensinar matérias complicadas para Seth, Brady e Collin, em ajudar minha mãe na cozinha... Qualquer coisa que me distraísse de ficar sozinha e que acabasse me levando a Jacob. Eu ainda o via, é claro, porque tínhamos algumas aulas juntos e estávamos no mesmo círculo de amigos, mas eu tinha passado a escolher lugares longe dele, e podia perceber que os meninos estavam se desdobrando para conseguir dividir o tempo dele entre eu e Jacob, de modo que a gente não ficasse no mesmo lugar com muita frequência. Em resumo, tudo tinha perdido a graça.
- Hey, ! - eu estava saindo da escola, distraída porque minha bolsa estava em um ombro só e eu andava, tentava olhar para frente e ao mesmo tempo procurava as chaves do carro porque tinha decidido passear em Port Angeles, ao invés de ir para casa e fazer faxina ou qualquer coisa do tipo. Me virei para dar de cara com Sam. Franzi a testa.
- Hey, Sam! O que você está fazendo aqui? - ele deu de ombros, acenando para trás.
- Tive que vir falar com alguns professores, pedir para alertar os alunos sobre ataques de animais. - eu murmurei "Oh, certo", sabendo exatamente ao que se referiam os ataques. Ele cruzou os braços e mudou o peso do corpo para a outra perna, enquanto seu olhar era de preocupação. Eu sabia o que ele ia perguntar. - Você está bem? - eu suspirei.
- Não. - admiti, enfim achando as chaves do carro e tirando-as da mochila. - Eu não estou bem, e nem vou ficar num futuro próximo, então...
- Você sabe que pode solucionar isso mais rápido. - eu quis responder a ele o mais claramente que podia, mas não tinha como fazer isso quando pessoas e mais pessoas estavam passando a nosso redor, algumas até parando para nos observar, já que Sam era um cara alto, sério e com presença forte demais para não ser notado.
- E você sabe que eu não quero precisar fazer isso. - respondi, cansada. Eu estava mesmo cansada de todo aquele problema que só parecia aumentar. Sam suspirou, e assentiu.
- Certo, é você quem sabe.
- Ótimo. - eu resmunguei, tentando parecer irritada. Eu nunca conseguia ficar realmente irritada com Sam. Ele soltou uma risada abafada.
- Só tente lembrar que você é mais madura que ele, e você é a única pessoa que ele vai escutar de verdade. - eu estava começando a odiar essas frases cheias de mistérios que Sam deixava no ar. Ele sempre me expulsava ou ia embora depois dela, deixando-a passeando irritantemente pela minha cabeça. Desta vez, ele abrira um sorriso de lado e fora embora, andando calmamente e, antes de deixar a escola, avisando a um garoto do primeiro ano que jogasse o lixo no lixo e não no chão. Eu teria rido da cara de apavorado do garoto, não fosse o fato de que eu não achava graça nas coisas há um tempo.

Port Angeles estava frio, mas não tão frio quanto La Push. Eu consegui tirar o casaco quando estacionei na rua, e o amarrei na cintura, depois de colocar celular, carteira e chaves nos bolsos da calça jeans. Comecei a caminhar sem exatamente ter um lugar para onde ir, afinal eu mal conhecia Port Angeles. Evitei passar pelo cinema, pela lanchonete e pelo McDonald's. As últimas duas vezes que eu estivera em Port Angeles não eram lembranças que eu queria reviver agora, uma por ser desagradável, e a outra por doer demais.
O imprinting podia ser ótimo quando tudo estava bem com Jacob, mas também era horrível quando tudo estava péssimo com Jacob. O imprinting parecia fixar em minha mente que eu devia falar com Jacob, que eu devia fazer o possível para que tudo ficasse bem de novo, mas isso batia diretamente com meu orgulho e como eu compreendera a situação. Na minha cabeça, era Jacob quem precisava se desculpar. Então minha cabeça estava uma bagunça completa, como duas crianças teimosas brigando para defender sua idéia. E agora vinha Sam dizer que Jacob só escutaria a mim. Eu ia bater em Sam na primeira oportunidade que eu tivesse, mesmo que não fosse fazer diferença.
Eu tinha entrado em uma loja de roupas, experimentado algumas, comprado duas blusas, e ainda assim não tinha me animado. Nem a vendedora da loja dizendo que queria ter cabelos como os meus me fizera mais animada, muito menos a outra vendedora concordando com ela. E nem mesmo o bonitinho que entrara sorrindo para mim, então eu estava num péssimo humor. Numa última tentativa, entrei numa livraria e comecei a folhear alguns livros. Foi quando aquele péssimo cheiro que eu conhecia atingiu meu nariz. Eu girei o corpo todo na direção do cheiro no mesmo instante, alerta, e precisei olhar duas vezes ao redor para perceber de onde vinha o cheiro. Respirei parcialmente aliviada.
- Oh, olá! - Edward Cullen ergueu os olhos de um livro que folheava, e sorriu para mim. Eu ergui a cabeça, para conseguir olhá-lo, e tentei sorrir de volta.
- Ah, oi. Edward, certo? - ele assentiu, estendendo a mão para me cumprimentar. Eu aceitei e achei estranho demais quão fria sua pele era, e quão pouco contrastava com minha pele, ou ele não era tão pálido assim, ou eu era branca demais mesmo. - Port Angeles é um ponto neutro, não é? - perguntei, confusa por um instante. Edward soltou uma risada abafada. Ele fechou o livro em sua mão e assentiu.
- É, totalmente neutro. - disse, mas então franziu a testa. Seus olhos dourados fixaram nos meus, e ele pareceu tentar descobrir algo. Eu lembrei do que Sam me contara, Edward lia mentes. Como eu passava a maior parte do tempo - por precaução - com meus pensamentos trancados, ele não devia estar conseguindo ler nada. Dessa vez, eu sorri, satisfeita comigo mesma.
- Não te contaram que eu também faço isso? Quer dizer, mais ou menos isso que você faz. - gesticulei, indicando sua cabeça. Ele ficou surpreso.
- Você? Você tem algum... - ele olhou para os lados, certificando-se que ninguém mais estava nos ouvindo. - Poder? - eu assenti, fechando o livro que estava em minhas mãos. Edward puxou seu braço e verificou o horário em seu relógio, cruzou então os braços e me encarou, curioso. - Olha, você está ocupada? - ele perguntou, e dessa vez eu fiquei confusa. Balancei a cabeça.
- Não, não estou. Na verdade, só estou aqui porque eu não quero ir para casa. - admiti, dando de ombros. Edward não entendeu porque eu não queria ir para casa, mas logo em seguida perguntou "Tem algum tempo para conversar?", e eu acabei aceitando ir para a lanchonete da livraria, com um vampiro, que por um acaso era tipo o Lex Luthor na vida do meu até então namorado, que devia pensar que era o Superman.
A lanchonete da livraria era quase deserta. A livraria em si era praticamente deserta. Edward escolheu uma mesa mais afastada, e quando a garçonete chegou, eu pedi um cappuccino e ele disse que não queria nada. Só então eu lembrei que vampiros não se alimentam de nada a não ser sangue. Ele se ajeitou na cadeira, colocando os braços sobre a mesa de madeira. Eu encostei na cadeira, observando como os movimentos dele era tão elegantes e parecendo bem-calculados. Era engraçado como Jacob também tinha movimentos tão elegantes quanto, mas tão diferentes.
- Por que você não está tampando o nariz ou qualquer coisa assim? - foi a primeira pergunta dele, e eu ergui uma sobrancelha. Não tinha percebido que esquecera totalmente do cheiro dele. Na verdade, ele já não cheirava tão mal assim. Levei algum tempo pensando.
- Hã... Não faço idéia. Talvez tenha qualquer coisa a ver com meu passado. - dei de ombros, e ele gesticulou, me incentivando a continuar. Eu rolei os olhos. - Olha, Sam pode me matar por isso. - avisei, mas ele continuou esperando que eu continuasse, imóvel. - Mas que se dane. - e então contei a ele sobre a lenda dos meus parentes distantes, sobre o vampiro, o lobo... Quando eu terminei, Edward parecia impressionado.
- E o vampiro lia mentes? - eu assenti.
- É, ou tinha qualquer outra habilidade com pensamentos. E isso ficou passando até que minha mãe casou com meu pai... E deu no que deu.
- Deve ser complicado ser a única garota entre eles. - eu balancei a cabeça. - E ainda ter esses poderes.
- Até que não é, eles são tão fáceis de lidar. - a garçonete voltou e me entregou meu cappuccino. Eu tomei um gole e Edward esperou que eu pousasse o copo sobre a mesa antes de falar:
- Você parece ter problemas com Jacob. - eu senti meu estômago revirar, e suspirei.
- Não vamos discutir Jacob, por favor.
- Ele gosta de você, ele...
- Não vamos discutir Jacob! - eu disse, pela segunda vez, o tom levemente mais alto. Edward ergueu uma sobrancelha. - Afinal de contas, porque você está aqui e não em qualquer outro lugar com Bella? - cruzei meus braços e tentei não ficar tão irritada. Edward juntou as mãos sobre a mesa.
- Bom, ela está com Jacob. - eu achava que meu estômago estivesse revirado o suficiente, mas ele conseguiu afundar e eu me senti muito mal. - Eles são amigos, de qualquer forma... Eu não posso...
- Sabe o que incomoda? - eu cortei o que ele dizia, minha voz talvez tão irritada quanto eu estava ficando. Ele me olhou, esperando que eu continuasse a falar. - Eu não ter a merda da coragem e falar para ele sobre o imprinting. Sabe, eu tive um imprinting com ele, e nem tenho coragem de falar isso pra ele. - assisti Edward pronto para fazer uma pergunta, como eu já imaginava qual era, disse de uma vez: - Eu consegui bloquear o imprinting, do mesmo jeito que bloqueio pensamentos.
- Você conseguiu bloquear um imprinting?! Pelo pouco que eu conheço esse é o sentimento mais forte de vocês. - eu dei de ombros.
- Que diferença faz agora? Eu não vou fazer isso só para Jacob voltar... Ele tem direito de escolher o que quer da vida. Mesmo que isso seja ficar correndo atrás de uma garota que ama um vampiro.
- Obrigado pela delicadeza. - ele disse, mas num tom divertido. Eu me vi rindo também.
- Certo, desculpe. Eu não sou a pessoa certa pra te criticar por ser um vampiro. - ele concordou com um aceno da cabeça.
- Sabe, eu vou pedir Bella em casamento. - eu arregalei os olhos quando ele disse. Eu me perguntei porque ele estava contando isso a mim, mas não demorei muito tempo pra perceber que, já que eu tinha contado enfim um grande segredo meu para alguém além de Sam, esse alguém também podia contar alguma coisa para mim.
- Vai mesmo? Uau. - tomei outro gole do meu cappuccino. - Vocês não são muito jovens? Quero dizer, teoricamente. Sei que você é bem mais velho, mas acho que você me entendeu. - ele assentiu, e abriu um meio sorriso. Um sorriso irônico.
- Esse é exatamente o problema. Eu não entendo porque não casar, eu não me acostumei com esses costumes muito... Modernos, eu diria. Na minha época...
- ...Casar aos dezoito anos não era nada para se espantar. - completei, e ele concordou. - Bella parece gostar o bastante de você, de qualquer forma. - ele franziu a testa, e eu rolei os olhos. - Eu sei o que aconteceu antes de eu chegar, ok? Sou bem informada. - ele riu. - Ou Sam só faz questão de que pareça que eu estou aqui há alguns anos. - dei de ombros.
Edward colocou o braço em seu campo de visão para verificar a hora em seu relógio, e então empurrou a cadeira, para ficar de pé.
- Preciso ir para buscar Bella. - eu assenti, terminei de beber meu cappuccino e fui até o balcão para pagá-lo. Edward estava me esperando do lado de fora da livraria, e eu fechei meu casaco quando o vento frio passou por nós. Já eram cinco horas da tarde.
- Valeu pela conversa, Edward. A gente se vê. - ele me observou durante alguns instantes, antes de dizer, com a voz baixa:
- Quando precisar, pode passar em Forks. Você é uma loba agradável, . - eu rolei os olhos, impressionada com como Edward não era uma pessoa horrível como eu imaginara.
- Devem ser meu sangue cinco por cento vampiro. - respondi, baixo também, e o assisti rir, antes de acenar e seguir o caminho para a esquerda. Eu virei para a direita, e comecei minha caminhada lenta até meu carro.

Eu voltei para casa para encontrar sete caras jogados no meu sofá, nas minhas poltronas e usando meu notebook e vendo minha tv. Sorri quando abri a porta de casa e encontrei Jared e Embry expulsando Seth da frente do videogame que eles tentava instalar, enquanto Collin parecia ocupado demais servindo refrigerante em oito copos sem deixar o líquido derramar; Brady brigava com Paul para pegar o notebook e Quil veio logo me abraçar assim que eu fechei a porta atrás de mim.
- ! - eles gritaram, em coro, e eu comecei a rir. Não perguntei o que eles estavam fazendo ali, nem nada. Eu nem me importava. Andei até o sofá e me joguei ao lado de Quil. Embry me entregou um controle do videogame.
- Quando eles terminarem de instalar, - ele fez um gesto exagerado para Jared e Seth. - eu vou jogar uma partida contigo.
- E eu vou perder. - comentei, rindo. Ele concordou, e depois disse "Mas quem se importa?" e sentou do meu outro lado. Seth conseguiu expulsar Jared da frente do computador e instalou o videogame.
- É nisso que dá achar que eu sou burro! - ele resmungou, acertando um tapa na cabeça de Jared. Paul começou a rir descontroladamente e Jared tentou bater nele, mas acabou caindo no chão porque Brady tinha aparecido por trás dele e o empurrou. Eu só gritei "Não quebrem nada!" e me concentrei nas explicações de Quil e Embry sobre o jogo que estava na tela. Era uma coisa qualquer de luta, e Collin interrompeu os dois e resmungou:
- Ignore o que eles estão dizendo, é melhor você só sair apertando todos os botões do controle. - eu abri um sorriso.
- Uau, Collin! Era exatamente essa minha idéia! - e ri de verdade quando Seth arregalou os olhos, e encarou o controle na minha mão, aterrorizado. - Calma, eu fui irônica!
- Depois diz que não é burro... - Jared resmungou, convencido, mas abaixando e cobrindo o rosto com a mãos no momento em que Seth fingiu avançar. Todos nós rimos, e Embry chamou minha atenção de volta para o jogo com um "Hey, anda logo!". Eu inclinei meu corpo para frente, apoiando meus braços nas pernas, e segurei o controle com firmeza.
Claro que eu perdi. Perdi feio. Só tive tempo de ver minha bonequinha lá estirada no chão com os cabelos negros que usava amarrados todos espalhados no chão. Eu olhava desacreditada para ela.
- Cara, que sanguinário você é! Olha o estado dela! - Embry rolou os olhos.
- Fresca!
- Minha vez! - Seth roubou o controle da minha mão e começou a fazer gestos apressados para que eu levantasse. Eu o fiz e ele se sentou no meu lugar, logo começando o novo jogo com Quil. Eu andei até Brady e Collin, que estavam vendo alguma coisa no meu notebook, mas eu dei meia volta e fui para a cozinha quando percebi que estavam em algum tipo de programa de mensagens instantâneas. Com as risadinhas que eles soltavam, só podiam estar falando com alguma garota, então eu acabei sentada no balcão da cozinha com uma latinha de Coca-Cola aberta e Embry me oferecendo sanduíches de pasta de amendoim que Paul e Jared já comiam. Eu aceitei um e dei uma mordida, tomando cuidado para não me sujar. Paul soltou uma risada.
- Você não sabe comer sanduíche de pasta de amendoim. - ele disse, e eu rolei os olhos.
- Os que vocês fazem, com mais pasta do que pão, realmente não sei. - Jared abriu a boca, colocou a língua para fora e me mostrou o sanduíche disforme que mastigava. Eu gritei "Eeeeca!" e fechei os olhos, fazendo os três começarem a rir da minha cara. Quando abri os olhos de novo, Embry e Jared estavam conversando, e Paul olhou para o relógio na parede. Ele parou de rir e disse:
- Caras, precisamos sair em meia hora. - eu franzi a testa, descansando o sanduíche na bancada, ao meu lado.
- Todos vocês vão vigiar os nossos limites? - perguntei, e Paul negou com a cabeça, mas também não me respondeu. Embry e Jared voltaram a me olhar, e todos os três pareciam não querer dizer nada. Eu continuei encarando-os.
- Ah, vamos na casa de Jacob. - Seth gritou do sofá, pausando o jogo. - Ah, o quê? Não adianta ficar mentindo pra ela. - ele completou, depois de receber olhares de reprovação dos outros. Eu balancei a cabeça.
- É verdade, vocês têm todo o direito, ele também é amigo de vocês.
- ... - Quil suspirou. - ...Você não vai falar mais com ele?
- Não tenho nada para falar com ele. - mentira, eu tinha muita coisa para falar com ele.
- Ok, a gente acredita nisso. - Collin se pronunciou, irônico.
- É, com vocês dois no estado em que estão, e não têm nada pra conversar. Francamente, vocês crescem e parecem que vão ficando mais burros. - eu olhei espantada para Brady, que conseguiu arrancar risadas de Paul e Embry, pela seriedade com que falara.
- Nunca achei que eu fosse dizer que Brady tem razão. Isso só prova que você devia ir falar com Jacob.
- Não, ele que venha falar comigo. Afinal de contas, ele quem foi correndo atrás de Bella, não eu. - quase todo mundo rolou os olhos quando eu terminei de falar.
- Se ele vier falar com você, você vai conversar com ele? - Jared quis saber. Eu deixei meus ombros caírem.
- Vocês não vão falar nada disso para ele. - apontei meu dedo indicador para os três à minha frente. Embry deu de ombros.
- Tudo bem, não vamos. - eu não sei porque eu ainda estava tentando convencê-los de não falar. Eu sabia que eles iam, mas eu não tinha forças para reclamar.


Capítulo 11 -
LUGAR CERTO.

(Capa.)

(Esse capítulo tem uma parte acompanhada de música! Caso você queira ouvir, tem duas opções de música: "Warning Sign" do Coldplay e "Sober" da Kelly Clarkson. Se quiser Coldplay, clique aqui. Se quiser Kelly Clarkson, clique aqui. Deixe o vídeo carregando!)

Eu estava no segundo tempo de História. Não sabia qual era a matéria que o professor, talvez tão entediado quanto a turma, falava sobre, e também não queria saber. Isso talvez fosse o primeiro sinal evidente de que eu estava péssima, porque eu costumava gostar de aulas de História.
Eu tinha a cabeça apoiada numa das mãos, e com a outra fazia rabiscos sem sentido numa folha solta do meu fichário, onde eu começara a fazer anotações mas desistira nos cinco minutos seguintes. Eu estava com sono, porque tinha passado a noite acordada pensando no que Sam, Edward e todos os meninos tinham me dito sobre Jacob. No fim das contas, eu tinha ficado frustrada porque ninguém ia reclamar com ele, só comigo. Todo aquele papo de Sam de "você é mais madura" parecia ter pegado.
O mais engraçado (ou deprimente), era que eu tivera que ouvir até de um vampiro que eu devia falar com Jacob. Tudo bem, Edward não era assim tão ruim quanto eu imaginava, mas mesmo assim...
Lancei um olhar rápido a Jacob, do outro lado da sala, e me peguei totalmente distraída pelos seus traços, e por como ele parecia a pessoa incrível que eu sabia que era mesmo por só ficando lá, seus pés inquietos, batendo no chão, e seus dedos batendo na mesa. A verdade era que eu sentia muita falta dele. Muita mesmo.
Era ruim acordar e saber que eu não podia esperar por ele aparecendo na minha casa de surpresa, nem podia contar com seu sorriso que eu gostava tanto. Não iria ganhar nenhum de seus abraços e nenhum de seus beijos, e também não veria a careta de nenhum dos garotos quando ele viesse me beijar, porque ele simplesmente não ia. Eu tinha me acostumado rápido demais com sua presença constante pra aprender a não tê-la mais. E doía bastante.
Ele passou uma das mãos pela parte de trás da cabeça, bagunça os fios de cabelo ali, e então girou o pescoço e cruzou seu olhar com o meu. Ele não desviou o olhar nem pareceu surpreso. Parecia cansado. Imediatamente, senti meu rosto esquentar e virei para frente. Oh, merda.
Duas batidas na porta me distraíram por instantes de quão envergonhada eu estava, mas foi só para me deixar envergonhada por outra coisa: - Hã... Licença, professor. Posso falar com a por um minuto? - Alex apontou para mim, sorridente, e eu ergui minhas sobrancelhas, surpresa. O professor parou seu monólogo e pareceu assustado com alguma outra voz além da sua. Ele disse:
- Ah, sim, claro. - fez um gesto distraído e voltou a falar assim que eu fiquei de pé. Um tanto quanto irritada pelo professor não ter dito "Não", eu me vi sem opções e confusa. Juntei meu material e saí da sala sob os olhares curiosos do resto da turma. Eu não arrisquei lançar um olhar a Jacob.
Alex abriu um sorriso grande demais quando ficamos à sós no corredor, completamente vazio. Eu apoiei meus livros e meu fichário nos braços, levando-os a frente do meu corpo e olhando para os lados e esperando que alguém aparecesse e nos mandasse de volta para a sala.
Definitivamente, Alex era a última coisa que precisava me aparecer, eu tinha o suficiente para lidar. Movi a cabeça.
- O que foi, Alex? - perguntei, tentando não ser rude. Eu não estava lá com muita paciência hoje. Alex pareceu não notar que eu não estava sorrindo para ele.
- Então, está tudo bem com você? - ele perguntou, e eu uni minhas sobrancelhas, desacreditada.
Ele cruzou os braços e estufou o peito, erguendo a cabeça levemente. Parecia tentar exibir seus músculos, mas ele nem tinha músculos direito. Eu dei um passo para trás quando ele deu um passo em minha direção, e me apoiei nos armários trancados atrás de mim.
- Você me tirou da aula pra isso? - questionei, e ele ficou sem jeito por um instante, antes de movimentar a cabeça jogando os cabelos para trás. Incrível como eu tinha acabado de ficar encantada com Jacob mexendo em seu cabelo, e Alex só estava me irritando.
- Não, na verdade... - ele respirou fundo. - Bom, eu percebi que você e Jacob não estão mais juntos há algum tempo... - balancei a cabeça, confusa.
- Você não está saindo com aquela Hilary? - ele pareceu lembrar-se dela somente quando eu disse seu nome. Ele fez um gesto de descaso.
- As coisas não deram certo com ela. - ele respondeu, e eu assenti, devagar.
- Oh, que pena. Olha... - ele me cortou, a voz mais alta e menos confiante do que há um minuto:
- Então eu queria saber se você não quer... Assim... Quem sabe... - Moveu o peso do corpo para uma perna, depois da para a outra, e então de novo para a uma... Eu estava prestes a suspirar, dizer a ele que eu sabia onde ele queria chegar, mas que não dava, e entrar na sala de novo, mesmo que só faltassem uns dez minutos, e foi quando a porta atrás de mim foi aberta de novo, e de lá saiu Jacob. Ele tinha a mochila nas costas, em um ombro só, e parou ao meu lado, encarando Alex.
Fiquei sem reação, já que era a primeira vez que Jacob estava tão perto de mim desde o dia em que havíamos terminado silenciosamente. Ele também não estava nada bem, com olheiras profundas, o rosto cansado e fechado.
- Cara, você realmente tem alguma coisa pra falar com ela? - ele perguntou, impaciente. Assisti Alex arregalar os olhos e tremer levemente. Jacob era realmente muito maior que Alex, e sua voz irritada não ajudava ninguém a ficar mais calmo.
- Nada importante... Eu... - ele gesticulou, fazendo movimentos sem sentido, e enfim conseguiu indicar o corredor atrás dele. - Eu já estou indo. - ele disse, e realmente foi. Eu o observei praticamente correr pelo corredor, quase achando graça no desespero dele e em como toda aquela pose tinha simplesmente ido embora quase que de modo instantâneo, e voltei a encarar Jacob.
Se fosse o Jacob de algumas semanas atrás, aquele do qual eu tanto sentia falta, eu teria visto um sorriso debochado agora e ouvido alguma frase de como ele era melhor que Alex. Mas tudo que vi foi a mesma expressão cansada. Imediatamente, eu quis conseguir consertar aquilo.
- De nada. - ele resmungou, me olhando rapidamente. - Você pode não querer namorar comigo, mas imagino que também não queira aquilo. - ele soltou essa e girou nos calcanhares, pronto para ir embora. Ele conseguiu me deixar mais irritada, e surpresa.
- Ei! - falei, um pouco mais alto, fazendo-o virar para trás para me ver. Provavelmente, minha voz tinha sido ouvida dentro de algumas salas de aula, mas eu não me importava. Andei a passos pesados até chegar nele. - É isso que você acha, então? Que eu não quero namorar com você?! - Jacob tentou parecer indiferente, embora eu tivesse visto a sombra de surpresa rápida demais que passara por seu rosto.
- Que outra conclusão você espera que eu...?
- Argh! Você é um idiota! - tentei controlar minha voz, para que eu não acabasse gritando, mas ela acabou saindo ainda mais alta e eu apressei meus passos, atravessando os portões de saída da escola alguns minutos depois. Sabia que Jacob vinha logo atrás de mim, mas tentava ignorá-lo a todo custo.
- Então eu sou o idiota? Eu? - ele berrou, quando estávamos razoavelmente longe da escola. Nós podíamos andar rápido e silenciosamente quando queríamos. Eu me virei, cruzando os braços.
- É, você! Foi você quem estragou tudo!
- Talvez, se você conseguisse não se estressar tanto e me escutar... - soltei uma risada sarcástica, enquanto ele dava passos em minha direção. - Te escutar? Pra quê? Pra você me largar na primeira oportunidade? - Jacob teve tremores nos ombros, e eu senti os meus ondularem. Eu respirei fundo, tentando manter a calma e não acabar me transformando ali, de dia e num lugar tão público. Às vezes eu simplesmente esquecia que, caso ficássemos irritados demais, não demoraria muito para que explodíssemos no ar e nos transformássemos em lobos.
- Eu não te larguei! Mas que... - Jacob suspirou, e passou as duas mãos sobre o rosto, parecendo frustrado. Também tentava se acalmar, e aos poucos seus tremores diminuíram. Ele parou de andar quando chegou bem perto de mim, e eu dei um passo para trás antes que a proximidade ficasse perigosa.
Passamos alguns longos minutos em silêncio, mas eu não notei isso tão de repente. Eu estava concentrada demais no cheiro dele, em quão próximo ele estava de mim... Foi ele quem quebrou o silêncio.
- Depois de tudo que eu te falei, você ainda consegue achar que eu te larguei ou qualquer coisa do tipo? , eu não fiz isso.
- Então existe outro nome pro que você fez, é isso? - eu senti minha voz ficar embargada, a pergunta pulando fora da minha boca antes que eu pudesse pensar. Apertei meus braços contra minha barriga, na tentativa de controlar meu choro, de alguma forma. Jacob se aproximou de mim de novo. Quando voltou a falar, sua voz era baixa, e não mais irritada.
- Bella é minha amiga. - eu bufei. Eu não queria nem saber do nome dela. Mesmo que provavelmente não tivesse muita culpa, ouvi-lo falando dela só complicava.
- Jacob, eu sei do que aconteceu entre vocês antes de eu chegar aqui. - disse, me obrigando a procurar seu olhar. - E aí ela aparece e você... - suspirei, preferindo não terminar a frase. Senti uma das mãos de Jacob em minha cintura, e não me movi.
Ele parecia pensar demais a cada movimento, com medo de que eu me esquivasse. Por mais que eu quisesse demais que ele se aproximasse, por mais que o imprinting agora estivesse agindo forte demais, eu não sentia como se eu devesse perdoá-lo assim tão rápido. Ele não tinha pedido desculpas, ele não tinha dito nada.
- E eu preciso que você goste de mim de verdade. Eu não posso lidar com essa indecisão. Eu não quero lidar com isso. Honestamente? Eu preciso que eu seja a sua primeira opção. - eu podia estar começando a perder a razão, mas quem se importa? Girei nos calcanhares e comecei a andar apressadamente para qualquer lugar longe dele. Toda aquela história de "Bella é minha amiga" fazia sentido, podia ser verdade, mas ainda não excluía o fato de que ele gostava dela e não parecia ter deixado de gostar enquanto estivera namorando comigo. E, honestamente, isso não era algo que eu podia suportar.
Jacob não tentou ir atrás de mim.

Meus pais tinham deixado um bilhete quando eu cheguei em casa: "Saímos! Tem comida na geladeira. Voltamos à noite", animado demais para o meu gosto, e que eu muito dificultosamente li com meus olhos cheios d'água. Eu almocei, sem muita vontade de comer, porque tinha plena noção de que minha mãe ia notar se eu não tivesse comido e iria me encher de perguntas. Acabei me distraí vendo televisão, já sentindo meus olhos ardendo. Umas duas horas depois, me sentindo muito idiota por ainda estar chorando, senti meus olhos pesarem e acabei dormindo.
As risadas do programa de tv que eu assistia pareceram se misturar ao sonho, gradualmente se afastando... Até que eu me vi na escuridão total, mas meus pés pisavam em... Pedras? É, com certeza eram pedras. Eu girei no mesmo lugar umas cinco vezes, procurando por qualquer ponto de luz, e com medo de dar o passo seguinte, por não saber no que eu pisaria.
Foi quando ouvi um estalo e uma luz amarelada surgiu, iluminando o local. Era uma espécie de caverna, e a luz vinha de um ponto muito distante do que eu estava. Mas, eu tinha a impressão de que, se andasse até a luz, eu estaria entrando mais ainda na caverna. Então tomei o lado contrário, ainda iluminado, procurando pela saída. A caverna parecia se abrir mais e mais... Eu sentia estar perto da saída.
Comecei a ouvir vozes. Não, eram gritos. Gritos desesperados. Mas... Eu conhecia aquelas vozes. Eram... Eram Seth, Brady, Collin, Jared, Quil, Embry, Paul...
- , não se mexa! - Sam se materializou na minha frente, seu tom de voz firme demais para que eu desobedecesse.
- Não podemos deixá-la aqui também! - Jacob apareceu atrás de mim, falando com Sam. Sam assentiu.
- Eu sei, eu sei... Mas se ela for...
Eu queria gritar e dizer que eu iria atrás dos meus amigos de qualquer jeito, que eles precisavam parar de me superproteger, mas minha voz não saía, eu não conseguia mais mexer um músculo... Eu tentava gritar, mas minha boca nem sequer abria.
De repente, a iluminação amarela foi ficando mais forte e mais laranja. A claridade começava a irritar minha vista, e então...
- Por que não me deixam passar? Eu devolveria seus amigos. - era Victoria, e ela tinha um sorriso arrogante no rosto, a expressão divertida. Vi Sam e Jacob prontos para se transformarem. Ela deu uma risada maior...
Batidas umas atrás das outras começaram. Batidas como... Como alguém batendo em madeira.
A próxima coisa da qual tive consciência foram meus olhos abrindo. Percebi que as batidas vinham da minha porta.
Me sentei no sofá, respirando fundo e tentando me recuperar do sonho que tinha sido real demais. Passei as mãos sobre o rosto e me forcei a ficar de pé. Mais batidas na porta.
- Já vai! - gritei, me arrastando até lá. Girei a maçaneta e abri a porta. Ah, ótimo.

(Dê play no vídeo que você deixou carregando e leia a partir daqui com a música!)

Jacob estava parado lá, de braços cruzados, não parecendo muito feliz. Ele pareceu levemente assustado quando me viu, mas provavelmente era por causa dos meus olhos vermelhos de tanto chorar. Eu estava pronta para bater a porta na cara dele, mas apenas deixei a porta aberta e voltei para o sofá. Segundos depois, ouvi a porta batendo e Jacob se sentou do meu lado.
- A gente precisa conversar.
- Eu sei disso. Eu só não quero.
- Honestamente, eu preferia não ter que ter essa conversa também. - eu me forçei a girar o pescoço e olhar para Jacob. Ele tinha os dois braços sobre as pernas, inclinado para frente, as mãos juntas, e o olhar em mim. Eu balancei a cabeça.
- Os meninos falaram com você, não é?
- Achei que você não quisesse me ver. Se está disposta a aceitar meu pedido de desculpas...
- Você realmente vai se desculpar ou só está dizendo da boca pra fora? - resmunguei, e Jacob suspirou. Eu parecia estar abusando do pouco de paciência que ele tinha recolhido.
- Como é que você pode achar que eu estou me desculpando da boca pra fora? O quê, você vai me dizer que qualquer coisa que eu tenho dito a você também foi da boca pra fora? - eu sabia ao que ele se referia, e neguei no segundo seguinte.
- Não, Jacob! Não! Eu...
- Certo, ótimo. Vamos fazer diferente, então. - eu estava assustada com a voz irritada demais dele, que ficava cada vez mais alta, mas esperei. - Eu vou falar, você vai escutar. Tudo bem? - ele não esperou que eu respondesse:
"Sabe quando você gosta muito de alguém? Muito mesmo? Então, Bella apareceu e eu achei que tinha acabado de encontrar a uma pessoa que eu ia querer pro resto da minha vida. Claro que é ridículo imaginar isso aos quinze anos de idade, mas quem liga? Eu realmente achava. Mas aí ela se apaixonou pelo vampiro. E eu descobri que era um lobo. Você pode imaginar quão divertido deve ter sido! A garota pela qual eu me apaixonei decidiu que o vampiro era um partido melhor!
Então eu estava aos trapos. Nem os meninos me suportavam mais, e Sam não sabia mais o que fazer comigo. Nem meu pai tinha idéia do que fazer. E aí você chegou. Você, sua transformação repentina... Os garotos pareciam ter todos gostado demais de você, e eu estava achando que ia ser uma droga ter uma menina que nem era daqui no nosso bando. Mas, cara... Eu não podia estar mais errado!
Quando você chegou, quando eu te vi, foi como pegar todas as peças bagunçadas e perdidas do meu quebra-cabeça e organizá-las. Tudo fez sentido, tudo pareceu bem de novo. Eu queria te ver outra vez, eu me preocupava com você, eu queria poder te ajudar e ficar do seu lado o tempo todo. , eu não me lembro de ter me sentido assim nunca. É algo diferente do que eu sentia por Bella, porque você me faz bem, você é saudável pra mim. Eu gostei de você, eu gostei demais. E acabei me apaixonando.
É, olha o que eu estou falando! Eu te amo. Eu te amo mesmo. E eu me sinto um idiota por ter estragado tudo.
, eu não vou deixar você ir."
Eu estava chocada. Paralisada. Minha boca estava aberta, meus olhos arregalados, meus ombros caídos. Jacob parecia aliviado por ter dito tudo que queria dizer, ao mesmo tempo em que tinha medo nele. Eu hesitei várias vezes, procurando o melhor jeito de responder, as melhores palavras, os melhores gestos. Ele estava ali, falando tudo que eu queria ouvir, e parecia sincero de verdade.
- Você realmente me deixou sem palavras. - eu finalmente disse, soltando uma risada abafada. Passei uma das mãos pelos cabelos, abaixando a cabeça. Respirei fundo.
Enquanto eu estava confusa, tentando encontrar palavras que coubessem na frase, Jacob avançou em minha direção e me beijou. Como sempre, muito mais rápido do que eu podia ter noção, ele colocou uma das mãos em minha cintura, me puxando em sua direção, me prendendo contra seu corpo, e colocou a outra mão em minha nuca. Quando seus lábios tocaram os meus, eu senti meu coração bater acelerado demais, e me faltou o ar. Eu não quis lutar contra aquilo.
Levei minhas mãos até sua nuca, passando meus dedos por seus cabelos e intensificando o beijo. Ele colocou as duas mãos em minha cintura, me segurando no ar por uns instantes, e me colocando sobre ele. Eu ajeitei minhas pernas ao seu redor e me inclinei em sua direção, já que estava mais alta que ele. Ao mesmo tempo, abri mais a boca, e senti sua língua tocar a minha e espalhar um frio na minha espinha. Nossas respirações ficavam mais pesadas, e suas mãos passeavam livres por debaixo da minha blusa.
Ele abaixou a cabeça, movendo seus lábios para o meu pescoço, e eu senti todas as sensações do imprinting ficarem loucas quando senti seu toque.
Eu me arrisquei a colocar as minhas mãos debaixo da camiseta que ele usava. Senti seu abdômen definido, tocando-o aos poucos, e descolei nossos lábios. Encostei nossas testas, e meu olhar encontrou o de Jacob. Ele encostou nossos lábios uma segunda vez.
- Minhas desculpas são as mais sinceras. Mesmo. - eu soltei uma risada pequena, enquanto minhas mãos ainda estavam sobre sua barriga. Eu passeava com minhas unhas, arranhando de leve sua pele, e ele contraía as mãos em meu corpo e sorria de leve.
Eu me inclinei para beijá-lo de novo, subi minhas mãos por debaixo de sua camiseta até seus ombros e depois voltei até seu abdômen. Eu não sabia aonde estávamos indo com aquilo. Depois de quatro meses de namoro, não tínhamos ultrapassado aquela barreira e agora, depois de semanas sem nos falar, eu estava sentada em cima dele.
- Eu também devo desculpas, certo? - perguntei, baixinho, quando descolei nossos lábios. Ele assentiu, sorrindo também.
- Elas já estão aceitas, não se preocupe. - sorrindo, eu o beijei outra vez. Jacob então colocou as mãos em minhas pernas, ao mesmo tempo em que ele ficava de pé e me ajeitava em seu colo. Eu envolvi meus braços ao redor de seu pescoço, e de alguma forma que só ele sabia, Jacob me carregou até meu quarto, batendo a porta atrás de nós com o pé, e me deitou sobre a cama.
Eu tinha fechado as janelas e as cortinas antes de sair de casa, então agora estávamos quase que totalmente no escuro. A pouca luz do dia que conseguia atravessar as janelas e as cortinas nos iluminava fracamente.
Jacob estava por cima de mim, e eu imediatamente lembrei da primeira vez que ele me beijara, exatamente no mesmo lugar em que estávamos agora. Ele apoiou um braço de cada lado da minha cabeça, no colchão, para não jogar seu peso todo em cima de mim e, depois de abrir um sorriso, voltou a me beijar. Eu passei meus braços ao redor de sua cintura, honestamente sentindo que tudo não podia estar mais em seu lugar certo.
Mas foi aí que me atingiu. Entre Jacob enfiar sua mão por debaixo da minha blusa e mover os lábios para o meu pescoço, eu percebi a uma coisa que estava faltando. Só faltava uma peça do quebra-cabeça.
Juntando uma coragem que eu achava não ter, ou pelo menos pensando que eu estava juntando essa coragem toda, eu fiz com que ele parasse de me beijar e me olhasse nos olhos - acredite, foi difícil juntar a vontade de fazê-lo parar de me beijar. Ele pareceu confuso por instante, e eu o empurrei devagar, fazendo com que ele se sentasse. Me sentei na cama também, e me inclinei até ele, respirei fundo.
Eu dobrei minhas pernas, ficando sentada por cima delas, praticamente ajoelhada sobre o colchão, e Jacob apoiou os braços nas pernas, os pés no chão. Ele tinha a cabeça virada em minha direção.
Eu queria de toda e qualquer forma desviar o assunto, voltar a beijá-lo, me concentrar em qualquer outra coisa que não fosse fazer o que eu estava prestes a fazer. No modo mais simples e direto de falar, eu estava morrendo de medo. Mas o que Sam dissera finalmente parecia ter feito sentido na minha cabeça: não era justo. Não era justo que eu soubesse disso e mantivesse guardado. Não quando eu sabia exatamente dos sentimentos de Jacob. Ele me amava.
- Eu também te amo. - disse, ao mesmo tempo em que colocava uma mão sobre seu peito. Ele abriu um sorriso grande e veio em minha direção, me beijar outra vez. Eu neguei com a cabeça. - Espera. - e fechei os olhos. - Preciso mesmo me concentrar, isso é... É bastante importante. - o silêncio foi a resposta de Jacob, e eu me obriguei a destrancar minha mente.
Assim que o fiz, senti um certo alívio, algo como tirar um peso das minhas costas. Manter os pensamentos trancados trazia um certo peso, um desgaste de energia constante. Eu busquei o imprinting. Inconscientemente, eu sabia que o guardava na parte mais escondida que eu pudesse achar dos meus pensamentos, e quando finalmente consegui trazê-lo a superfície, eu não tive coragem de abrir meus olhos.
Eu estava me sentindo incrivelmente leve, e não tivera noção de quanto peso eu carregara até agora, que ele estava fora de mim. As sensações do imprinting, mais fortes agora que eu não estava mais bloqueando-o, não eram exatamente novidade para mim. Mas eram para Jacob.
Senti as mãos dele, em minha cintura, ficarem contraídas. Senti sua respiração pesada, seu coração acelerado, ele parecia ter levado um susto. Na verdade, eu tinha certeza de que ele tinha levado um susto. Enquanto em meu corpo eu tinha todas as borboletas no estômago e o frio na espinha com os quais eu meio que me acostumara. Eu estava tendo um imprinting, e ele também.


Capítulo 12 -
IMPRINTING.

(Capa.)

(Pra quem quiser ler com música acompanhando, a música nesse capítulo é bem no início. As opções são Beyoncé, "Smash Into You" ou Paramore, "I Caught Myself". Se quiser Beyoncé, clique aqui. Se quiser Paramore, clique aqui. Carregue o vídeo e, quando estiver pronto, dê play e acompanhe lendo!)

Uma luz forte estourou lá fora, atravessando a janela e nos iluminando completamente por uma fração de segundo. Em seguido, o som alto de um trovão que caíra próximo se fez em nossos ouvidos. Não demorou mais do que alguns segundos para que o som da chuva forte que começara a cair viesse em seguida.
Eu abrira meus olhos, e agora encarava um Jacob de olhos fechados. Ele provavelmente estava tentando absorver o imprinting, eu já me acostumara com todas aquelas sensações que ele estava tendo pela primeira vez.
Jacob abriu os olhos quando o trovão caíra. Ele me olhou, a expressão indecifrável, e eu prendi a respiração... Era exatamente aquele momento que eu tanto temia, aquele exato instante em que eu esperava pela sua reação. Podia ser qualquer uma. Podia ser boa, podia ser ruim... Então ele sorriu. Um sorriso gigante, aquele sorriso dele que eu tanto sentira falta.
Me concentrei nos cantos dos seus lábios inclinando-se para cima, nos seus olhos ficando menores, nas pequenas e quase invisíveis marcas que apareciam... Observar seus músculos se contraindo em um sorriso parecia tornar a situação mais real, mesmo que só um pouco.
Mesmo que a ficha não tivesse caído completamente, eu não esperei que ele me beijasse. Eu sorri de volta e o puxei por colocando minhas mãos em sua cintura. Colei nossos lábios e senti o primeiro de muitos frios na espinha que eu ainda sentiria. Ele me beijou de volta, mais intensamente do que antes, suas mãos envolvendo minha cintura e passando para minhas costas.
Seu toque parecia muito mais incrível agora que o imprinting agia sobre nós dois. Eu me sentia leve, no lugar certo, com tudo certo, e debilmente feliz pelo fato de que ele concordava com tudo aquilo. Eu estava surpresa por ele ter apenas sorrido como resposta, mas uma parte de mim dizia que era exatamente isso que Jacob faria, pelo menos como uma reação imediata. Ele não era tão complicado assim.
Agora, eu sentia uma força invisível me puxando em sua direção. Ele era como um ponto de fuga que dava início a todas as outras coisas, era como uma base. Seus braços grandes e fortes me envolviam, e suas mãos passeavam livres pelo meu corpo, assim como eu deixava que as minhas fossem para qualquer parte alcançável dele. Era como a primeira vez que eu o vira, só que agora tudo parecia melhor porque não tinha segredo, nem surpresa nenhuma. Éramos só nós dois. Seus lábios sobre os meus, sua língua explorando minha boca... Jacob me inclinou em direção ao colchão, fazendo com que eu me deitasse de costas. Minha cabeça encontrou o travesseiro, e eu assisti Jacob se afastar só o suficiente para ficar quase sentado.
Sem tirar os olhos de mim, levou as mãos até a barra da camiseta que usava, tirando-a segundos depois. Eu senti meu rosto esquentar, provavelmente muito vermelha, e mordi o lábio inferior ao vê-lo sem camisa, dessa vez sem desculpas para não olhar o que estava bem na minha frente. Ele soltou uma risada pequena ao me observar, e então levou uma das mãos até meu rosto, me beijando de leve e deitando-se sobre mim. Faltou o ar quando senti seu corpo sobre o meu, não porque eu sentia o peso, mas porque eu nunca estivera tão próxima de alguém com tanto roupa sendo jogada pelos cantos do meu quarto.
Eu coloquei minhas mãos sobre seus ombros, descendo-as devagar e sentindo em seus beijos sua vontade. Eu estaria mentindo se dissesse que não queria deixar minhas mãos passeando por ele. Eu não ia ser idiota a ponto de não dizer que estava exatamente onde queria estar. Ele levou suas mãos até a barra da minha blusa, subindo-a, e eu só ergui meus braços para que ele a tirasse, assistindo o tecido voar para alguma parte do meu quarto. Jacob se afastou por um instante, me observando e sorrindo. Eu não podia dizer que agora estava envergonhada, porque eu também não tirava meus olhos dele.
- Você é linda. Mesmo. - ele disse, e meu sorriso foi sua resposta. O puxei para perto de mim outra vez, minhas mãos em sua nuca, brincando com seus cabelos, puxando-os às vezes. - Você não fica por menos. - sussurrei em seu ouvido, e sorri quando ele pareceu animado demais com minha fala e em como eu havia dito.
Ele começou a brincar com a alça do meu sutiã e eu sorri.
- Certo, não é exatamente hora para brincadeiras. - ele disse, rindo, e eu o beijei outra vez. Suas mãos fizeram as alças do sutiã caírem, e então ele as levou até as jeans que eu usava, e eu as senti deslizarem... Seu toque e seu beijo só ficaram mais intensos, eu só senti mais calor e o imprinting forte demais.
Juntei o que restava da minha vergonha e o joguei fora, colocando minhas mãos na jeans que ele usava.
Não era como se eu precisasse de qualquer outra coisa. Era estranho pensar que aquilo era quase uma definição de algo perfeito.

Eu só consegui abrir meus olhos quando senti os lábios de Jacob sobre os meus. Ele soltou uma risada abafada, e entrelaçou sua mãos com a minha, me fazendo chegar mais perto dele e me aninhar em seu peito. Eu mordi meu lábio inferior, e respirei fundo, soltando um murmúrio sonolento. Não havia mais barulho do lado de fora, a chuva cessara. O Sol começara a se pôr, e eu tinha perdido completamente a noção da hora.
Eu estiquei meu pescoço para poder olhá-lo, e sorri quando ele sorriu para mim.
Eu não sei quanto tempo ficamos em silêncio. Ali, parados, de mãos dadas e com os olhares fixos. Eu sentia tudo tão bem, como se finalmente tudo estivesse no lugar certo. Não era exatamente como se o silêncio me incomodasse, mas eu precisava de uma reação dele. Ele ainda não tinha dito nada. Mas foi como se ele tivesse lido meus pensamentos:
- Por que demorou tanto pra me contar? - Jacob não podia ler meus pensamentos quando na forma humana, e só podia ler quando lobo caso eu deixasse. Mas ali, apenas separados por um cobertor, um lençol, e vestindo apenas roupas íntimas, eu não acho que tínhamos mais qualquer coisa a esconder.
Eu me afastei dele para poder olhá-lo direito, e soltei uma risada quando ele não deixou que eu me afastasse demais, me segurando forte pela cintura. Apoiei minha cabeça no travesseiro, deitando de lado e de frente para ele, e dei de ombros.
- Eu fiquei com medo. - comecei, e o assisti franzir a testa, enquanto sua mão acariciava minha cintura. - É, eu tive medo de que... Bom, eu não queria te prender a mim só por causa de um imprinting. Eu achava que você tinha direito de, se realmente quisesse, ficar correndo atrás de Bella, se era dela mesmo que você gostava. Na verdade, eu estava bastante convencida disso, até que você começou a falar, andar e conversar demais comigo e complicou tudo. - soltei uma risada abafada nessa parte. - Eu fiquei em dúvida o tempo todo, eu queria te contar mas tinha perdido a coragem. Eu achava que, se te contasse, podia estragar qualquer coisa que pudéssemos começar. - Jacob abriu a boca para dizer algo, e eu balancei a cabeça. Agora que eu tinha começado, eu ia terminar de falar. - Eu tentei te contar na noite em que você me pediu em namoro, mas eu desisti na última hora. Sam descobriu, não me pergunte como, e passou a me encher todo santo dia pra te contar, porque ele disse que era injusto que você não soubesse. E então tivemos aquela briga e eu achei que não precisava de mais nada me provando que eu não tinha que te contar mesmo.
- ...E quando eu apareci hoje você mudou de idéia? - a voz dele era baixa e tranquila. Não era irritada.
- É. Eu percebi que era mesmo injusto que você não soubesse. - ele riu, e eu ergui uma sobrancelha, tentando achar a graça. Ele rolou os olhos.
- Sabe, é isso que é tão divertido em você. Ninguém por aqui diria "eu não queria te prender a mim só por causa de um imprinting". Aliás, nem você deveria dizer isso. Não é só um imprinting. É a uma coisa que nos une mais do que qualquer coisa. É bom, e se é pra acontecer...
- Jacob, nem adianta. Eu prezo muito o livre arbítrio. - ele riu, e eu sorri, me inclinando até ele e o beijando.
- Certo, tudo que eu preciso pra perder meu livre arbítrio então é dizer que te amo? - eu rolei os olhos, divertida.
- Sabe, se a gente quer mesmo que o livre arbítrio continue nosso amigo, a gente devia ficar mais apresentável. Meus pais não devem demorar muito mais. - ele soltou um "Oh!" e pareceu lembrar onde estava, como estava e o que tinha acontecido realmente. Eu me enrolei no lençol e me sentei na cama. Fiz um gesto para ele, indicando a parede.
- O quê?
- Anda, olha pra lá. Preciso trocar de...
- Ah, qual é, . Não precisa, eu já vi tud...
- Jacob Black, eu sei muito bem o que você viu, mas eu estou mandando! - eu não estava a fim de ficar vermelha de novo. Ele rolou os olhos e virou para o outro lado, e eu joguei um travesseiro em seu rosto quando levantei. Ele riu, mas não o tirou de lá.
Me arrumei em alguns segundos, colocando shorts e uma camisa de manga comprida, e então andei até a porta do meu quarto. De lá, falei para ele se arrumar e fui para a cozinha.

Ok, e agora eu estava sozinha. Jacob provavelmente não demoraria, mas qualquer um minuto sozinha já era suficiente para eu começar a pensar. Claro que as lembranças frescas demais do que tinha acontecido no meu quarto não ajudavam muito a manter meus pensamentos em ordem, e eu inevitavelmente me vi sorrindo. Mas eu não tinha motivos para não sorrir, certo? Tudo estava certo de novo, e mais certo do que da última vez, porque enfim eu tivera coragem de contar o que precisava, e Jacob também.
Eu comecei a abrir os armários da dispensa, em busca de alguma coisa para comer, e acabei fazendo pipoca. É, meus dotes culinários podem ser podres de vez em quando.
Jacob saiu do meu quarto passando as mãos nos cabelos molhados, desarrumando-os. Ele tomara banho, e agora vestia as mesmas roupas de quando aparecera na minha porta, algumas horas atrás, e eu tive mesmo vontade de pular em cima dele e beijá-lo. Eu não podia negar que era bom demais.
- Hey! Qual é nosso cardápio? - ele perguntou, sorrindo, e sentou num dos bancos da cozinha. Eu apontei para o pote de pipoca, e me sentei de frente para ele. - Uau! - nós dois rimos, e eu enchi minha mão de pipocas enquanto pegava o controle da tv. Acabei ligando numa reprise de Friends.
- Sabe, você também é bastante divertido. - eu disse, subitamente, e ele desviou os olhos da tv para me olhar, confuso. Eu sorri. - Eu finalmente te conto um segredo que guardei de você por muito tempo, mesmo quando ele era extremamente íntimo quanto é, e você nem ficou puto comigo.
- Seu vocabulário me encanta. - eu rolei os olhos, e ele riu.
- ...E você nem ficou irritado. Soa melhor, querido? - ele fingiu que pensava, e depois soltou uma risada divertida.
- Por que eu ia ficar puto com você? Eu também escondi que te amava, não? - eu suspirei.
- Você descobriu que me amava mais tarde do que eu entendi que tivera um imprinting. - Jacob juntou algumas pipocas na mão e as acertou no meu rosto.
- Agora é questão de quem fez primeiro? - ele brincou, e eu mostrei a língua para ele.
- Você me entendeu, Jake!
- Vou fingir que não. Eu não fiquei puto e você consegue bloquear o imprinting. Eu te amo, você me ama. Além do mais, eu imagino como deve ter sido complicado ter um imprinting quando você nem sabia que isso existia. - concordei com um aceno da cabeça.
- Cinco pontos pra você. - comentei. - As coisas só fizeram sentido mesmo quando eu descobri que podia bloquear pensamentos. Até lá, eu achava que tinha conseguido ter tido um imprinting "lateral". - Jacob riu.
- Talvez eu tenha tido algo como um impriting na primeira vez que te vi. Você não o bloqueou de imediato. - eu ergui uma sobrancelha e balancei a cabeça, concordando lentamente. Não tinha pensado nisso.
- Deve ter sido por isso que ficamos parados na minha cozinha com cara de idiotas. - Jacob sorriu.
- Olha só, pra você ver... Eu te amo tanto que tô até comendo essa pipoca horrível. - ele ergueu duas pipocas que estavam um pouco queimadas, e eu levei minhas mãos até minha boca. - Não acredito que você disse que minha pipoca é horrível.
- Não acredito que eu digo que te amo e você reclama da pipoca.
- Você não pode usar desse artifício sempre, uma hora eu já vou sabe demais que você me ama.
- Oh, tudo bem, tem tantas garotas por aí esperando eu dizer que as amo... - ele disse, num tom de voz sonhador e brincalhão. Eu rolei os olhos.
- Sabe, você pode ver Bella quando quiser. - mudei de assunto completamente. Ele franziu a testa. Se eu ia falar isso, era melhor eu simplesmente falar de uma vez e ele guardar na cabeça, porque eu não ia repetir.
- Como é que você consegue ser tão aleatória? - eu semicerrei meus olhos. Ele deu de ombros.
- Certo, então. - soltou uma risada. - Não se preocupe com isso, Bella nem fala mais tanto comigo ultimamente.
- Edward é um cara legal. - peguei Jacob de surpresa e, se não tivesse tanto noção do quanto Edward estava fora de sua lista de pessoas (ou criaturas, como preferir) que ele não queria matar, eu teria rido.
- Como assim ele é um cara legal? Você nunca...
- Fui a Port Angeles ontem, ele estava lá. Nós conversamos. - percebi que Jake queria dizer alguma coisa, mas pareceu desistir e suspirou. - Ele podia ter me dito lá sobre seus sentimentos, porque acho que ele leu seus pensamentos, mas tudo que disse foi que você gostava mesmo de mim.
- É, acho que agora não tenho mesmo porque odiá-lo.
- É, eu não tenho interesse nenhum em sair com ele. - gargalhei da expressão séria que Jacob assumiu, quando ouviu meu tom de voz fechado. - Certo, desculpe. Eu te amo. - me inclinei em sua direção, empurrei o pote de pipoca entre nós com uma mão, e o beijei, sentindo-o sorrir.
- Você não pode consertar tudo dizendo que me ama. - ele murmurou, entre um beijo e outro.
- Posso consertar algumas coisas. - ele riu outra vez.
- E, por favor, nada de bloquear o imprinting de novo.
- Tá brincando? Eu vou te ameaçar com isso pra sempre.
- Droga, eu perdi o controle da relação.
- Perdeu feio, Black. - eu me afastei, sorrindo convencida.
- Não é que certas coisas te deixam mesmo de bom humor? - ele riu da própria piada, apontando com a mão para a porta do meu quarto, e eu me fingi ofendida, mesmo sem conseguir segurar o riso.
- Seu babaca! - ele rolou os olhos, colocou mais algumas pipocas na boca. - Sério, Jake...
- Muito obrigado, . - ele respondeu, num tom exageradamente educado. Eu sorri. - Eu acho que preciso ir.
- Hã? - fiquei confusa pela mudança de assunto, e procurei o relógio na parede. Ah, é, ele devia ir. - Vai...?
- Vou. - ele respondeu, e eu mordi o lábio inferior. Não importava o quanto todo mundo me dissesse que Jacob sabia se virar sozinho, eu não podia dizer que não me incomodava ele virar a noite procurando uma vampira lunática. Certo, eu não podia fazer muito mais.
Ele ficou de pé, me esperou para me abraçar pela cintura e andar comigo quase caindo até a porta. Nós dois rimos, e paramos do lado de fora.
- Então, te vejo amanhã?
- Venho te buscar. - ele se inclinou em minha direção, colocou as duas mãos em meu rosto, e me beijou. Eu passei meus braços por sua cintura, me sentindo quase perdida nele. - Eu preciso mesmo ir. - ele murmurou, entre um beijo e outro. Eu soltei uma risada pequena, concordando apenas com um "Uhum" e o beijando outra vez. E outra, e outra... Nós dois rimos. - Certo, ok, vai lá. - com um último beijo, ele me soltou, me deu uma piscadela e girou nos calcanhares, logo começando a correr em direção à floresta. Eu suspirei, sorrindo feito uma idiota, e o assisti até ele sumir do meu campo de visão.
E lá ia o meu namorado/alma gêmea/a melhor coisa que eu ia encontrar pra mim/a uma pessoa com quem eu ia querer passar minha vida com/o um ser que estava conectado comigo por magia. Deus do Céu, a gente não podia só gostar um do outro.
Eu entrei em casa rindo de mim mesma, e surpresa com o fato de que eu estava sorrindo mais nas últimas horas do que nas últimas duas semanas.


22 comentários:

  1. Adorandoooooo a fic!!
    Está maravilhosa e já estou louquinha pela aparição do meu lobinho, ai, ai...
    Bjssss!!!

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  2. \o/ sou a primeira loba uhul \o/ já estou louca por mais..essa bella sempre atrapalhando a vida dos outros não sei não viu....mas qdo o deus grego do jacob vai aparecer hein???logo né??? a PP bem que podia dar uns tapas na Bella né,de leve só...sou louca por isso não gosto da bella por tudo que ela fez ao #lindomaravilhosodeuso do Jacob...
    Bom posta outro cap logo porque to morta de curiosidade.. amando amando a fic.
    bjosss

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  3. Aaaaaaahhhhh .. Jah tinha começado a ler a sua fic em outro site. Pena que ele teve qe fechar, desde aquela época eu me apaixoneei por ela. .. Qe bom que vc voltou a postar ... vou fik acompanhando ...

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  4. Amei sua fic, já tinha começado a ler ela em outro site! Ansiosa pelos próximos :)

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  5. NEM ACREDITO QUE ESSA FIC TA AQUUI ! cara tb ja tinha começado a ler pelo outro site, ai ele fechou e báh. AAAAAAAAAAAH adoro suas fics . de boa. \o/

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  6. Ahhhhhhh eu amooooo essa fic eu tava lendo a parte 2 em outro site. Mas ele fechou :( vou poder acompanhar ela de
    novo yupiiiii

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  7. Omg!! Adooooro essa matilha!! Eles são uns verdadeiros protetores e muito bons amigos.
    Ahhh, eu sofri o imprinting pelo meu lobinho, né?! E pelo visto o único que notou foi o Sam. Ai, ai... por que raios o Jake não sofreu ou se sofreu por que anda tão distante, ah, só falta ser por causa da maldita songa monga. Aff!!¬¬
    Amandoooooo e louquinha por mais, bjsssss!!!!

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  8. *.* como esses meninos são fofos cuidando da PP *.* mas agora preciso saber... foi mesmo um imprinting entre a PP e o Jacob né??? ou não??ela só ficou encantada com o corpo escultural dele, olhos penetrantes e sorriso de dar inveja ao sol??? e se foi pq ele não disse nada??? ele sente o mesmo???quantas perguntas na minha cabeça, vou ficar louca....
    Morta de curiosidade pra saber o que vai acontecer agora, ou vou ficar literalmente doida com tantas opções do que pode acontecer na minha cabeça.
    *.* por favor post outro cap. logo, já estou roendo as unhas e desse jeito vou ficar sem elas.kkkkk
    Estou amando flor...
    bjos

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  9. Omg!! Como é linda a relação da PP com os Quileutes e com o nosso moreno.
    Eles estão se envolvendo aos poucos e já se nota o quão ligados eles estão.
    A PP tem muitos mistérios... por que será que ela consegue bloquear os pensamentos? E agora ela teve esse sonho que mais foi um premonição do perigo que estava por vir. Ehhh, nossa lobinha não é uma lobinha qualquer. rsrsrsrs
    E esse beijo? Meu deus, fui ao céu...
    Adorandoooooo, bjssss!!!!

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  10. Oi ja tinha c
    lido parte da fic em outro site q parece estar mais adiantado só q nao tinha terminado de ler, pois moro no interior de pernambuco e aqui internet é dificil e leio pelo celular e as vezes não consegue baixar tudo e fica faltando parte da fic . Eu adorei essa fic vc escreve muito bem.
    Bjs
    rayanne kelly

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  11. Omg, três belíssimos capítulos... oh, meu deus que estória é essa da PP, heim?! Que antepassados... Não é a toa que ela tem o dom de bloquear e ainda por cima sonhar com vampiros. Nossa PP está mais do que ligada aos sanguessugas... pelo menos de alguma forma. ¬¬
    Ela conseguiu a proeza de bloquear o imprinting, mas isso está lhe causando uma bela dor de cabeça...
    Aff, quando ela e Jacob estão, anfim, se entendendo lá vem a Bella songa monga de novo perturbar, ain, ninguém merece...
    Ehhh, vai demorar mais um pouco até que ela tenha confiança o bastante para confiar em Jake e liberar a magia. Isso com certeza vai deixar o Jake bem irritado. Já estou vendo tudo ¬¬
    Amandooooo demais a estória, bjsssss!!!!!

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  12. Vamos lah!! Leitora nova aquiee!!! Eu sou burra ou que??????? Serio como eu posso ser insegura o suficiente para esconder de Jacob o nosso imprinting ??????? Argh! E a songa monga tem que chegar justo agora? não podia esperar eu criar coragem não? ah vai ver se eu to na esquina!! Fic muito boa apesar de já ter lido algo assim em algum lugar. (Não é plagio eu só leio varias fics ao mesmo tempo em vários sites e blogs. as vezes as ideias não parecidas apesar de as fics nunca serem iguais.) To gostando do desenrolar da estória mas preciso ler um pouco mais para ter uma opinião certa. Posta mais eu vou continuar lendo!!

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  13. Olá..
    Ana adoro suas fics e já terminei de ler air and sun em outro site e tô lendo de novo aqui... mas eu queriiia muuuito atualização da parte 2... rsrsrs

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  14. Wow!!! Mais três capítulos de tirar o fôlego. Ain, simplesmente perfeitos demais!!!
    Enfim, depois de muitos desentendimentos e sofrimentos, o nosso casal encontrou a felicidade. Omg! Eles realmente foram feitos um para o outro, nossa, eles são terríveis. ¬¬ Vão ser orgulhosos lá na china.
    Mas depois de muitos palpites dos amigos e até de um vampiro, eles conseguiram conversar e Jake finalmente se declarou. Ain, e que declaração lindaaaaa!!! Omg! Surtei aqui!!!
    Depois de uma declaração maravilhosa daquelas já era mais do que na hora da PP liberar o Imprinting. E mais uma vez o Jake foi um fofo, aceitou a magia numa boa e ainda teve uma noite esplêndida. Tudo, enfim, deu certo e eles estão juntos. Não sei até quando, mas estou amandooooooo essa notícia.
    Amandooooooo demais a fic, bjsssss!!!!

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  15. Nossa que capitulo masi lindo e romantico!!!! Que declaração maravilhosa! Estou anestesiada com essa ficção! lindissima, parabens.

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  16. omg!!! Sem palavras que fic lindaaaa!!! foi muito fofa a declaração do jake e o imprinting, então? fiquei emocionada. parabéns e continue postando + cap please. bjinhos.

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  17. Adorei a fic maravilhosa mesmo *_* Espero q continue logo bjs

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  18. Continue postando! Continue postando! Continue postando! Continue postando! kkk OMG!. Eu adoraria mais momentos como PP em forma de loba, literalmente quase todas as fics não mostram esse lado tão completo muitas vezes até nem se prendem no lado loba da PP. =/
    A fic está M A R A V I L H O S A! #iloveit. A amizade fraternal entre os outros lobos da alcateia está divina e adorei a história e o desenrolar >completo< dela, sem cortes ou coisas más escritas.
    Beijocas

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  19. Gostei muito. TIPO MUUUITO. continue postando

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  20. Essa fic acabou ou vai ter continuação, acho ela perfeita dmais, já perdi a conta de quantas vezes já li

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